A Tapioca da Senhora Euforia Perpétua
Hoje a melodia é simples. Feito parlenda. Criança entende melhor ainda. Concluo com o auxílio de Pascal Bruckner, no Ensaio Sobre o Dever da Felicidade, ao sabor de "O croissant da Senhora Verdurin". Era mais que preciso, exato!, transcorrer em algum momento sábio sobre a própria "Madonna mia", "mi dulce paradiso". Dá corda Pascal: "o segredo está em troçar da felicidade, nunca a procurar enquanto tal, acolhê - la sem que nos interroguemos se é merecida ou contribui para a edificação (pôxa) do gênero humano".
Não dava pra dizer que bom mesmo é rir da própria "desgraça" ? No sentido figurado e literal, claro! Aliás, tudo isso me deu uma fome danada. Vontade de ir à cozinha "comer um pão com manteiga", como se celebrasse em Felicidade Clandestina. Vontade sentir o prazer que dá ao ler Epicuro:
"Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo".Tô ficando mais jovem cada vez que creio. E mais incrédula também.
Parece mais ou menos assim, como na canção de Bob Dylan, de 1966: " Os sinos rachados e as cornetas enferrujadas, gritam na minha cara com desprezo, mas não nasci para perder você". Fiquei muito simples ? Muito sem disfarçatez ? Está ficando fácil decifrar... Qual a graça ? Nenhuma, né ?! O riso ficou frouxo de repente. Nervoso!
Pior é aquele aperto dizendo que tudo é tão incerto quanto doçura de fruta inteira e com casca comprada no mercado aqui pertinho. Pascal Bruckner contesta: "À felicidade propriamente dita, podemos preferir o prazer como um breve êxtase roubado ao curso das coisas, a vivacidade, essa embriaguez ligeira que acompanha o desenvolvimento da vida, e sobretudo a alegria que implica surpresa e elevação". Quisera eliminar o "sobretudo"! Só se a tal fruta fosse roubada do mercado. Concorda comigo ? Até porque não vai mesmo se revelar tão doce com o passar do tempo. E ela continua, vai continuando, continuando...Pascal também:
"Pois nada rivaliza com a irrupção na nossa existência de um acontecimento ou de um ser que nos destroça - é isso ? - ou que nos encanta". Pouco importa. Se encanta ou destroça. Pelo jeito, pouco importa. A gente é feliz, sendo amado, de todo jeito. E não pára. Pior é párar. Fiquei tonta. Juro, fiquei mesmo tonta!
Quem disse que a estrada da razão e da virtude que leva ao regaço da felicidade ? Foi Giannetti, lembro agora. Eduardo Giannetti. Reproduzindo Condorcet, por apenas citar que "o progresso das artes mecânicas trará um novo padrão de conforto e felicidade". Tudo isso, porque inventaram o computador, o blogspot e aquele refrigerante que tem "gosto de esmalte de unhas e sabão Aristolino" e que faz de quem bebe ser "hoje". No bom humor de Clarice. Ácido. E borbulhante de fato. Capaz de fazer cócegas embaixo do nariz. Pode haver mais caminhos, Eduardo!
- Giannetti, por favor...
Tudo parece tão cheio de caminhos como trilhas em lugares "inexplorados" como a Chapada Diamantina. Perdida e com uma euforia que parece fraquinha e com cara do que logo logo vai ter fim...Não vou derramar lágrima por essa felicidade. Aprendi. Sou triste quando encontro algo tão feliz assim. Felicidade igual a saborear tapioca e matar fome de dias inteiros depois de abandonada por mim mesma ao ser clara e simples assim. Vou logo dizendo que quero ser cremada e para velar nada de cadáver. Bastam todas as fotos e vídeos que agora vão virando instantes de vida para serem visto no dia da minha sorte. Quis dizer morte.
Vamos lá, Bertrand, para você não foi tão fácil assim...tão divertido ser expulso de Nova York nos anos 40, por acreditar no "casamento livre", só para saber se a união valeria a pena. Eu fui ficando com cabelo e jeito de francesa. Justo eu que prefiro tapioca a croissant! Uma coisa ficou bem evidente. Essa felicidade é tão pouco minha e tão de tanta gente, que quase não sobra linha para faltar letra em itálico. Deitadinha assim. No final, a grande e única certeza é mesmo a felicidade de estar aqui. Não vou morrer enquanto esses dedos longos que falo tanto em abandonar, em inglês, ainda estiverem aqui.
Às vezes, porque ser feliz é simples. Eu juro, sem controle remoto na mão. Se falta tudo, quando se tem alguma coisa já é mais do que quando não havia motivos para sorrir. E eu não estou me achando de fato. Não tenho morangos sobre a mesa. Eu sei! Mas tenho tangerinas. Aos bagos. Sei que estou me perdendo, eu sei. Mas na minha lógica obscurecida e iluminada, ainda resta espaço e tempo hábil para saber um pouco mais sobre essa "Alegria Muda" que vai ficar para sempre porque foi escrito e pode ser lido. Bem aqui.
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