Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Tuesday, June 30, 2009

Sono dos Justos

Escrevo na esperança de que me compreenda por um choro justo e honesto como do capitão Lúcio, da Seleção Brasileira. O sono dos justos não deveria estar reservado apenas a estes. Como nenhuma justiça há no mundo... Tal qual antena, sintonizo o canal e sigo. Sem pausa. Repouso com um olho aberto e outro fechado. Um nos filhos, outro na estrada. Mas esse estado de alerta tem cansado um pouco... Não, não me queixo. O juízo está no lugar certo. Jamais desceu aos pés. Mas embora adormeça sem vontade de dormir, acordo sem vontade de levantar.

Será que alguma palavra me escapou na tradução?

Posso estar acordada para muitos sentimentos bons. O problema é que eles parecem parte de uma espécie de teia e interligam-se de modo a provocar a maior interferência. Esse mundo não justo. Não, novamente, não me queixo. O fato é que não posso usar aqui uma palavra simples como cadeia. Deve haver uma melhor. Teia ao menos traduz também a fragilidade e lembra sua origem de ter sido cuidadosamente estruturada por um inseto feminino.

Foi o que escapou... Nem esperança, nem formiga. È difícil aqui descender com todas as letras do tal bichinho... Aracnideamente estou tecedeira. E o pior disso tudo é que o espírito ainda me parece preso. Voltei ao pavilhão errado. Hall de palavras que desperta sentimentos nada positivos. Recupero. Revejo e reverso.

Vou tentar ser um pouco mais justa comigo: acordo e ando até a cozinha. Ligo a chama e espero a água ferver. Irei ao banheiro, farei o café e o estado autômato assenta em mim. Vestirei a roupa de baixo combinando com a de cima. E as peças de dentro com as que vão fora. Tal qual o lenço que me vai ao pescoço. Método ajuda e com o passar dos anos fui ficando cada vez mais craque nisso. Escolho sempre a cor pelo dia da semana. E tento colorir esse mundo. Nem sempre consigo fugir do preto, branco e cinza... Perfumo os tecidos! E a rotina.

Dias tecidos assim, automatamente. Porque se essa palavra não existe precisava ser inventada. Ouso assim. O estado autômato não tem parentesco com automático. Não, não me queixo, nem desafino. Só vou tecendo cada fiozinho de dia. À noite, não durmo. Não me queixo, mas também não durmo. Não é justo. Comigo não é justo.

O outro olho, afora o que mantenho sobre os filhos, está na estrada ainda naquele espírito. Um certo cansaço... Antes, quando a dor era tão grande, buscava uma palavra que me salvasse. Hoje busco imagens. Como quem quer se salvar e apenas dormir, olho fotos antigas e teço idéias novas. A música continua aqui, nunca se foi. As mesmas que faz anos tocam para me ninar. Sempre soube que seria assim. O estado de ser eu mesma é às vezes vazio e na maior parte cheio de mim.

Não quis usar um tom tão maior. É azul... C’est un blue ... Parte das cores que vou sempre escolher para mim. Combina comigo como pão e vinho. Café com tapioca ou almoço sem jantar num domingo. Sei que a espera não estava mais cabendo em mim. E tanta tristeza pelo que não tive a chance de ter não me faria mesmo feliz.

Por isso inventaram um gesto tão simples para ir lendo até concluir um livro. Virar a página e ver que as palavras empregadas aqui não andam em círculos. Cruzam-se aqui e ali, mas o pano de fundo será sempre dacordafelicidade. Tolamente vi que este estado lúdico e infantil mesmo, é muito mais justo comigo. Talvez agora eu durma.

www.interpoetica.com

Friday, June 19, 2009

quero escrever como quem dança

meu outro desejo é pintar uma tela



sentir a tinta fresca no corpo

pular sobre ela com os meus

olhos fixos no algodão branco


enxergo ali a cor de uma felicidade

uma alegria ainda pálida e nua

um acorde nunca antes tocado



despindo essa escolha sua e ainda muda

não abandono a idéia de acordar comigo

tendo apenas dormido diante da tela

até onde imagino, é uma chance única...

e não é mais uma espera pelo brilho em mim

é apenas uma certeza cega e desperta...



não vejo apenas

olhos de corvos

são penas de pavão!

