Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Sunday, May 25, 2008

"Contrariamente a célebre aforismo de Saint-Just, a felicidade nunca foi uma idéia nova na Europa e desde as origens, fiel à sua herança grega, o cristianismo sempre lhe reconheceu a aspiração. Simplesmente colocou-a fora do alcance humano, no Paraíso Terreal ou nos céus (o século XVIII contentar-se-á em devolvê-la aqui para o mundo terreno)".



...



"A esperança da felicidade triunfa sobre o declínio da idéia da salvação e da idéia de grandeza, mediante uma dupla recusa da religião e do heroísmo feudal preferimos ser felizes a ser sublimes ou salvos"



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"O que muda a partir da renascença é a permanência na terra, no surgimento dos progressos materiais e técnicos, ter deixado de ser considerada como uma penitência ou um fardo".



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"O mundo pode ser um jardim fértil, deixando para sempre de ser uma tapada estéril, os prazeres são reais e a dor por si só não encerra o conjunto da experiência humana (o que é disto testemunha toda a tradição Utopista desde Thomas Morus e Campanella) sobretudo é necessária a reconciliação com o corpo".



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"Deixar de ver nele (0 corpo) o efêmero e desgostante revestimento da alma do qual seria preciso que desconfiássemos e nos desprendêssemos: no futuro será um amigo, o nosso único esquive sobre a terra, o nosso mais fiel companheiro que convém envolver, cuidar, tratar através de toda a espécie de leis da medicina e da higiene quando a religião prega a dura submissão, desprezo, esquecimento. Triunfo do conforto: apoteose do estofo, do acolchoado, do cômodo, de tudo o que amortece os choques, garantidas as nossas comodidades".




















KANT: "DEPENDE DE NÓS QUE O PRESENTE CUMPRA A SUA PROMESSA DE FUTURO".



Saturday, May 24, 2008

No livro de Robert Mauzi, L'Idée de bonheur dans la littératura et la pensée fraçaise au XVIIIe. siécle, Albin Michel, 1979, pp. 261/262. Está a seguinte citação que em 1738 Mirabeau faz em carta ao amigo Vauvenargues, sobre os princípios que norteiam a sua conduta:

- desfazer-se de preconceitos,
- preferir a alegria aos humores,
- seguir as suas inclinações... Ao mesmo tempo em que as expurga.

A fora o entusiasmo juvenil, Mirabeau reinventava a felicidade do homem de sua época. Antes dele, outros fizeram muito mais preocupados com a salvação da alma. Vide Santo Agostinho. Como bem descreve Pascal Bruckner em seu A Euforia Perpétua, "no seu tempo... enumerava nada menos que 289 opiniões diferentes sobre o assunto, o século XVIII consagrou-lhe cerca de 50 tratados e nós não cessamos de projetar sobre os tempos antigos ou sobre outras culturas concepções e obsessões que só a nós pertencem."Pascal pontua, desde o início (p.13) os lugares onde nós situamos essa felicidade:

"Tanto existe felicidade na ação como na contemplação, na lama como nos sentidos, na prosperidade como na penúria, na virtude como no pecado." E relembra Diderot:"As teorias sobre a felicidade, mais não explicam que a história daqueles que as elaboram. É uma outra história a que nos interessa: a da vontade de felicidade como paixão própria do Ocidente desde as revoluções Francesa e Americana".

Para logo depois destacar os paradoxos que enfrenta o projeto de ser feliz:

1. Versa sobre um objeto de tal modo fluido que se torna intimidatório dada toda sua imprecisão

2. Desemboca no tédio ou na apatia a partir do momento em que se realiza (no sentido de que a felicidade ideal seria uma felicidade sempre saciada, sempre renascida que evitaria a dupla pena da frustração e da plenitude).

3. Enfim, ilude o sofrimento ao ponto de se encontrar desarmado perante ele a partir do momento em que surge.

Pascal desenvolve cada um desses tópicos: "No primeiro caso a própria abstração da felicidade explica a sua sedução e a angústia que origina. Não somente desconfiamos dos paraísos pré-fabricados como nunca estamos seguros de sermos verdadeiramente felizes. Querer saber se o somos é já sinal de o não sermos.

