Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Wednesday, July 29, 2009

Ficou para nunca mais...



Ficou para nunca mais o filme que faríamos no bar Garagem. Ficou para nunca mais a imagem fumegante do seu dono abrindo a geladeira diante de um balcão escuro por sobre uma parede cheia de detalhes. Sim, a iluminação permitia confundir teto e chão com as paredes... De lá se desprendia como num espaço etério a foto do Papa João Paulo II, lembranças de um lugar e outro. Recordações para acender a memória. Isso hoje é tudo.

Tudo que restou do cenário dos que buscavam mais um pouco, um outro passo louco, numa noite que não fosse o Garagem já teria tido fim... Sua grande ventura foi transformar o dia em noite eterna que se misturava a um amanhecer que começava por assim dizer, quando sequer havia terminado...

Realizava assim em nós, recifenses de uma boemia lisa, a aventura de continuar existindo na beira rio que inventamos no nosso projeto de cidade. Cumplicidade. Poeticidade. Insanidade branda. E eternidade de todos nós, se fôssemos jovens. Teciamos ali em conversas mal ouvidas sensações que nem raízes em imaginário fértil.

Em pleno bairro da Torre, depois de resistir a todas as águas que passaram por baixo da ponte, o Garagem foi trator abaixo por decisão e ordem do nosso poder público. Não há manifesto que conserte. Nem concerto que revele a música que se construiu ali. As imagens de um Recife indie, underground, retrô, punk, hardcore ou apenas azul, de um bom blues ficou para nunca mais. Soterrado por leis, licenças de funcionamento e decisões. Representativas?

Não acontecerão nunca mais. Não bastou fazerem pouco do desejo de consumidores pagantes removidos de outras calçadas, longe dali. E os shows que aconteceriam? Os encontros e desencontros? Ali, não acontecerão nunca mais.

Ficou para nunca mais. E eu que neguei o pedido de Alice no país das maravilhas, em mais uma noite que começou e que naturalmente não terminaria, ao pé da indestrutível Ponte da Torre. A única que resistiu às dinamites. Como a ponte, a boemia em nós vai resistir.

E outros lugares como o Garagem surgiram em todas as partes. Embora aquele filme de um colorido obscurecido que faríamos ali, ficou para nunca mais.

Wednesday, July 22, 2009

Uma senhora foi esmagada por um ônibus no corredor da Boa Vista. Quantos não são esmagados todos os dias? E eu? Será que ainda estou viva?

O que ainda não foi esmagado em mim, na Boa Vista? Sei que estou viva porque ainda durmo e tomo muito café para continuar acordada...

Friday, July 17, 2009

Cartola de maçã (manteiga, açúcar e canela), pêra ao vinho (bebido no corpo dela)... sob alta pressão e cristalizada. Tal qual mulheres de areia. Sobre toalhas de linho.

Tornei-me matéria cristalina. De vidro. Em cenário de um tear matutino.

E por que tanta transparência? Quem aguenta tanta bebida? Quem consome tanta notícia? Porque não apresso mais a vida. Não é para ser assim... E não é discurso de Páscoa. É apenas um novo formato. Um novo embalo.

Basta que me entenda mais ... tranquila? Apenas "suavizar o rosto", Clarice. Vou nesse fio de novelo até me livrar do labirinto. Preciso de uma sinceridade branda, que nem sempre se diz em palavras suaves e bem escolhidas. Sim, há os que querem, precisam do grito!

Por outro lado, o que está aqui, se me enxergar mais permitida para o definitivo da vida, eu saberei por onde ir, que caminho seguir. Saber o que querer da vida e se ainda não for possível viver assim, como para o quê nasci, ao menos eu sei para o que não nasci. E que não preciso ter pressa. Tudo a seu tempo. Preciso mesmo é ser acertiva. E não dar ouvidos a essa vozinha insistente ordenando em mim instantes vagos, minutos inteiros de um mal querer sem fim.

O que é preciso e decisivo em minha vida é ser acertiva. Não correr como louca e atravessar tudo nessa pressa infinita. Sede tão louca de viver. É muito mais provável com a alma junto chegar aonde caminha meu querer mais profundo.

Alguma sorte, sim. Que a boa sorte me guie para esse lugar bom do desejo. Como aliás sempre fez comigo. Levar-me para um outro lugar do desejo que não está no vazio. Nem morre ao correspondê-lo em seu urgente pedido. Sendo acertiva me ligarei ao que é mesmo essencial em mim. Pensar bem menos na minha solidão. Se nunca incomodou antes, porque me transtornaria agora? Preciso sim é apagar as marcas da alma.