Ainda que meu corpo não trema,

ponho pingos nos 'is'...

com um sorriso e humor fino


não há regogizo, eu sei

digo com uma sinceridade

solta e sem compromisso



porque já tive coragem

de recitar entre poetas

e descobrir sem susto


os mesmos versos antigos

de um tempo que foi sem mágoas

tempo em que quem me acompanhava

desfez das palavras de Antônio Maria

e deixou a mulher amada

Wednesday, June 17, 2009


Passinhos ligeiros e quem sabe chego a tempo

Quarta feira é o dia mais agitado da semana

Muito compromisso. Nenhum espaço na agenda

Soneto corrido, sem emenda.



O presente muda

a cada instante.

O futuro ganha

Em cada intento



Meu desejo

Sou eu

Ao natural



Só eu me entendo

E quanto menos invento

Mas sigo em frente

Se a felicidade

É a sequência de agoras

No mesmo instante

Compreendo



Nenhuma vaidade, saudade, medio cridade

Nada de orgulho, angústia ou aperreio

Ou crença pela metade.

Sunday, June 14, 2009


Estou numa disciplina de bailarina.
Parece até que ainda lembro...
Ou que aprendi minha lição.





Vou continuar atinado.
Tino tem a ver com destino?
É minha única oração. Vou indo...




Que céu azul! Depois de tanta chuva que boa oportunidade de ir à praia.... As flores miudinhas da janela, amarelas, quase que brilham atravessando a película escurecedora. Brasil ganhou ontem: 3x1. E hoje vai jogar de novo. Pipoca pronta. Cerveja e guaraná gelados. E almoço em família. Hoje me deixei numa escrita corrida. Não interrompo mais o ritmo, nem a respiração. Ainda faltou dizer do cantinho de entrada da porta que coincide com a cozinha americana a carteira de cigarro que agora encontro no bar central. Tanto carinho que precisava agradecer aqui. Não fosse a correspondência, estaria desguarnecida. E ao invés de recolhida, numa noite de Santo Antônio, caminhando pela noite do Recife.



Saturday, June 13, 2009

Por que vieram?
Não soube de motivo.
Sei que deve haver
Perfume?
Digo?

Por que na Primavera?
Porque não há explicação
O inverno é somente frio
E o calor vem com o verão.

Por que a menina dos 'porquês'
Virou a mulher de um Outono...?
Porque visitou cada estação
Sentiu amor, dor, alegria, solidão

Mas hoje apenas sopram no ouvido
Preferiu a proteção, uma redoma,
Um umbigo de vidro. Nem soma
Nem subtração. Talvez multiplique...

Uma janela e uma porta entreaberta.
Saindo sempre de todos os lugares
Fixando nenhuma de suas partes
Prefiriu estar certa a não ter razão.

Mas deve ser o nono (!) vento que percebo
Ando afinando também com os números?
Pois então é fim de um ciclo. O derradeiro?

Somente significa poder voltar à superfície
Trazendo flores e fartura em forma de trigo...
Vinho e quem sabe figos. Feijão e framboesa.
Me parece grande perigo sair daqui
Desse lugar tão escondido que eu inventei

Seu abrigo? Não, um torpor, uma pálida escuridão.
Mas em todo tempo cego sobram pontos de luz
Coragem não é apenas o nome do motor da emoção
É muito mais ainda: fazer com medo e ir seguindo

Ir em frente com alguma dúvida e tensão muda
E conseguir, sem tanta proteção, atravessar a linha
Entre o querer bem e razão de uma criatura distante

Mas se emprego um tom sincero não predominam
As costumeiras armadilhas do meu cérebro?

Procure entender o equilíbrio dessas duas forças
O encontro entre a constância e o sentimento
O que for predominante e inevitável, perceptível,
Aquilo que com toda força empregada ainda escapa

Mesmo com todo o esquema que cerca
Inventado como engrenagem para evitar
E diluir o mais sincero impulso criativo
Aquilo que surgiu bem no início
Ainda no princípio de tudo, é honesto.