Daí que a predileção por este estado se encontre também ligada a dois comportamentos, o conformismo e a inveja, as doenças conjuntas da cultura democrática: o alinhamento pelos prazeres majoritários, a atração pelos eleitos que a sorte parece ter favorecido".

O segundo tópico, Bruckner entende o conceito na sua forma laica, mais contemporânea, usando a Europa como ambiente, nominando o efeito de "advento da banalidade":

"esse regime temporal que surgiu com o dealbar dos tempos modernos e viu triunfar a vida profana, reduzida ao seu prosaísmo, após a retirada de Deus.

A banalidade ou a vitória da ordem burguesa: mediocridade, sensaboria, vulgaridade."Finalmente, examina o 3o. Ponto: a dor.

"Por último, tal objetivo, visando eliminar a dor, substitui-a apesar de tudo no âmago do sistema. Ainda que o homem de hoje igualmente sofra por não querer mais sofre, como também se pode adoecer à força de procurar a saúde perfeita.

O nosso tempo conta-nos uma estranha fábula: a de uma sociedade dedicada ao hedonismo, para a qual tudo se torna causa de irritação e de suplício". E sentencia:"A infelicidade não é só a infelicidade: é, ainda pior, o fracasso da felicidade".

Pascal Bruckner conclui então, com o que compreende por "dever de felicidade":"essa ideologia própria da segunda metade do século XX e que conduz a tudo avaliar sob o prisma do prazer e do desagrado, esse convite à euforia que lança no opróbrio e na dor os que não lhe correspondem.

Duplo postulado: por um lado, tirar o melhor partido da vida; pelo outro, afligir-se, penalizar-se por tal não ser conseguido."Além dos múltiplos significados do Bem Supremo e idéias fixados (saúde, riqueza, corpo, conforto, bem-estar e outros "talismãs"), Pascal lembra que "contrariamente ao lugar-comum sem descanso repetido desde Aristóteles não é verdade que todos nós procuraríamos a felicidade, valor ocidental e historicamente datado.

Outros existem como liberdade, justiça, amor, amizade que ganham supremacia sobre ela".E ainda pergunta:"E como saber o que todos os homens procuram desde a origem dos tempos sem cair em generalidades vagas?"

RESPOSTA: "Não se trata de estar contra a felicidade mas sim contra a transformação desse frágil sentimento num pensamento coletivo estupidificante perante o qual todos se deverão inclinar nos aspectos químicos, espirituais, psicológicos, informáticos, religiosos. Os saberes e as ciências mais elaborados devem confessar a sua importância para garantirem a felicidade aos povos e aos indivíduos".

Ao jovem Mirabeau e seus "postulados", segue o recado subversivo: "amo demais a vida para não querer ser feliz!".

caminho sentindo o esforço do músculo. A irrigação deve lhe faltar. Descubro a demora do corpo em esquecer o que aprendeu. Como subverteria uma ordem genética e um aprendizado que não é estanque? por que precisamos do tempo para sair da casca seca? Até a pobre cigarra demora apenas um inverno, cantando sem parar...

...
são camadas que envolvem o fio condutor. Troncos nascidos do endurecimento da pele, do externo. Que bom não ser transparente. E ainda poder mudar de cor! "Você - ouvi - está muito melhor!"... Minha cor volta!!!


não há qualquer engano: não há galhos, somente talos grossos partidos. Estruturas perfeitamentes ceifadas. Como em Hartfort-shire. E os tablóides...
Excelente descoberta no blog de Diana Moura

"Carrego a certeza que a palavra me salvou do aniquilamento, do suicídio, das drogas, das mentiras. Ela fez com que cada fragmento de meu corpo guardasse uma explicação. Não me afastei da vida porque a palavra sempre esteve próxima dela. Quando perdemos o idioma, perdemos o lugar. Narrar é perseguir o passado, comunicá-lo para não se repetir. Não narro para me perdurar. Ter sentido é pouco, fazer sentido é o que busco. EU SOU ATENTO AO QUE FUI, NÃO MELHOR”

