Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Saturday, August 30, 2008

"Dime, ¿de verdad no volveremos a encontrarnos nunca más? ¿No me responderás algún día? Parece que no. Cierto? Aunque tampoco creo que me respondas el cierto".

http://lobosycabritos.blogspot.com/.

Gratas surpresas...
http://lotengoenlapuntadelalengua.blogspot.com/

Tuesday, August 19, 2008


"Se soubéssemos, não falaríamos. Nem tampouco pensaríamos"
Paul Valery

Monday, August 18, 2008

Monday, August 11, 2008


"A música, os estados de felicidade, a mitologia, os rostos trabalhados pelo tempo, certos crepúsculos e certos lugares querem dizer algo, ou algo disseram que não deveríamos ter perdido, ou estão prestes a dizer algo; essa iminência de uma revelação, que não se produz, é talvez o fato estético"


"A muralha e os livros", em Outras Inquisições, po.cit., p.11


"O prazer da leitura reside, então, nesse núcleo indecifrável da experiência estética que exige uma atitude de entrega do leitor à realidade outra que todo livro encerra ou, em outras palavras, certa ingenuidade que o leve a se aventurar por caminhos deleitáveis."



Por que ler Borges
, Ana Cecília Olmos., p.85

Pausa. Chovia pequenos riscos lá fora. Pode olhar pela janela enquanto investigava o mundo e suas redes. Suas simulações. Pausa. Pensou uma segunda vez. Seus colegas que criavam frases e cenas num discorrer franco do pensamento deles. Pausa. Criou aquela pequena coragem de levantar-se da cadeira, perturbando toda imobilidade, para esticar o corpo lá fora.

- Vou dizer olá à chuva!

Não riram. Apenas olharam em silêncio. Arranhando rodinhas no chão liso.

Desceu a escada, espaçosa, no ambiente de pé-direito alto, com posters originais de filmes incríveis, e atravessou a porta. Bastou-lhe o intervalo do pequeno toldo para espichar o corpo, equilibrar-se na ponta dos dedos e tocar a lona. Uma gotinha despretensiosa escorreu por sua mão alongada. Foi o gesto de ligar-se - mesmo que tão suavemente - à cobertura, que fez dela aquela gotinha, depois de percorrer distâncias, chegar até ali.

Logo essa tontura passa. Voltou aos amigos que criavam incansavelmente novos espaços. Voltou-se ao seu espaço real.

Sunday, August 10, 2008


"Da vida literária", outubro de 1937 - Por que ler Borges?

"Uma das coquetteries literárias de nosso tempo é a metódica e ansiosa elaboração de obras de aparência caótica. Simular a desordem, construir deliberadamente um caos, usar a inteligência para obter os efeitos do acaso, essa foi, em seu tempo, a obra de Mallarmé e de James Joyce. A quinta década dos cantos de Pound, que acaba de sair em Londres, continua essa estranha tradição."

Saturday, August 09, 2008

O Amor medido ofereceu-me tudo o que precisava. Dias marcados. Tempo para os filhos e para o trabalho. Tudo de bom e que necessito. A desmedida paixão não.

O outro lado disso é muito insólito. Alguém que chega dizendo, "não! isso não é tudo. Posso dar muito mais. Te dar o mundo...". A palavra não é "pretensão"?. Sim, fragmentada ou inteira.

Tudo tem vários lados. E a intuição às vezes grita no ouvido. É claro que toda hipérbole só merece a comprensão do que de fato é. Se há exagero, na certa há também interesse. Então, o jeito é oferecer uma medida mais exata. Farei treinamento intensivo.

Do que se trata esse reino excessivo das palavras??? Ré médios, mi menores??? Sempre afirmando ter como propósito "um mundo melhor", garantindo paz e harmonia. Não é isso que dá. É outra "impressão" a que oferece todo santo dia. Invariavelmente sempre já virou nunca, ou jamais - em tempo algum - E não se faz de boa lógica. Aliás, tá difícil se cumprir uma vez que seja por lógica. Razão é palavrão que não cabe.

Às vezes, compreendo, que a vontade está tão "adiada" que é preciso executá-la. Outra palavra que corta que nem faca. Tem mesmo dois sentidos. Dois lados. Oh difícil trajetória das almas perdidas, incompletas e intranqüilas. Não há nenhuma poesia nesse tom de tragédia. É horrível. Terrível. Escuro sem luz alguma, sombrio. Um confinamento voluntário motivado pelo preconceito, pela discriminação, muita impáfia e hipocrisia. Disfasia do medo de crescer. Afasia da força de compreender.


Então, tá. Tudo bem, com mais um pouquinho de paciência, vou dizer que mesmo quando nossa natureza é de quem "aceita o melhor", tem uma hora que chega. A alma chega junto, sabe? Mesmo que muito muito insatisfeita com o caminho que nossa persona escolheu. E aí, ahhh, aí basta. É hora de abrir os olhos e fechar o peito. Trancafiar o coração, seguir em frente e aceitar o bom, de territórios mais neutros, perceber que sopram outros ventos.