Depois de atravessar as circunstâncias
Haverá ainda há muito o que afinar
Como um instrumento e seu uso
Permanente na sua forma de tocar

Percebo que causa tanta alegria
E também tanta dúvida e incerteza...
Sim, e nisso está todo o mistério
De um ser humano construído
E aquele inventado em seu tédio

Só mais uma pergunta:
Não sei nem mais o motivo de querer
Por que as palavras fluem
Assim feito água e há tanto pra dizer?

Parece que uma mão divina
Abre a torneira e a gente vai escrevendo
Sem nem perceber direito estou vendo
Sem assuntar, prevejo sentimento

Daí para que serve o registro
Nessa rotina de pensamentos mudos

Se a memória funciona tão pouco
Resta a esperança de um jeito torto
Quando a escolha foi por um modo
Meio louco de viver e mesmo que tarde

...Acho que deveria ter dito sem alarde...

Do sonho que tive
Na noite seguinte.
Ao (re) encontrar você
Sonhei com olhos lívidos
E ávidos por me dizer.

... Ah, e sobrancelhas arqueadas ...

A menor menção desse gesto possível
De um encontro em cenário já proibido
Deixou - me num misto de visão da realidade
E ternura com esse sonho e a natural libido.

Ah, querida Deusa Lilith,
Por que é tão precioso e bom
De tamanha emoção, nascer de você?
Mesmo tendo Gaia no nome

Confesso, sem nenhum pudor,
Sei exatamente o que não devo fazer.
Brincando. De poesia?

O vento corredor
Soprou mais ousado
Nessa manhã de sábado

Levantou brincando
Com mérito de ouro
De bailarino sorrindo
A minha roupa do couro

Soprou da varanda
Esse vento tão maneiro
Com jeito ligeiro chegou
Suave à porta da moça de saia

Como brincante eletrônico
Dançou com a roupa inteira
Sem atravessar a porta da sala

Brincante eu também faço
Pirueta leve com a palavra

Porque ventou ali no ouvido
No meu caminho de casa

Causou-me o maior espanto
O segredo que guardava

Brinca agora tua história
Por admiração que tenho
Pela rebeldia solidária
Brinca desse jeito menino
Com a minha disciplina e graça

(e agora até me abraças?....)

Friday, June 12, 2009

Recorro a Spinoza, tão holandês quanto meu bisavô, para compreender o que vem me escapando à realidade e à lembrança dela, ou seja (nada de cerveja), à minha história e memória.

Para ele, "a realidade é uma coisa muito mais vasta do que as categorias humanas de entendimento podem conhecer. Isso porque existe a essência. O povo que percebemos confunde o real com a razão, e o filósofo, numa postura investigativa, não pode se deixar enganar. O ente da razão não existe fora da mente".

Não. É na mente que construímos conceitos, impressões e memória. Ou apenas vagas lembranças... É nisto que estou pega desde bem cedo num bonito dia de Santo Antônio.

A história de um homem ou uma mulher só pode ser bem contada quando ele morre? E se nem para isso sua morte servir? Desculpem, vou tentar ser mais otimista. Mas, e se as impressões a meu respeito não forem justas, precisas...? Nossa, me enchi de perguntas a tarde toda!

Repassei com empenho cada centímetro da minha história recente e nem tão recente assim... E vou dizer que guardo algumas reações louváveis à minha presença. Confissões do espírito, impressões alegres da alma e até epifanias "minha poeta!". Pasmem. Mas algumas, confesso, me escapam na compreensão e fico supensa... De espanto! Com que espanto me vejo diante da vida. A minha vida, a minha rotina, a minha história.

Falava a mim mesma sobre o assunto no início da manhã. Qual foi a direção que escolhi e por que algumas vezes abri mão de decidir e fui me deixando levar...? Para onde estou indo, se é que ainda estou? Nossa, e nem foi Gil que fundiu minha cuca.