FABRÍCIO CARPINEJAR
por Schneider Carpeggiani

Wednesday, May 21, 2008


Pensando bem (por uma vida mais sábia)
texto de Eugenio Mussak (educador e escritor)

tema : vergonha

"Há um tipo de vergonha 'tóxica', que ruboriza a face da pessoa, mesmo que ela não tenha motivos para se envergonhar. Afinal, por que as pessoas sentem vergonha?"

(...) Sempre tem alguém nos perguntando se não temos vergonha de alguma de alguma coisa, nem que seja de sermos nós mesmos.

A expressão "força de ego" é bastante utilizada em psicologia. Refere-se a uma noção freudiana clássica em que o bom funcionamento psicológico das pessoas pode ser avaliado de acordo com a maneira como elas lidam com o conjunto de fatores controladores do meio onde vivem - os códigos sociais e culturais, as regras sociais. Controles sempre existem, e é bom que existam, pois o equilíbrio das relações depende, em grande parte, deles. Se cada um fizesse o que lhe dá na telha, viveríamos em anarquia, o que contraria o princípio da civilização.

Até aí, tudo bem. Eu preciso entender meus limites e respeitar os ditames de bom convívio com os demais. Caso contrário, posso ser acusado de ser anti-social, egoísta, desagradável. Um verdadeiro sem-vergonha. Por isso, na educação de uma criança, faz parte ensinar-lhe os limites, até onde se pode avançar sem ferir o espaço dos outros, seja o espaço físico, seja o moral.

A noção da força do ego está atrelada ao equilíbrio entre o primitivismo dos desejos humanos e a sofisticação das regras sociais. Só que esse equilíbrio é o que, em física, poderia ser chamado de equilíbrio instável. Qualquer esforço ligeiramente maior, de um lado ou do outro, gera o desequilíbrio, a ruptura psicológica, o sofrimento emocional.

A espontaneidade de um menino que mostra seu "pipi" para o médico em uma festa pode se transformar em um trauma com repercussões sexuais se ele for severamente repreendido. E, se não o for, pode colaborar para um comportamento irresponsável no futuro. Mas há outra possibilidade. Um fato como esse também pode ser utilizado como um momento pedagógico sobre normas de conduta, desde que a comunicação usada pela pessoa em que a criança confia seja natural e clara, como a educação em geral deve ser.

O psicólogo alemão Erik Erikson, uma referência quando o tema é infância, adolescência e os reflexos dessas fases na idade adulta, dizia: "Na vida social, a pessoa está completamente exposta e está consciente de que está sendo vista. A vergonha surge quando a pessoa ainda não se sente pronta para ser vista". Como a cobrança social é cada vez maior - em termos de sucesso, realização, estética e posses -, é muito difícil alguém se considerar totalmente pronto para ser visto. E dá-lhe vergonha. Por outro lado, se alguém não demonstra vergonha jamais, pode ser acusado de ser alienado.

Não há vergonha em sentir vergonha. A questão central não é essa, pois a vergonha é normal. O importante é a análise da relação entre a vergonha que sentimos e o motivo que a fez aparecer. Às vezes, a vergonha é desproporcional e pode provocar traumas. O menino que mostra o "pipi" e é repreendido ou humilhado não entende o que há de errado no seu ato. E, pior, poderá envergonhar-se do seu corpo para empre.

Se um garoto sente vergonha de fazer uma pergunta ao professor durante a aula, pois tem medo da violência do controle do meio - no caso, as gozações dos colegas -, pode ser um sinal de que ele se sente inadequado no meio em que está inserido. Ele não se sente pronto para ser visto. Por outro lado, o garoto que desrespeita o professor e os colegas com atitudes de insdisciplina constante pode estar no extremo oposto. É arrogante porque nega o controle social e faz questão de explicitar sua revolta com a autoridade. Ele poderia ser chamado, facilmente, de sem-vergonha. Mais uma vez, estamos lidando com o equilíbrio instável da força do ego.