Eu que nem você e você, sou fruto, de Bullying. Mesmo que num privilégio de tardio. E quem não foi vítima disso ? Preciso é pensar em mim com mais esperança e considerar o nada que existe na opinão dos outros. Afinal, a opinião deles só interessa em parte, a parte que interessa...

Vou ver a vida com mais calma. Sim, corri tanto nos últimos tempos que tenho mesmo é que dar o tempo necessário para a alma chegar junto de novo. E será tudo novo de novo. Toda arte precisa da alma. Minha cria completa: "E toda alma precisa de arte. Para conseguir se expressar é preciso soltar...". Importante também é livrar-se das marcas. Crescer nos instantes em que ela, para se dizer assim, respira!

Para qualquer atuação, inclusive a mais honesta consigo mesmo, a alma tem que estar junto e respirando. Se não puder enxergar a minha como a levarei comigo? Levarei-a a lugar nenhum. Essa pressa para mim, agora é sinônimo de nada.

Feito copo vazio! E sem essa que fica cheio de ar... Não. É tudo que preciso. Digo não ao não de mim. Se não se parece comigo...é não e ponto.

E se beleza não põe mesa, minha querida vó Celina, conversa não enche barriga. Não a minha que sempre se ocupou de uma fome tão distinta. Nunca nunca mesmo comida ou bebida. Minha sede e fome de tanto frio sempre foi de livros. Ao ouvir dos homens o que ouvia, eu já não cria.

Alimento me do que é fruto de areia fina. Matéria polida. Feito animal marinho.

Estou cheia de uma alma que nunca mais será presa. Cristalina e com nenhuma pressa, que já caminha enquanto respira... Ah! Também sei sorrir. Repare, por trás desse cristal líquido, foi meu envelhcido - e tão pouco adocicado - vinho que te trouxe até aqui.

Saturday, July 11, 2009

"Liberdade é única! E exclusivamente ser do jeito que você é, deixar seu ser verdadeiro transbordar dentro de si é permitir que ele dirija suas ações. Um ser livre não prejudica ninguém porque tem noção da interdependência de todos os seres. Ele está conectado a tudo e a todos".

Fritjof Capra

Filosofia J.K. Rowling. Início de ciclo. Ano novo: mundo novo! Disciplina para ter poder. Ui. Sem essa de regimes absolutistas... Só a sabedoria faz avançar. O vício é a ignorância. A ignorância é o que alimenta o vício. É preciso saber mais. Mesmo que avance pouco. É um dia após o outro porque o tempo ensina. Melhor ainda se conseguir aprender algo novo a cada segundo. E é nisso que está a importância da liberdade única como define Capra. Não há prejuízo, apenas clareza dos sentimentos e desse ser verdadeiro que transborda. Aí as ações serão lúcidas e nos conectará a tudo e a todos.

E se a Liberdade é Azul, a Igualdade branca e a Fraternidade vermelha, a ação vem do laranja até o amarelo até a soma de tudo. Verde já será um caminho até o outro lado. Um soma, uma reflexão que mistura ação lúcida (de preferência uma após a outra) e a liberdade...

É difícil manter os sentidos despertos o tempo inteiro... Ainda mais no meio de quem fala tanta bobagem sem sequer saber o que está dizendo. E sensibilidade assim às palavras só afasta. Mas há nisso tudo a importância de pensar uma Ética e uma Estética para si mesmo. Por isso os filtros, os modos, os silêncios... E o vazio. O esvaziamento que vai se dando bem aos poucos e que provavelmente só avança aos poucos.

Do outro lado, o estado acordado permite não deixar para depois o que é preciso fazer agora! Aquilo que só estará presente no mesmo instante, caso contrário, um segundo depois, passou...

O próximo passo é compreender a construção desse novo ciclo, que é novo, de novo, e que tem raízes, se for construir a verdade, naquela essência transbordante do ser. Requer a interdependência. O movimento é sempre de vias múltiplas. Envolve mesmo tantas esferas e círculos na maioria das vezes desconcêntricos.

Essa interrelação tão presente na natureza e no cósmos funciona muito melhor com o que é espontâneo e mesmo natural. Mas nós o que fizemos? Esforços para uma busca em sentido contrário... Descêntricos são esses círculos, naturalmente.