Nem toda surpresa desses dias é simples como um buquê de flores. Tem encanto. Todo encanto, mas a gente se assusta também, embora nessa vida haja tanta sorte. A minha certeza de sentimento é de que gostaria de ter capturado algumas que fiquei só assistindo. Vendo passar... E tudo é tão diferente quando é o tempo que passa. Tão curioso... Fiquei mesmo, curiosa. E buscadora. Investigadora da minha própria história. Espantoso! E feliz. Não posso deixar de dizer que me deixou com um sorriso de cantinhos de boca. E olhinhos espremidos ;)



Thursday, June 11, 2009

No cantinho ao lado do quarto encostei com vista para a janela meu sofá, que agora é branco. Branco como os outros móveis: da tevê, das roupas, do escritório, a palhinha das cadeiras (a mesa é de vidro)... e lá está em branco: a adega de vinhos. Brancos são o quadro de Rosinha, da série "as cidades" e daquela famosa fotografia de David Allen, uma homenagem às operárias queimadas. Chama-se Women on the Rise. Também a estante de livros, a torre de cds e as prateleiras, inclusive uma maior que ampara a outra janela onde estão porta retratos e o calendário, o de folhinhas prateadas...

Alguns detalhes são coloridos. Com uma rara predominância em celebração de azul. Uma ararinha de madeira, um oratório com Nossa Senhora da Conceição, minha Nossa Senhora azul, num chão de miçangas como o mar, azul! e a foto de uma grande diva... Em preto e branco são as xilografias que ganhei de Jota Borges, Antônio Filho e Dani Acioli.

Hoje falta um jardim, de inverno claro. Porque jardinzinho zen já faz tempo que eu tenho. Esse outro vai ter vasos branquinhos de cerâmica perfeita. E um aparador verde com jarrinhos verdes com salsa, coentro, cebolinha, hortelã, manjericão e outras folhinhas.

Mas voltando ao prateado, ele está na cozinha e deve ficar. Penso até em substituir o fogão por um top clean chef, porque cozinho pouco. Raramente ouso uma boa massa. É que depois da sanduicheira e forninho tudo ficou tão mais fácil!

A geladeira é uma relíquia: uma brastemp série prata, antiga como eu ... com um congelador enorme, ela toda tem quase dois metros de altura! E um pinguim lá no alto. Ah, ela é também uma espécie de vitrine para duas tops prateadas como os amuletos presente do Mestre Galdino.


Fácil compreendê-los. Muito mais que as manequins de meio corpo. (Escapou um sorriso), com toda graça são lembranças de um tempo de saraus com música e moda. Como a carranca e os quadros em preto, vermelho e amarelo. Lembram postais antigos. Na verdade são gravuras da Collezione Bellé Epóque, com senhorinhas num Caffé Espresso Servizio Istantaneo e una Distillerie Italiane Sezione Apparechi Milano Via Torino e Apparecchi a Gas D'Alcool, que avisa: Economia sul petrolio. É preciso dizer que chegando em casa numa quinta feira típica desta cidade que só sabe chover, ainda me chama a atenção a gravura com uma inesquecível bailarina. Garota propaganda mais antiga de uma cervejaria. Vez por outra vejo que ela dança sobre a torneira da pia de um fortíssimo jato d'água...


Wednesday, June 10, 2009

Meus queridos filhos,


Resolvi escrever essa carta porque percebo quanto ainda solenemente ignoram minhas palavras. Mesmo quando insisto por uma opinião mais firme ou dedicada lendo em antecedência estes textos aqui dispostos. Na melhor das hipóteses o que ouço é apenas um gutural "ahã"... Pois então, não importa o que estiver aqui publicado e mesmo que este também seja alvo de uma leitura tão carecida das impressões de vocês. Estou certa de que, somente muito depois virão atinar nisso. Se é que um dia há de acontecer tal casualidade...

Gostaria de transmitir esses pensamentos como as informações que repassei no DNA, tamanha a importância do que tenho para dizer agora. Mas sei que em convivência muito pouco de aprendizado mais profundo é capturado, por maior que seja o desejo de repassá-lo. Tudo ainda fica muito na superfície até a próxima geração. Mas aí vai: "Não dêem descanso para seus pés cansados. Nunca, jamais parem para um repouso debaixo de uma árvore frondosa. Nisso está todo o desperdício de tempo e juízo. Prejuízo. Mantenham-se no raciocínio do enorme prazer de superar limites. Como um atleta que consolida músculos lidando inclusive com a dor".