Sem-vergonha

O tema da vergonha normalmente é analisado sob a ótica da psicologia ou da sociologia, entretanto ele também pode ser visto por outras lentes, como a da biologia. Em seu livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, Charles Darwin afirma: "Enrubescer é a mais especial e a mais humana de todas as emoções". E conclui dizendo que sua causa, a vergonha, é a peça-chave para a vida em sociedade.

Enquanto as sociedades de animais são regidas pelos instintos, a sociedade humana é regida por regras construídas intencionalmente. Darwin explica que o rubor é uma conseqüência fisiológica causada pela preocupação com o que os outros pensam de nós mesmos. A função do rubor é embaraçar quem ruboresce e constranger quem observa. E, assim, seguimos na vida, dançando a valsa da humanidade em um salão decorado com as regras da sociedade.

Em seu estado natural, o homem não se envergonha de nada, mas ele só está nese estado na infância. Na própria infância da humanidade, metaforicamente descrita nas escrituras bíblicas, o homem não se envergonha de andar nu. Foi só quando se viu expulso do paraíso que ele tratou de esconder seus genitais, "suas vergonhas". Talvez isso seja apenas um símblolo da vergonha de ter traído a confiança do criador e comido o fruto paoibido. A partir de então, teve iníco a humanidade controlada pela vergonha. Hoje, as religiões e o Estado valem-se do sentimento da vergonha para controlar as pessoas e manter o mínimo de equilíbrio social.

Portanto, a vergonha tem lá sua importância. Está ligada ao equilíbrio social e ao convívio humano. Sendo assim, estamos falando de algo humano, tanto do ponto de vista psicológico, quanto social e até biológico, como vimos. O problema está na vergonha desproporcional, tóxica, descabida, paralisante. Esta pode precisar de apoio profissional, mas pode também ser controlada à medida que o ego vai ganhando força, encontrando seus alicerces na maturidade, no autoconhecimento, na auto-aceitação.

(...)

Vamos concordar que a vida tem de ser vivida intensamente, mas não irresponsavelmente. Tentar ser feliz não é vergonha, a não ser que com sua felicidade você provoque a infelicidade de alguém mais. Mas isso, acredite, não é necessário, absolutamente."

mais do excelente texto no site: http://www.eugeniomussak.com.br/

Interessante observar que mesmo estarmos a apenas meio milênio da baixa Idade Média, onde ainda eram necessárias publicações sobre o mais básico controle de instintos e maneirismos ainda sofremos dessa doença que é a sobreposição dos egos de quem se sente fortalecido pelas vantagens do sistema. Nós, pobres e desfavorecidos mortais, dessa mesma sociedade, fazemos o movimento que fizeram negros, índios e orientais. Submetemo-nos aos horrores. Pressionados por um eterno sentimento apocalíptico. Seja apenas um certo fatalismo descuidado. Ou pior, a vitimização, um sentir-se fraco e sem saída diante de qualquer circunstância, que - mais que problemas - tornam-se "pesadelos".

Essa paralisia da qual o Eugênio Mussak fala é velha conhecida dos consultórios psiquiátricos e sessões de terapia. E em tudo que vejo no texto, só acrescentaria a diferença que faz ter bons amigos. Além dos mais belos sonhos, como já citava Ernesto Guevara.




A Medida Da Paixão
Lenine

Composição: Lenine/dudu Falção

É como se a gente
Não soubesse
Prá que lado foi a vida
Por que tanta solidão?
E não é a dor
Que me entristece
É não ter uma saída
Nem medida na paixão...
Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou...
É como se a gente
Pressentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa aflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou o medo de ficar
Vazio demais meu coração...
Foi!
O amor se foi perdido
Foi tão distraído
Que nem me avisou
Nem me avisou!
Foi!
O amor se foi calado
Tão desesperado
Que me maltratou...

