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Wednesday, July 05, 2006

"Partamos de duas teses em presença. A tese intencionalista é conhecida. A intenção do autor é o critério pedagógico ou acadêmico tradicional para estabelecer - se o sentido literário. Seu resgate é, ou foi por muito tempo, o fim principal, ou mesmo exclusivo, da explicação de texto (...) o sentido de um texto é o que o autor desse texto quis dizer. Um preconceito não é necessariamente desprovido de verdade, mas a vantagem principal da identificação do sentido à intenção é a de resolver o problema da interpretação literária:"

A Tese da Morte do Autor
Antoine Compagnon


Você se lembra daquela bola de gás hélio ? Balões em geral brilhantes, coloridos e de formas diferentes ou até bem presentes no nosso imaginário comum ? Lembra o que aconteceu com o primeiro desses balões dourados ou uma mistura de cor de rosa com prateado em forma de coração que ganhou ? Com aquela linha fininha que vem amarrada na ponta para prender o gás, por onde o vendedor lhe entrega o balão tão desejado, cobiçado e que provoca todos aqueles olhares de inveja em quem passa por perto ? Lembra o que aconteceu com o primeiro que você ganhou ?

Lembro que a linha fininha, recém - saída das mãos do vendedor, foi me escapando pelos dedos desastrados e compridos como as bolhinhas de mercúrio de um termômetro quebrado. Lembro que a linha foi deslizando entre as pontas dos dedos enquanto balaçanva no instante em que o balão ia flutuando e escapulindo ali bem diante dos olhos atônitos do adulto que pagou pelo objeto de desejo laminado...O vendedor não parecia tão preocupado. Sentia - se com o poder de "oferecer" e ganhar mais um pouco com a cena tão triste. Não fez sequer menção de auxiliar no resgate do bem adquirido.

E o balão foi subindo cada vez mais alto e brilhava cada vez mais inatingível e impossível de ser alcançado com os últimos raios de um sol mais vermelho daquela hora do dia que a tantos assusta. E que foi a hora em que nasci. Lembro que a sensação de frustação não seria apagada ou quedaria - se menor com a aquisição de outro balão colorido ou da mesma forma brilhante. Não havia mais balões em forma de coração...Também era a primeira vez que me interessava por alguém brinquedo na cor rosa. Embora rosas houvesse de todos os tons no jardim da casa onde eu morava.

Da mesma forma, lembro - me claramente do meu olhar fixo no balão colorido enquanto ganhava os céus. De como fui subindo junto com ele, levitando, até párar por instantes na cadeira mais alta da roda - gigante. Era finalzinho de tarde e estava no parque como tantas outras crianças que hostentavam seus balões de gás hélio. Enquanto o meu, havia se perdido. Eu havia deixado escapar...O adulto que me acompanhava ainda tentou consolar minha perda com outros brinquedos coloridos, jogos, algodão doce - que também era cor - de - rosa - e até uma maçã do amor. Igualzinha a da Branca de Neve.

Nada surtia efeito. Continuava paralizada, com os olhos e a cabeça virados para o alto observando o balão. E se um "super - héroi" aparecesse e recuperasse o balão para mim ? E se eu mesma criasse asas ainda poderia resgatá - lo das engrenagens da cadeira mais alta da roda - gigante ? Mas não foi bem assim. O balão cor - de - rosa ficou ainda por uma tortura de tempo naquela cadeira, lá no alto. Até que no primeiro giro para entrasse o segundo casal na segunda cadeira ao alcance da plataforma, o balão desprendeu - se e fugiu. Fugiu para um destino ainda mais alto. Subiu, subiu, subiu até "não poder mais", como o poeta que desse mesmo "modo" amava as mulheres...

O balão não volta. Não volta nunca mais. Até hoje ele continua subindo e flutuando pelo espaço. Perdido...Não volta nunca mais. Foi virando um pontinho minúsculo lá no alto e cada vez mais minúsculo quanto mais no alto se encontrava. Foram de muita magia também os minutos eternos em que esteve "preso" na cadeira mais alta da roda - girante. Parecia dançar uma música "minimal" tocada pela brisa leve. De um lado para o outro. Solto e preso ao mesmo tempo. E foi preciso me escapar também agora um sorriso para saber do valor do que escapuliu entre os dedos. Tanto valor e valentias e eu fiquei assim: distraída, desastrada.

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