Não vim dizer se é bom ou ruim. Entendemos primeiro apenas que era justo. Para minimizar sofrimentos e angústias inexplicáveis. Há várias faces, estágios, esferas, sintonias. Um sem fim de etapas e interrelações. ? Como se dá a mágica de encontrar chaves com asas por todas as partes, é a pergunta... Onde é esse lugar profundo onde acompanhado de dois ou mais amigos esse ser em formação encontra respostas para mistérios que estão em um tabuleiro de xadrez.

E essa pressão do papel de cada um, da missão a cumprir, do que vai definir sua existência está muito mais impregnado em nós e ditando nossos passos que pode supôr nossa medíocre inteligência humana.

Por isso se dá voltas e tudo parece um filme que está fora de sink. A imagem vai para um lado, o som para o outro. Fazemos coisas que não compreendemos muito menos sabemos explicar. E que nos atráem para um lugar que não estava nos planos... Desconhecemos em profundidade a estranha dissimilitude instaurada por nós mesmos. After that, we sink!

O que deflagra o poder de identificar esse incômodo desconhecimento de si mesmo é a outra pergunta. Como materializar as chaves que vão abrir as portas por esses novos e essenciais caminhos até você mesmo?

Não é simples, não é? Mais fácil - e isso é aparente - é acender alguma coisa que entorpeça você e o faça deixar passar... Só o tempo estará passando. Você apenas perdeu a velocidade de agir com lucidez e velocidade. Perdeu o movimento preciso do exato instante.

Friday, July 10, 2009

O vício só cai feito luva quando as mãos estão nuas e frias... Não há nenhuma aventura ou ventura nisso. Há pressa. A pressa que não dispõe o tempo. Tempo que não chega nunca. Vazio que não se encerra. É nesse vazio de uma noite fria e sem mãos (que dirá Lua!) que me abraço à esperança de um fio de hora. Não há agora mais urgente que o vazio. A ausência de um desejo criativo escava e ara a terra apenas para o espaço em branco. Reto, estreio e platão como um poço. Uma caverna.

Como uma linha que liga eu ponto a lugar nenhum e reescreve em alguns segundos de morte as lembranças que me trouxeram a este lugar incômodo e com gosto tão amargo. Se há morcegos à minha volto, não os noto.

Percebo tão somente o esvaziamento do meu tempo presente que avisto nenhum futuro. Presentes, confesso, estão os pensamentos obscurecidos pelo que não disse, pelo que não me permiti sentir. Fui como uma seta para lugar desconhecido e não objetivo. Afinal, num mundo de tanta fumaça e agentes poluentes parece sempre haver espaço para mais um desejo vaizio e tóxico.

Nunca fui dada a este universo sem a presença da luz. Não antes de me perder por passos tão autônomos. É evidente que foram também autômatos. Robóticos. "Precisa reacenter o fiozinho que lhe conectava a você". Alguém me diz com força e minha alma parece ter ouvidos moucos. Batata! Movimentos loucos... É certo que, não por acaso, tive a chance de conhecer pessoas por ser mesmo dada à sorte.

Preciso dizer que das vezes em que quase morri, vi muita luz ao redor. E deve ter sido impulso de quem se preparou para oferecer o peito, o calor dos braços e o colo ao filho que me resgatou. É verdade que houve um grito imperativo da anestesista (creiam, também madrinha de crisma!) dizendo repetidas vezes com força: "RESPIRE!". Posso dizer sem medo? Tudo isso que me trouxe de volta...

Não, não acredito em fantasmas. E sim na consciência construindo suas imagens. Havia correria na sala, isso eu vi. Mas seria incompleto não admitir: nem todas as imagens eram matéria. Criei holografias? Sim, sou suficientemente criativa e lúdica, sei disso. Além de idealizar muito. Só por isso vou recontar com detalhes e sem qualquer susto de reler e enxegar: que tolice!

Era um caminho branco da senhora Azul de braços tão abertos! Flutuava sobre o mar imenso, pleno e, insisto, de tanta luz e leveza que me deixaria para sempre na eternidade incompleta do parto. Nada do que vivi e vi com susto me atormentaria agora, é certo. Por outro lado, não teria o calor dessas memórias amorosas, das alegrias que tive e vivo ao lado dos filhos. É tanta e
tamanha a ternura. O reconhecimento que tenho, a admiração pela personalidade de um e de outro.

Me são os melhores companheiros de viagem. Divertidos e criativos. Acendo quando estão perto. É Registro: são convivas de um pensamento raro. Exercito, mesmo quando não posso, a atenção e o olhar com carinho porque primo pela mesma felicidade completa que não é descoberta recente.