Tuesday, May 20, 2008


Che


Eu tive um irmão

Não nos vimos nunca

mas não importava.


Eu tive um irmão

que andava na selva

enquanto eu dormia.


O amei ao meu modo,

lhe tomei a voz livre

como a água,


caminhei às vezes

perto de sua sombra


meu irmão desperto

enquanto eu dormia.


Meu irmão mostrando-me

por detrás da noite

a sua estrela eleita.


Júlio Cortázar
(Argentina)


O Nascedor


Por que será que o Che

tem esse perigoso costume

de seguir sempre renascendo?


Quanto mais o insultam,

o manipulam o tradicionam,

mais renasce.


Ele é o mais renascedor de todos!

Não será porque o Che dizia o que pensava,

e fazia o que dizia?


Não será por isso,

que segue sendo tão extraordinário,

num mundo em que as palavras

e os fatos raramente se encontram?


E quando se encontram,

raramente se saúdam,

porque não se reconhecem?


Eduardo Galeno
(Uruguai)
"Lutam melhor os que têm belos sonhos".
Ernesto Guevara de la Serna






















"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira".

Monday, May 19, 2008

L'Humanité et l'éloge de la simplicité


"L'HUMANITÉ, du réalisateur français Bruno Dumont n'est certes pas passé inaperçu dans les coulisses du cinéma après avoir raflé (à tort ou à raison) le Grand prix du Jury du dernier Festival de Cannes. Créer l'unanimité est peut-être chose impossible, mais jamais dans l'histoire du festival on aura vu telle polémique, tel brouhaha. L'HUMANITÉ est de ce lot qui passa de travers dans la trachée des critiques du monde entier."




"Bruno Dumont queria fazer cinema e enquanto esperava estudou e lecionou filosofia, também trabalhou com publicidade, jornalismo e televisão. Ele escreve seus roteiros, dirige os técnicos, os comediantes, sabe montar, mixar, tudo para os filmes. Ele dirigiu em 1996 seu primeiro longa-metragem, “La Vie de Jésus” que ganhou uma dezena de filmes. Em 1999 ele dirigiu seu décimo longa-metragem, “L’Humanité” que recebeu o Grande Prêmio do Juri e também um prêmio duplo de interpretação no Festival Internacional de Cannes em 1999."




















"Angel talvez seja o filme de Ozon onde suas raízes maneiristas fiquem mais evidentes. É um filme aberto, corajoso ao se arriscar em ser tão franco em sua proposta. Se O Amor em Cinco Tempos era inteiro a construção daquela imagem, Angel é todo essa imagem."




"O mínimo que se pode dizer de Ozon é que ele foi audacioso quando decidiu nos mostrar a história de Angel (a linda Romola Garai, de "Scoop: O Grande Furo") pela ótica da própria personagem. Isso porque ela é uma jovem interiorana na Inglaterra do final do século 19. Uma ingênua, mas determinada a ser uma escritora famosa. Dona de uma imaginação frutífera, Angel vomita histórias melodramáticas e floridas como quem respira. É consciente e convicta de seu talento, e age de forma arrogante sem aliviar no maltrato com quem se mostra provinciano. Na realidade, ela é dura com aqueles que tentam trazer um pouco da realidade do mundo para dentro do seu universo particular de conto de fadas.




"Angelica Deverall (Romola Garai) é uma adolescente mimada, com imaginação fértil e vocação para escrever romances açucarados. Em pouco tempo, ela se torna a autora mais famosa da Inglaterra, fica milionária e se casa com um atormentado pintor (Michael Fassbender). Mas sua vida se transforma em tragédia quando seu casamento entra em crise e seus livros saem de moda. Ao adaptar "Angel" (1957), o romance satírico de Elizabeth Taylor (a escritora, não a atriz), François Ozon conseguiu fazer um filme que se parece com um melodrama antiquado e, ao mesmo tempo, é absolutamente contemporâneo, todo recoberto por uma pátina de ironia."

