Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Wednesday, February 24, 2010

Até as minhas veias suportarem, acenderei esse ponto de pólvora. Tenho um extintor como ouvinte. Neste pequeno muro erguido em frente à minha porta. Eu e minha escuta diminuta. Minha escrita torta. Por que me pergunto tanto sobre o amor e seus vazios? Por que nunca me parece preencher todos os espaços? Como posso olhar para tua ternura, se a minha escapa por esta alma fragmentada? É, ao final, um sentimento de bicho, de felina, que me faz subir no muro. Talvez porque queira olhar um pouco mais do alto.

Então subo na árvore e você deseja que quebre uma perna. Deseje-me sorte apenas. Como eu alimento por ti os melhores desejos. Os mais positivos. De sucesso e glória. Em busca da força que ainda credito a mim mesma, vou acendendo esse ponto de pólvora, até as minhas veias suportarem.

Tuesday, February 16, 2010

Respirava profundamente aquele ambiente que criaram no momento do encontro. O cheiro tão próprio da junção de dois corpos. Aspirava para impregnar em si mesma aquele lugar tão vasto. Uma seara. E ele emitia espécie de barulho que reproduzo. Um urro para o alto. Que nela reverberou em resposta: Uau...
Subiu no caminhão. Tinha pressa. Queria chegar logo para encontrar um tudo novo. Tinha tanta pressa que subiu. Para amainar o ambiente da cabine pergunta sobre a carga para o caminhoneiro. "São sapatos", respondeu. Era sua carga. De sapatos ficaria em algum lugar. Ela e quem o aguardava em sua pressa.

Anjo Caído


Noite dos tambores silenciosos. Luzes se apagam. Fogos são arremessados para o alto e aquele anjo caído bodeja em meu ouvido. Seu tom de voz, sob efeito de "drag-and-drop". Ele sussurrando dizia-me do desejo de beber-me inteira, ali mesmo, em meio aos corpos suados.

Foi com muita coragem que enfrentei o anjo. E contive seu desejo por mim. Deu a si mesmo um nome tão áspero que emudeci. Mas encarei sem medo seus olhos verdes e vivos. Tão vivo era o anjo caído quanto suas mãos quentes e graúdas. Inquietas.

É pequeno o meu corpo inteiro para as tais mãos... E ele continuo com o seu grunido em meu ouvido, dizendo coisas que Deuses não duvidariam porque assim o conheceram. Antes de perder suas asas e descer ao mundo dos homens, este anjo cumpria missão abissal no Olympo. Entre todos os supremos seres divinos ele era responsável pela segurança da grande Hera. E se perdeu no convívio forçado. Perdeu a confiança do grande Zeus, irmão e marido da figura de mulher marcada pelo ciúme e pelo uso abusivo do poder a ela investido.

A este anjo não foi dado o perdão. Nem notoriedade a seus atos condenáveis. Silenciosamente foi enviado para outra dimensão onde ninguém jamais teria notícia do acontecido e mesmo da sua existência. E assim, naquela noite de tambores, ensurdecido e ainda torpe por suas perdas, o anjo deu-se ao Pátio de São Pedro. Fixou sua força em meus olhos e me tomou nos braços como quisesse vingar mal que não cometi. Confundiu-me com Hera em minha força de genitora e por uso da pena e quis passar seu destino a limpo.

Enfeitiçado que estava ainda pela imagem da Deus rixosa confundiu-me sem que houvesse tempo para esclarecer o mal entendido. Tomou-me nos braços fortes feito grandes troncos de árvores e apertou seus lábios contra meus ouvidos. Naquele momento exato de fogos ao alto ele mesmo explodia e por tudo queria depositar em meu corpo seu apelo de gozo. Erguia-me roçando meus seios, umbigo e coxas por seu dorso desejando com força beber-me ali. Eu suspensa já, com os pés fora do alcance do chão, erguida pelo anjo caído segurei seu desejo com meus olhos frágeis num apelo mudo de sorte outra que não aquela da troca. De tão inútil sentimento de vingança em outro corpo por pura troca.

Foi com coragem firme que enfrentei o anjo caído e seus olhos verdes vivos que despiam-me desde o primeiro instante que me fitaram. O encontro exalou um cheiro estranho entre aqueles outros corpos suados e despertou ali no meio do pátio um luminosidade vermelha de entranhas de cabra. Tingiu o lugar perfumando o entorno, deixando naquele carnaval uma centelha de fogo eterno acesa.

Wednesday, February 03, 2010

A filha me conta a história de amor de seus pais portugueses. Ele era tísico. E ela, seu Amor: "uma flor, em perfeito estado físico". Bem sabia, era pura ainda e moça com tudo se melindra... Por isso, o jeito que encontrou para "beijá-la" foi dar a ela conchinhas minúsculas, colhidas no mar. Guarda até hoje o tesouro e uma enorme valise. A doença fez a troca eternizada.
Como livro de uma única página espero que escreva em mim com uma só palavra. E o vento sopre o branco do meu vestido e você, com seu estilo, me faça imprimir a essência dessa mistura. Que nossa vida se construa em cada tijolo da pirâmide. Tu me liberta em movimento. E eu alimento a anima tua.