E não tem nada melhor que a inteligência comum. Nada de pirotecnias ou genialidades. Não. Começa-se abrindo mão das trocas, dos carinhos, do projeto feito, contado, refeito... da presença, do convívio, das qualidades e dos defeitos.

E isso não devia motivar maledicência. O que já é um segundo erro. Sejamos tolos, mas não tanto. Qual afinal o propósito? Se não é preciso que a vida preserve encantos? Que medo é esse de morrer! Será que não há uma missão, uma ordem para se trabalhar por ela? Coisas deixadas por fazer? Alguma pesquisa, sonho bom que ocupe a mente? um movimento que seja mantendo o corpo ativo, caminhando para frente? Um passo, outro passo, outro passo. Um dia, uma noite, outro dia...

Não há mais espaço para sentenças, injustiças, mentiras, vileza e vilipendiência. Nem concupiscência. E haja tolice em medir forças ou domínio junto às outras pessoas. O seu "poder".

De fato há um sem fim de caminhos para escolher. E há, sim, em meio a tantos, sempre um caminho mas sereno. Eu decido deixar ou não aparecer na minha vida. Feliz e tranqüila. Legitimamente caminho. Isso é bom. Bonito quando o Universo "conversa" com a gente! E aí já parece alguém bom de silêncios e de uma busca muito clara. Naturalmente, cheia de luz. Iluminada. Faz mais sentido. Melhor assim.

O tom é mais para cima. Por maior senso de responsabilidade, não dá para se "alimentar" da dor. Isso é para desumanos: quem gosta mesmo de fazer terror, horror. Aí tem é dó. E isso não é bom. Também não intento mais. É demais. Quero menos. Bem menos.

Preciso confessar que meu gênero é comédia, ficção, em alguma hipótese romance. Mesmo que ainda esteja apenas habituada a documentários. Drama só no cinema. Um filme simples e bom, pra si mesmo e para o outro, certamente ganha mais. Nisso não importa ou interessa o que estão vendo alguns críticos.

E muita atenção se estiver vendo justo o que queremos. As coisas são como são e não o que queremos torná-las. Contrariando as circunstâncias, graças à uma força muito divina, tudo vai se arrumando de maneira muito mais humana e positiva. Importam resultados, fotos, fatos, ambientes...E os destinos.

É muito pequeno pensar em exelentes estímulos. Sim? e daí... e o resto? Dá licença de dizer que o mundo tá aí...Dura segundos o lado fulgaz da vida. Passa rápido. Tudo isso dissolve, vira brisa.. Desejos nunca constróem, exceto redemoinhos, furacões, tragédias e misérias.

Sonhos e planos bem elaborados sim. É justo o direito de dedicarmo-nos ao que decidimos e levar a vida a sério, ainda que com o melhor dos humores. Um humor bom, que ofereça uma ação propositiva, que motiva o outro a ir também buscar de volta a sua própria vida depois de se emprestar tanto a uma amizade.

E isso é apenas o jeito, porque já se deu, agora é tarde. Essa é a melhor alternativa. "Quem empresta nem pra si mesmo presta" dizem os provérbios adiantados. Bom, lá vai de novo:

Agora é tarde. Não adianta chorar. Se não decidiu com muita clareza na hora. Mais tarde, vai se cobrar. É preciso pensar antes. Se não, algo vai dar errado. E melhor do que tanta confusão é a satisfação de alguma segurança, todo aprendizado e muita muita sabedoria.

Certeza de recomeçar e que logo todo tumulto passa. E que vai terminar bem. A noite e o dia. Fora isso, tudo mais é pura tolice. Insandice, babaquice, mesmice, leviandade e burrice. Para quê e por quê insistir na dor? Se já tendemos ao caos, dar sorte ao azar é suicídio. E tender ao melodrama, uma chatice. Um suplicio!

Não escolho "isto". Prefiro aquilo. O que está bem longe daqui. E não apenas pelo mérito criativo. É para manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. Esse é o ponto "g". Da graça, da gentileza, dos gestos, do gosto pela vida. Fico feliz fabulando.

Saturday, August 02, 2008


De Luís Fernando Veríssimo: Clarice!


Em 1953 meu pai foi dirigir o Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, ligada à Organização dos Estados Americanos.


Fomos morar em Wahington, uma aborrecida cidade burocrática, no começo da era Eisenhower. O diplomata Mauri Gurgel Valente e sua mulher Clarice estavam lá com os dois filho, Pedro e Paulo, e foram os primeiros brasileiros a dar as boas-vindas aos recém-chegados. Eles seriam os melhores amigos dos meus pais nos quatro anos em que ficamos em Washington. Clarice e minha mãe, que não poderiam ter personalidades mais diferentes, tornaram-se amigas de infância. E sem que houvesse qualquer cerimônia, meus pais foram designados padrinhos extra-oficiais do filho mais moço dos Valente, o Paulo.