Rafael Dias (http://www.revistaogrito.com/page/07/03/2008/francois-ozon/)


"O fato de cruzar o Canal da Mancha é só uma metáfora (real) de como este diretor, com estilo autoral perspicaz, vem pavimentando, agora de vez, seu nome além das xenófobas trincheiras francesas. Mais maduro e, claro, mais velho, mantendo-se jovem (acabou de cravar 40 anos, referência etária que, para o mundo do cinema, assim como na literatura, não quer dizer nada, apenas puerilidade), Ozon segue seu próprio caminho, sem pressa, numa trajetória parecida com a do seu colega de divisa, o espanhol Pedro Almodóvar. Mais refinado e precavido, mas nem por isso menos transbordante, assina um cinema audaz e avesso a fórmulas de estilo e forma, melhor a cada ano que passa, como um bom vinho de terroir suave e tanino marcante. No limiar do exagero barroco e da delicadeza."


Sunday, May 18, 2008


"Você acredita que cada lugar tem seu momento do dia, quando se torna verdadeiramente vivo? Não é bem isso o que quero dizer. Na verdade é antes o seguinte: parece existir um instante em que a gente se dá conta, muito por acaso, de que pisou no palco exatamente no momento em que era esperado. Tudo está arranjado para você - espera por você. Ah, o dono da situação! Você fica cheio de si. E ao mesmo tempo sorri, furtivo, malicioso, porque a Vida parece se opor a conceder-lhe essas entradas, na verdade parece empenhada em tirá-las de você, tornando-as impossíveis, segurando-o nos bastidores até que seja tarde demais... Ao menos uma vez você derrotou a velha bruxa.

Tive um desses momentos quando vim aqui pela primeira vez. Imagino que é por isso que volto sempre. Retorno ao cenário de meu triunfo, ou à cena do crime, onde pelo menos uma vez agarrei a velha meretriz pela garganta e fiz com ela o que bem quis.

Pergunta: Por que sou tão amargo em relação à Vida? E por que a vejo como uma mendiga num filme americano, arrastando-se embrulhada num xale imundo com suas velhas garras segurando um cajado?

Resposta: O resultado direto do cinema americano agindo sobre uma mente fraca.

De qualquer modo, "a breve tarde de inverno chegava ao fim", como dizem, e eu andava por aí, indo para casa ou não indo, quando me dei conta de que estava aqui, encaminhando-me para esta mesa do canto.

Dependurei meu casaco inglês e meu chapéu de feltro cinza no cabide atrás de mim e, depois de conceder ao garçom tempo suficiente para que pelo menos vinte fotógrafos registrassem sua imagem até se saciarem, pedi um café.

Ele serviu-me uma taça daquele líquido tão meu conhecido, meio roxo, com reflexos esverdeados suspensos, e afastou-se, arrastando os pés, e eu me sentei apertando as mãos em torno da xícara, porque lá fora o frio estava de amargar.

De repente me dei conta de que mesmo sem querer eu estava sorrindo. Levantei lentamente a cabeça e vi no espelho do outro lado. Sim, lá estava eu sentada, apoiada na mesa, com meu sorriso rasgado e malicioso, tendo diante de mim uma xícara de café com sua vaga pluma de vapor e, ao lado da xícara, um pires branco com dois torrões de açúcar.

Abri bem os olhos. Teria ficado ali por uma eternidade, como me pareceu, e agora por fim voltava à vida..."


























Thank you! K. Mansfield
Prezado Calvino,

Gostaria de correr à janela e gritar: Mas Rambaldo não seria mesmo ele. Não rezaria como "as mulheres pobres e piedosas, para pagar seus pecados!". Faria como Bradamante:

"- Sim, Rambaldo, aqui estou, espere-me, tinha certeza de que você viria, já estou descendo, partiremos juntos!"
...