Seria exagero dizer que em cada instante reservado às nossas brincadeiras com as palavras vivo particular aprendizado? Não se escuto histórias sobre seres velozes feitos de terra, ar, fogo e água. E os silêncios, então!? Sou grata. Devo estar apenas numa fadiga de quem subia o morro e ficou estagnada? Sem o tal fiozinho é bem provável! É que passo minutos concentrada em enxergar apenas as sementes ainda não germinadas espalhadas pelo chão. Os desenhos de folhas e gravetos largados dos galhos entre raízes mal arranjadas.

Uma noite de lua e estalo: olho para o céu estrelado. Sei que me repito, mas quem sabe descubro uma nebulosa ou desvendo cada tipo de nuvem dos dias chuvosos e dos ensolarados. O senhor Outono não me ocupa mais. Farei em breve chegar a Primavera e logo percebo com mais delicadeza as cores variadas do crepúsculo e dessa madrugada que não termina, mesmo em meu estado de alerta desacordado. Ainda posso ser-para-a-vida num simples acerto de contas com o meu ponto de vista e o meu modo. Ânimo minha alma. Ouça-me agora! É hora de voltar à superfície. Vida longa à descendência desse feminino que veio do sopro do barro. E aos seres imaginários. Aos autores que em suas obras completas assinaram juntos obra que fala de Abtu e Anet, da Salamandra, do A Bao A Qu, do Basilisco e das Garouas,

Sunday, July 05, 2009

slapt slapt slapt slapt

Barulho dos cascos no asfalto
Cavalos em disparada
Homens sem camisa sobre eles

Cavalgam?
Comem poeira?
Não, eles apenas
Têm pressa de chegar

Não querem suavizar o impacto
Não pensam no estouro que ouvem
Querem apenas romper o tempo

Desembestados pela via
Não enxergam, daquela altura,
Os sinais vermelhos

Eles querem mesmo assim dobrar-se
Para falar com suas mulheres
Nos orelhões à beira da estrada


Splash splash splash splash

Riscam as ferraduras sem piedade
Sobem soberbos morro acima

Impáfia neles é como cheiro
Do pêlo sobre a pele suada
Dos quadrúpedes que montam

Não, não conseguem ver a lua
Ou o sorriso das meninas
Vêem as saias bulindo
Das moças das casas
De luzes coloridas

Friday, July 03, 2009


Um amiga me escreve: que mistérios tem....? Sua frase me caiu também como um vestido azul. Tanto que me dei a observar a mim mesma, medindo cada uma de minhas reações após ler o seu bilhete. E lhe sou tão grata Jeane quanto você me é rara. Então, descobri um único mistério que ainda me intriga. A memória é meu grande mistério. Repito ainda incrédula. O perdão e o 'pouco caso' estão em mim numa simplicidade imediata! Do mesmo jeito que respiro. É natural e não demora mais que o movimento de inspirar e deixar o ar - rarefeito ou não - chegar aos pulmões. Já esquecer....




Sou obrigada por brincadeiras de muito mau gosto a trocar senhas, vez por outra. Isso é quase uma tragédia para quem não dispõe de boa memória. Mesmo não sendo o meu caso, me chateia. Um elefante, dois, três, quatro, cinco, seis... Quantos desses incômodos mamutes com seu modo ancestral andam à solta por aí, fazendo pirraça e querendo roer uma carcaça do que já se foi? Adianta a pergunta? Não, não adianta, nem move uma linha...



Pois bem, por essa rotina, com a qual até já estou adaptada, tive que reativar uma caixa postal que há muito muito muito tempo não abria. Estava ela lá, bonitinha que só vendo, com suas teias de aranhas e mais de dois mil e quinhentos e-mails quase apodrecidos.... Pena ter que olhar para o que já é passado! E num tempo tão veloz como este. Tão imediato! Tempo que me permite até acompanhar mesa de debates com Chico Buarque e Milton Hatoum no mesmo instante em que fazem suas leituras para a platéia presente na Flip... sou obrigada a rever a tão caixa postal.



Foi para mim uma tristeza confessa. Lá está - estava! já deletei - mais de cinquenta mensagens (vixe!) com nome de persona desagradável até mesmo para minha pessoa atual, dada ao futuro e linkada mesmo no novo - que diga-se de passagem, para mim sempre houve. Como para Shirley Temple ali estava o tempo todo o pássaro azul.