(Uma vez fui levar a Clarice e os dois meninos em casa de carro na chegada o Paulinho perguntou: "Não quer entrar para tomar um cafezinho?" Grande surpresa. Ele mal começara a falar, era provavelmente a primeira frase inteira que dizia.) Várias fotografias da Clarice, inclusive algumas que têm saído na imprensa, foram tiradas pelo meu pai durante o convívio dos dois casais naqueles anos americanos. Também houve uma designação do meu pai como fotógrafo exclusivo extra-oficial da Clarice.


Eu tinha 16 anos quando chegamos a Washington e a minha primeira impressão da Clarice foi a de todo mundo: fascinação. Com a sua beleza eslava, os olhos meio asiáticos, o erre carregado que dava um mistério especial à sua fala, e ao mesmo tempo com seu humor, e seu jeito de garotona ainda desacostumada com o tamanho do próprio corpo. O fato de que aquela Clarice era a Clarice Lispector não me dizia muito. Eu sabia que era uma escritora meio complicada, nunca tinha lido nada dela. Só quando voltamos ao Brasil li O Lustre, Perto do Coração Selvagem e, depois, os contos, extraordinários. "A Legião Estrangeira", "Amor", "Uma Galinha", "Macacos", "Laços de Família", "Festa de Aniversário" e tantos outros, e o melhor conto que conheço em língua portuguesa, "A Menor Mulher do Mundo". Em 1962 saí de Porto Alegre e fui morar com a minha tia, no Rio. A Clarice, que então já estava separada do Mauri, era sua vizinha no Leme e pude conviver, e me fascinar, um pouco mais com ela.


Agora, folheando alguns livros da Clarice antes de escrever isto, dei com uma dedicatória dela em A Maçã no Escuro para "meus queridos Erico e Mafalda".


Uma dedicatória brincalhona, datada de julho de 1961, em que ela destaque que o preço do livro nas livrarias é de 980 cruzeiros e que portanto está lhes dando um presente valiosíssimo, e recomenda que ele seja protegido com uma capa colante, do tipo que gruda na mão e "prende" o leitor. No fim há um adendo que eu ainda não tinha visto: "Luís Fernando, considere este livro seu também, por favor. Divida 980 por três e você terá preciosa parte. Sua Clarice." A lembrança da Clarice vale bem mais do que 980 cruzeiros, mesmo com todas as correções monetárias acumuladas em 47 anos.

"Não há felicidade sem virtude"

Denis Diderot

"Gallione, irmão meu, todos os homens desejam a felicidade mas nenhum consegue perceber o que faz a vida tornar-se feliz. É meta tão difícil de conseguir que, em se tornando o caminho errado, quanto maior a pressa, maior a distância do objetivo. Quando o caminho conduz à direção diversa, a velocidade amplia a distância."

E cada gesto apressado nós afasta do rumo certo metros...Como é delicado e como exige tanta atenção viver bem! Como, na vida, tudo é tão precioso e merece que nossa ação seja cuidadosa e medida, pensada. É preciso nunca esquecer de inverter a lógica do espelho, que reflete sem pensar. A vida de quem é real é tão mais simples, que rezo todos os dias porque tive a chance de conhecer essa simplicidade. De conviver com ela e estar junto. Posso não parecer mesmo alguém feliz. E, claro, sofri e sofro com muitas desiluções nessa vida. Tenho, ainda, com todo esforço e dedicação, muita tristeza em mim... Mas, sim, estou sempre acordando um estado dessa simples e terna felicidade de uma vida mesmo real. Sendo uma pessoal real.
 
Sim, tenho sonhos e planos. E quem arrisca olhar de fora não pode ter tão logo a pretensão de conhecê-los. Muito menos de "refazê-los" a seu modo. Não, não sou muito firme. Oscilo muito. E sim, perco o equilíbrio, embora haja em mim tanta força e motivos para ser dedicada e feliz. Tenho um mundo inteiro de tanto amor de verdade. De um jeito menina e de um jeito menino. Essa é a mais completa das felicidades numa vida para uma mulher de verdade. O amor verdadeiro de homem já é pedir demais. Ainda assim, na medida do que foi e é possível, percebo que não pode haver em mim qualquer queixa, reclame ou sentimento não lúcido, o que seria muito amargo.
 
Querer provar do sal tem sua dignidade. Se ocupar das coisas que não são assim "tão boas" ou que à primeira vista não parecem "mesmo divinas" é de algum mérito, se me permite opiniar. Bom, é isso o que eu penso. E ao meu modo, venho existindo. Resistindo. E vivendo. Bem. Ao meu modo. Real.