"Sim, livro. A irmã Teodora, que narrava esta história, e a guerreira Bradamante são a mesma pessoa. Um tanto galopo pelos campos de guerra entre duelos e amores, outro tanto me encerro nos conventos, meditando e escrevendo as histórias que me ocorrem, para tentar entendê-las. Quando vim me trancar aqui estava desesperada de amor por Agilulfo, agora queimo pelo jovem e apaixonado Rambaldo."

...

"Quais fumaças de devastações dos castelos e dos jardins que amava? Quais imprevistas idades de ouro prepara, você, malgovernado, você, precursor de tesouros que custam muito caro, você, meu reino a ser conquistado, futuro..."

Futuro.

Monday, May 12, 2008


Se você ainda não soube da última investida do Diabo, vou contar:

Andava por aí com seu comparsa, de longas datas, quando uma mulher que ia à frente de ambos recolheu algo que estava em seu caminho, e brilhava. A colocou a estrela - que era do que se tratava - em seu peito. O inseparável do Diabo, muito curioso, cuchichou no ouvido de Satanás. Olha lá, cara, no que aquela mulher "tropeçou". Nossa! Como brilha!!! Será que estou vendo direito? É mesmo o que estou pensando?

Ao que o Diabo respondeu, sem espanto:

"Ela acaba de encontrar a liberdade. E soube bem onde guardá-la, colocando a luz da verdade em seu coração".

O parceiro do Diabo não resistiu a um comentário provocador, claro!: "Xii, então tu se deu mal, meu camarada. Isso deve ser um péssimo negócio para você, quando acontece... E agora? Como vai poder obscurecer a verdade e aprisionar essa mulher às tuas intenções?"

Satanás, com toda frieza e um sorriso malicioso no canto da boca, rebateu: "Espera só até ela se deparar com as crenças, sistemas e instituições..>"

Inspirado nos ensinamentos de Jiddem Krishnamurti (1895 - 1985)

Sunday, May 11, 2008

Algumas escolhas são da natureza do humano. Não passam pelas necessidades ou vicissitudes. O destino se constrói assim. Instintivamente. Não há, de fato, "um escrito nas estrelas". Elas aí, são neurônios, conceitos, preceitos e preconceitos. E é a natureza de cada ser humano que vai determinar, ou conduzir a vida. Definir as escolhas, as decisões. O rumo a ser tomado.

É assim que se diz, um dia atrás do outro, a mentira é completa. A paciência é um erro, só não supera em sua estupidez a tolerância. Com a petulência de imaginar que não as as naturezas - seja de constância ou acomodação - que tentam deter o futuro, que é hoje, é agora! É Deus ou o que quer que seja quando se parte de um tiro no escuro.

Tira daqui, bota ali e até que alguém por si mesmo ou por nada decide: "Deixa o Zé Pereira ficar". Afinal, guerreiros com guerreiros fazem zig-zig-zá. Alguém sempre perde no final. E, sendo assim, alguém sempre ganha. O bom é pensar que ambos perdem e ganham. Como ambos são "culpados" ou "responsáveis" por tudo. E o que se ganha e se perde num "jogo" desses vai depender (de novo!) da natureza de cada um. Daquilo que um e outro dão valor. Outros não dão a mínima importância, é verdade... Esses são os melhores. Os que estão no time dos mais fortes.

Tomado pela idéia de não perceber quem está segurando a pedrinha no jogo do vai-e-vem, do toma-lá-da-cá, ganha-se uma "constância" surda. Em parte até cega. Além do que, não muda. Um falso equilíbrio e nenhuma noção dos fatos. Da existência de cada um. Dos atrasos atribuídos ao relógio ou do "pouco tempo" - o tempo é uma constante, ora essa. Nem pouco nem muito. Simplesmente, é.

Dos passados e frustações que guardam e que não estavam ao seu alcance. Das histórias construídas sem noção. Quiçá alguma necessária consciência! Burrinhas, burrinhas... Por que? Porque não tinha muito o que fazer. Ou não se deu para fazer o que tinha e tinha mesmo o descuido consigo mesma de perder tempo e dinheiro. E se perder da própria essência. Da necessidade das coisas. O valor - tão caro! - de viver no exato instante e não num tempo abstrato. Afinal, quem guia?