Não, não digo de brincadeira. Falo sério. Seríssimo! Este repouso por mais justo que lhes pareça e por mais carecidos que estejam, pode comprometer o bem estar de vocês. Não estejam em qualquer que seja a circunstância, desguarnecidos. O divino é testemunha desse receio que tanto ronda meus pensamentos. Sejam fortes e obstinados. Firmes, jamais cedam a uma conveniente e comovida entrega sob pretexto de ombro amigo. Afinal, quando o princípio é uma necessidade, fragilidade ou fraqueza, carência ou seja lá qual for o nome, não dêem ouvidos. Muito menos os braços.

Da mesma forma solene que conseguem ignorar meus apelos por alguma platéia. Enquanto isso, eu de minha parte, corresponderei com semelhante esforço e mudo-me.

Com ternura
Sua Mãe

Monday, June 08, 2009


Janelas da Alma


Descubro, com coração em festa, o espanto feliz de olhinhos bem abertos - e redondos como essa lua - ao me verem passar, na rua de casa. Taí um grande, o melhor termômetro para a tranquilidade da alma. O olhar de uma criança. Imagina fazendo em susto, expressão de celebração e alguma alegria...

Pronto! Ganhei uma vida inteira de lembranças de sorrisos e bracinhos abertos em minha direção, enquanto os peszinhos sacudiam sem parar. Como a gente guarda o que de realmente importante nos acontece. E como boas lembranças têm me libertado das não tão boas! Estou. Estou mesmo exclamativa de fazer rir. E não me interessam esses olhares mais cansados que o meu, sem nenhuma esperança. Não. Há tanta esperança em mim que reconheço e agora descubro que também sou reconhecida.

Corri tanto nessa vida que minha alma foi ficando para trás. E lembro-me do exato instante em que perdia os sentidos. Não adiantaria toda linha e esforços em costurá-la ao meu corpo pela ponta dos pés, como Peter Pan, com sua sombra. Escapava-me todo o mérito e fluxo de felicidade por feridas abertas por uma tristeza que estava muito bem escondida. Que bom. Já foi. Toda mágoa e ressentimento. Ainda tenho pressa, mas agora a alma caminha junto. Colou em mim e eu peço com voz firme: “nunca mais vá embora, por favor.”

Ver janelas abertas em minha direção, de uma alma tão terna como daquela menina que mora em minha rua é como esse espetáculo de lua cheia nascendo no vale onde morei e onde visito meus pais nos dias de hoje em domingos de festa. Aquelas janelas abertas me deixaram ver minha busca. E eu que saí para ver um divertido e importante jogo de vôlei...

Sim, a modalidade é a que mais admiro. Um jogo onde qualquer toque na rede é considerado invasão. E, principalmente, porque estam em campo os mesmos braços que um dia vi em minha direção. Querendo um abraço, um afago, um aconchego. Bracinhos daquela gente pequena que acolhi. Hoje tão compridos quanto os meus.

Como é importante não se apropriar da rotina e da vida dos outros. Já falei sobre minha solidão e meu reclame é para quem faz planos para os outros... Percebo que minha delicada força está em conter instintos e tenho me dedicado a esse autocontrole. Esse freio vai internalizando um querer que destinaríamos ao outro. E é a mais admirável força. Como de uma curiosa energia de perceber por trás de janelas tão miúdas como olhos de criança. Tão cativante quanto desenvolver a habilidade de encontrar medida exata e equilíbrio para não tocar a rede no momento de um ataque.