Bom, ainda assim, o tal sujeito ordinário (e não me interesso mesmo pelo seu gênero) tão presente quanto poça de lama e lixo pelas ruas dessa cidade já abaixo do nível do mar chamada Recife. Ah... afirmação assim só me faz lembrar como já vi mar tão azul e de água tão limpa!



Por Deus, amiga Jeane, meus mistérios são muitos. Alguns tão famosos e notórios outros completa e secretamente vividos. Mas este, que agora não é mais mistério algum, estava numa latência de querer uma desculpa que só precisou de uma frase para fazer seu movimento e saiu.



Aqui, quis lembrar as duas coisas juntas. Talvez por buscar no modo versado o caminho de perdoar a mim mesma. São tantos os episódios que vêm me remetendo a essa obscura passagem da minha história, que cometi tamanha espontaneidade de enquanto expurgava-o de uma vez por todas, lembrar que ainda sou dada a mistérios em tal medida. Tanto que uma amiga - mesmo que ainda um pouco distante - tão querida e conhecedora até mesmo dos mistérios de Clarice é capaz de colocar cores mais intensas neles.


São mesmo Jeane, muitos os nossos mistérios nessa vida. Bem sabemos... E um deles é perdoar sempre. O outro é esse aprendizado para conseguir - desse modo transverso - o caminho por onde escapar do labirinto e esquecer. O que aliás nem me resta mais. Falo do labirinto...
Mais mistérios irão me aborrecer nesta vida, eu sei! Nada parecido com o primeiro grande mistério de nascer em busca do ainda não se sabe exatamente o quê! Perto dessa imensidão de possibilidades, qualquer encontro com persona non grata tão emaranhada num episódio desagradável é pura nuvem...
Obscuros mesmos são os contornos que nós mesmas conseguimos imprimir. Quando na dúvida, reforçamos linhas que seriam invisíveis. Vide "a reinvenção das experiências pessoais na literatura", para citar o amigo Carpeggiani, de Catherine Millet e Sophie Calle. Por isso, o maior dos segredos é simples assim:
Nessa vida, o maior de todos os méritos é o silêncio. Ou ainda, o delicado esforço em dar voltas até revelá-los com delicadeza e mestria.

Thursday, July 02, 2009

Vou lhe contar como é meu jardim. De verdade, há apenas um grilo que 'toca' o tempo todo sua mesma canção. Não há plantas, mas tijolos e um telhado de zinco. Sim, passeio pelo corredor estreito e vejo apenas parafusos. Há também nuvens e prédios. Andares de outras construções vizinhas. E neles, vizinhos a mim, solitários mais que eu. Ou mais. Muito mais, do que quando estou com os meus filhos...


Há plantinhas aqui e ali, escondidas pelas estruturas de cimento e argamassa. E azulejos... Vermelhejos, rosalhejos... Como rosas sim, mas alheias a mim e ao ar que humanos como eu são obrigados, nesse mundo moderno, respirar.


Há janelas sim, e flores amarelas bem diferentes das rosas alheias. Nelas há besouros enormes, pretos como a noite sem lua. Aliás, à noite este jardim se transforma. No lugar de enxergar o zinco e os rejuntes, vejo estrelas. Pontinhos luminosos que mais parecem exemplares de meia noite e meio dia, iguaiszinhas àquelas que conheci na casa da minha avó. Era no bairro da Torre. Alto como tal e onde a água chegava em tempos de cheia...


Ali sentia tão absorta de um mundo ao redor que me parecia muito menos fraca que hoje, nesse cantinho de Casa Forte. Posso ainda dizer: com o qual sonhei com todas as minhas forças... O tempo espera só uma beirada de história para se desfazer como um pão de alfenim...



Neste lugar, não há área de serviço. Furto momentos de tempo no espaço comum, à distância dos filhos, para não obrigá-los ao pouco ar que respiro. Então, ali, em silêncio de oração, brinco com a esperança entre os dedos... Diz o Ministério da Saúde, que me levará à morte. O Ministério do mistério de mim mesma diz que essa esperança deve ter parentesco com a lebre.


Como todo jardim deve guardar lendas e mistérios, lembro do coelho e seu relógio. Lembro do menino do dedo verde e das joaninhas como eu. De Jó! Sim, paciência é a ciência de todo o tempo. Sentidos despertos. Porque espero, com pressa, o outono. Espero com a esperança nos dedos acelerar os ponteiros do relógio do coelho branco e chegar ao mês de outubro, com vida e livre da esperança de nome francês.