Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Saturday, July 22, 2006



"O auto - retrato de Mapplethorpe mostra sua densidade de entrega".
Roland Barthes

,então. Veja com olhar calmo. Há uma palma da mão e dedos em suaves, descomplicados. Descomprimidos. Movimentos. Há uma entrega de parte. Porque já partiu de um princípio. Há tanta força na delicadeza. E o mistério que está sempre no sorriso. Como precisamos de um sorriso. Como uma Alegria tola salva dias inteiros de aflição. Os olhos vão logo se erguendo, subindo no seu extremo externo. Não importa se os cílios traem em instantes de abrir e fechar que são. O mar que há aqui dentro é calmo, sereno e cheio de propósitos. O único barco que se enxerga flutuando é o argumento. A lógica. A própria verdade e ética. Mentir para se mesmo remexe em tudo. É preciso um conhecimento profundo de suas dúvidas e de suas certezas para não abrir flancos.

E eu que pensei na essência da moda da mulher de preto. Que usou por condição de ser órfã. Vingança não é apenas um prato que se come frio. Na origem o provérbio é mais delicado: O prato que alguém serviu quente demais... Por isso, muito cuidado para não ferir, não magoar. Nos dias de hoje, corre - se demais. Só há arranha - céus e marcas da superação dos limites do humano no nosso campo de visão. O inconsciente coletivo é sempre, no fundo, uma grande competição. Olimpíadas, Copa do Mundo. Abrir a cabeça pressupõe traumatismo craniano. É simples avançar, vai junto um sentimento de perdão e de compreensão muito maior do que o que estamos acostumados. Acostamados é um amalgamar. Escapou um riso frouxo de neologismo. Mas avançar bem até o andar certo é mais. Por isso, a imagem de Mapplethorpe é de um braço estendido e não de um abraço ampliado em dois braços abertos, escancarados.

Estamos tomados por idiossincrasias e desdobramentos que não estão exatamente no outro. Mas como se estivessem no ar. A aflição mais simples está em perceber o coração de pulga que pulsa como percebeu na que estava ao lado do lápis que Cortázar descrevia. E essa coreografia imperfeita de mãos suaves se esvaindo num conjunto de piruetas e gestos pensados está me cansando o espírito. Há uma satisfação secreta em ativar instintos. Talvez a ciência e o estudo da química expliquem um dia. Um dia. E não é hoje... vou ao mercado comprar feijão verde de verdade. Não aquele que encharcam e transmutam depois colocam à venda no supermercado. Hoje quero arrumar fruteira na mesa e enchê - la de mimos. Trazer flores do campo. Porque já ganhei rosas vermelhas. Fazer boa romaria em casa, repousar as linhas do corpo, de pernas para o ar.

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