Estou satisfeita comigo. Diria ainda que fiz me feita! E não é minha a criativa invenção. Mas de um velho amigo. Alguém que morava naquele mesmo lugar onde a lua nasce bonita e onde visito meus pais em domingos de festa. Alguém que se queixou várias vezes da minha mania de querer todos os cachos de coco do coqueiro mais alto. E que num desses divertidos encontros em partidas do mesmo jogo aqui citado deixou escapar em transtorno de tanta alegria. “Tá faz te feito???”, repetia aos berros para meu tio de quase dois metros quando afinal conseguiu levantar bem a bola para que ele consolidasse a vitória do time. Contribuíra, de fato, com o último e decisivo ponto. A idéia que lhe ia à cabeça era perguntar se o craque varapau estava satisfeito. Pois é "que nem que" eu estou: faz te feita!

Friday, June 05, 2009

The girl with the pearl earings, Johannes Vermeer

Colar de Pérolas



Há tantas diferenças no mundo. Umas tão tristes e outras de particular encanto. Como entre um ponto de fusão e outro. Uma jóia rara gerada pela natureza e outra.

Em um ponto de ebulição e outro, explica-se. O mistério está na distância. A distância entre as partículas que formam as substâncias. À distância, a distância mensura e a distância varia. E é de acordo. Talvez não comum. O que aprendo a evitar.

Descubro, aos poucos, que a pergunta a ser feita é qual o estado das coisas. Se sólido as partículas estarão mais próximas. Muito mais entre si. E em constância de si mesmas.

No estado gasoso a escolha é por estar mais distante. No líquido, as partículas estão a um intervalo mediano, intermediário. É. São as forças de atração que mantêm as partículas, de qualquer substância, ligadas. Trocando informações. Fluidos...

O estado da substância é conseqüência das forças de atração que se formam entre elas. No sólido são maiores do que no líquido, desse amor que hoje se fala. Sim, são maiores do que no estado gasoso.

Quando material sólido é aquecido, é com intensidade que suas partículas começam a se movimentar. Intensamente. Dão vazão ao aquecimento. E, visivelmente, chegarão a superar as forças de atração que as mantêm juntas.

Quando essas forças são superadas, atinge-se a temperatura de fusão, e o que era sólido começa a derreter. Muda de estado. Passando para a condição de líquido. As partículas permanecem, geralmente, mais e mais afastadas. O que só continua o aquecimento.


E o movimento continua. As partículas passarão a se movimentar ainda mais intensamente, até romper as forças de atração que existem no estado líquido. Quando são vencidas, atinge-se o ponto de ebulição.

O que é liquido ferve e vai o estado gasoso. Lição simples não aquecer demais a relação dessas forças... Caso não queira atingir nada além do maior de todos os níveis de afastamento.

Mas, há a substância pura...
Há o elemento puro. Ele sofre pressão, mas não se altera (diriam: não passa recibo!). Quanto maiores são essas forças, mais próximos os átomos permanecem. Esse elemento conta com uma estrutura mais compacta e uma densidade maior.

Além disso, quanto maiores essas forças, maior é a temperatura necessária para separar os átomos. E isso significa dizer é preciso dizer que há diferentes pontos de fusão e de ebulição. E que são maiores, quando maior é a densidade. O que até faz sentido. Mas não justifica. Porque amor não é sólido porque é feito da mistura de matérias frágeis. Matéria humana.

Foram pontos negativos expurgados e aqui para sempre lembro que esqueci. Pontos superados. O superlativo da inferioridade explodiu e sobraram caquinhos invisíveis. Como o que espatifa vai para o fundo do mar. Aonde a frágil matéria humana não chegará mesmo com auxílio de matéria bruta. Nem é preciso dessa matéria para chorar seus mortos. São os intervalos vazios que trazem alguma consistência a essa fragilidade.

Hoje vejo pérolas quando acordo. Pressa nenhuma tem todo encanto... Há desejos bem mais antigos do que posso supor, mesmo à minha imaginação fértil, escapava. Como escapou! E como acolheu em seu manto esse grãozinho de areia fina que ouviu por aí que era capaz de ferir. Mais terna e suave que pude. E foi tanto o que acolhi e transformei por aí.

Que a natureza das coisas torne este presente tão contínuo quanto esta noite que está agora mesmo, aqui dentro, se misturando à minha matéria. Este brilho embranquecido feito leite em teu líquido. Aprenderei teu novo idioma, se for preciso. E descobrirei um mundo novo em bonito.