Saber achar a saída é mistério de fácil e difícil resolução. Fácil porque são muitas as fragilidades e demolições. Buracos há muitos no muro. Perceber que está destruindo a própria vida não é tão enigmático assim. E qualquer uma dessas brechas vai servir para encerrar o caso. De preferência que seja a primeira de todas as tolices. Parar desde o início é um bom começo. Um excelente movimento!

O difícil é vencer a natureza... dessa vez da inércia. Sua própria natureza estranhamente escrava de Jó. Dos conceitos e preconceitos indissolúveis de que está cercada. Todos tão difíceis de partir. "Mais que um átomo". Albert Einstein. Vale, no final, o zá. Como diria Luis Fernando Veríssimo: "rico tem mania de pensar que pobre é burro!". Nada disso é orgânico. É tudo fisiológico...

Friday, May 09, 2008


Nessa avenida não há paradas

Há pontos de partida e chegadas


Antes, via cegos à espera de coletivos.

Agora vejo prédios. Não há abrigos.

Tuesday, May 06, 2008




"A História, disse Dedalus, é um pesadelo do qual procuro acordar."
James Joyce (Ulysses)


A Força das Coisas
O gosto de-cada-uma
O modo do mundo, que gira...

A frase de efeito
O grito que dei
O mudo sentido, que vira...



A fome de tudo
O gelo. Nebulosa a bruma
O mito de ontem, que eu cria...


Se em dois doía, caminho: saída!

Uma nova Utopia
Uma nova Utopia
Um projeto de Vida
Um projeto de Vida

Novo. Movo e ouço:
Vejo e mexo. Desejo.
À Liberdade
À Fraternidade
À Igualdade
Deixo...

É que virou tirania
a condição do homem
Não construía
Não avançava
Mais destruiu em sua anarquia

Foi com gosto, seu moço!
Que, veloz, esqueci o despejo
A figa no bolso
Lampejo em lampejo
Oh, pobre Diógenes!
Eu vejo.

Passará o pesadelo
Por que, Dedalus?
Porque sou eu que escrevo
Meu grande enredo
Sou que escrevo
Com medo de nada
Sou eu que escrevo

Passou, mas doía, doía...
Doía, doía, jazia, jazia...
Sabia, oh, Deus! Sabia.
Caminho: saída

Refaç@ o desejo
A roda que gira
menor e constrita
é minha a moda
é minha a nota
A Vida é minha

A Força das Coisas
o jeito que dei
o voto e a prece
eu me repetia
"carinha do seis" deletei

É minha a noite
É meu o dia
É frio?
É a Normandia!!!



Aprendo com os erros,
Geografia.
Se cria assim?
Não creio.

"Operação Overlord!"
Foi-se feio
Como um bom começo
É mister sair inteiro
Sofro ação do tempo
E a impressão de perdê-lo


Com hora exata, sem zelo
Escolheu bem o dia.
Momento tão árduo da travessia
São mares revoltos

Dor, Morte & Agonia.
Não pelo Amor
Ligou-se na dor
Poder que vicia.

Dois meses de luta
Inútil e Sangrenta

Um dia, enfim,
Sou ovo de novo Paris
Romance meu gênero
Com final verdadeiro
Por isso, feliz.

E se ainda estou viva
Bulindo, a mente a mil...
Sou eu moradora
Em casa construída

Olho pra frente
Sou eu meu presente
E se nômade (aparente)

Porque grande,
por dentro também,
Humana e gente!

Até onde e quando
Quiser e disser
Escolho estar viva
Não como der ou
"Deus" quer.


É preciso poesia
E existe o lugar,
Provo todos os dias

Passeio na praça
Dou passos bem firmes
É certo chegar
Alguém que parece
Estar longe ou ausente

Existe o lugar, existe Ulysses!
E eu? vivo nele.

Sou eu meu lugar.
Provo em dizer que
Habita em mim
O melhor tipo de Amor.