Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Thursday, April 26, 2012

Just a little dance


Only a little time to dance. Choose one and dance. Just for a few time. Take your soul before choosing. And dance with happiness in your eyes. Dance with some warm in your heart. Dance to hold hands. And change some old ideas. Transform, in someway, the way you're thinking. Modify some feelings about yourself and the perspectives of your life. And be happy, one more time.

Friday, April 20, 2012


Urro de Ursa

     Primeiro: estou sentindo o que chega com uma força de ursa que também sou. Aquecida e irritável. Era sangue em massa de força preso nas veias. Nas têmporas. Não urrei. Não soube abrir a boca ou levantar os braços num grito legítimo de dor. E aquietei toda aquela massa acomodando em veias frágeis o volume de um rio caudaloso. O silêncio é mais mortal que venoso. O meu ao menos foi. Pensei que estaria morta no minuto seguinte porque o sangue rompeu vasos e tornou se dores, na nuca e espinha dorsal. Dorso de ursa de olhos fixos. Esbugalhados.
    Mas o silêncio que mata consolida. Hoje alivia aos poucos. A solidão do inverno ou do frio de bicho sem pêlos já passou. Também não opto por hibernar. Saio pelos campos para ver a primavera chegando de mansinho. Em cores leves, em tons suaves. Nude. Cenas em cores que vejo até nos sonhos. E o extrativismo humano arregala olhos diante disso. A minha crença ainda é vermelha. Mas sou gata azul no escuro, daí não assusto. Choro lágrimas em letras pretas sobre pedras brancas que não me darão, por isso, um ser possível, real. Meus olhos são porta para o novo, o tempo todo. Quem os vê de perto não resiste e eu? Sofro. O novo agora é mais vivo em mim que antes de dar esperanças de novo. Não apenas sonho. Vivo com imagens posteriores.
     Meu pensamento, o tempo todo, transporta para algum outro lugar. Abro portas numa fração de segundo e deixo a visão chegar. Não importa se isso não é comum. Importa minha força em saber das imagens e do pensamento em transportar. Não é transe, só uma capacidade de sintetizar, visualizar. Deve haver uma palavra para isso.  Não é somente imaginação. Tem também uma espécie de materialização da imagem no meu pensamento, com uma força de coisa real. Qual a palavra diria isso? Invenção?a  gente convencionou chamar avião de invenção e voou. As microondas estavam ali e ganharam botão do play para aquecer moléculas de água.
     Como a raiva que tenho agora. Esquenta meu corpo, dá sintomas de ira, sangue que ferve e depois amolece. Fica doente. Não quero esse roteiro para mim. Vou modificar com a mesma capacidade de pensar. Não interessa o que esperam do meu jeito ingênuo e, às vezes, pueril. De pessoa cheia de esperanças mesmo. Vou mudar meu pensamento e fazer outras imagens. De viagens. Afinal, sou muito boa nisso.

Wednesday, April 18, 2012


Efeito Borboleta


Quanto tempo vive uma borboleta livre? Depende, varia com a espécie. Em média, uma borboleta vive, ao certo, duas semanas mais ou menos. Incertamente, pode durar em história, muito mais. Ou muito menos. Uma espécie da Costa Rica vive dois dias. As espécies tropicais vivem de seis meses a um ano. A penas. Duras penas.

E as asas, por sim? Se morre tão rápido, por que borboleta tem asas tão coloridas? Porque as cores, de fato, são importantes para machos e fêmeas reconhecem um ao outro como sendo da mesma espécie. Da mesma família. As cores brilhantes servem para avisar aos predadores, em geral pássaros, que há substancia tóxica. Portanto, não toque nessas que brilham até no escuro.

Outras borboletas e mariposas, embora não sendo tóxicas, podem ter cores que mimetizando espécies tóxicas e para proteger dos predadores. Fingem gostar do mesmo gênero. Adquirem modos de homologação de si mesmas ou deles mesmos por proteção. Algumas borboletas disfarçam e assim passam a vida em cores semelhantes às cores do ambiente. Camufladas e, portanto, menos visíveis ao próprio entorno. Tal perigoso lugar que as cerca.

Como é longa a busca! Simplifico e respondo: Quantas borboletas e mariposas existem e onde elas são encontradas? As borboletas e as mariposas são encontradas em todos os continentes, exceto na Antártida. Não se confundem com dois dedos de água e muito gelo. Os cientistas acreditam que haja aproximadamente entre 12 e 15 mil espécies de borboletas e de 150 a 250 mil espécies de mariposas no mundo. No Brasil, lugar do qual se apropriam, há mais de 3.500 espécies de borboletas já descritas. No cerrado, existem aproximadamente mil espécies de borboletas e de 5 a 8 mil espécies de mariposas. Milhares de espécies ainda estão por serem descobertas e descritas pelos cientistas e encontradas soltas, flutuando entre montanhas.

Para que se facilite o encontro, falemos da diferença entre borboletas macho e fêmea. Em muitas espécies de borboletas, as cores das asas dos machos são diferentes das fêmeas e assim é possível saber quem é quem. A maneira mais segura, no entanto, é analisar o abdômen. As fêmeas com abdômen mais arredondado e possuem uma abertura também arredondada na pontinha. Os machos possuem uma pequena abertura vertical também. Mas é possível distinguir de longe.

É seguro tocar uma lagarta ou borboleta? Algumas lagartas são recobertas por pêlos urticantes que podem causar desde um ligeiro desconforto até queimaduras leves. A maioria das lagartas são inofensivas. Crisálidas e borboletas são extremamente delicadas e podem ser danificadas facilmente, mas são inofensivas ao toque. As asas das borboletas são recobertas por escamas. Essas escamas se soltam formando pó, que pode irritar os olhos como qualquer tipo de poeira.

Por fim, a melhor forma de aprender sobre esses insetos é observá-los em seu ambiente natural. O mais importante e que precisa ser dito, é que trata - se de borboleta. Sempre. Não mariposa, nem lagarta. A força está na sua fragilidade e delicadeza. E no jeito leve de compreender a beleza da vida.

Agora, se me pergunta o que é preciso fazer para criar uma borboleta? Primeiro, é preciso encontrá - las na fase lagarta. Em plantas de construção de um jardim. Às vezes se perdem em quintais ou terrenos baldios. O mais importante é detê - las pelo pé. Nunca abordagem direta, tê - las na mão. Mas pegar a folha ou galho da planta onde você a encontrou. Se a planta não estiver em um local fácil, pegue uma quantidade maior de folhas e guarde-as em um saco plástico na geladeira... O frio às domina. Não suportam e cedem.

Passo a passo dito: Colocar a presa num amontoado de folhas frescas, e vidro com furos na tampa. Não há mal que seja caixa de sapato cortada ao meio. Troque folhas velhas por outras frescas e jogue fora fezes, diariamente. Depois de alguns dias, a lagarta vai parar de comer, ficar quietinha e se transformar em uma crisálida. Aí é só esperar mais alguns dias para ver a borboleta esticar e secar as asas antes de sair voando. Você pode fotografar antes de soltá-la. Não hesite. Seja ágil e tenha êxtase raro. Será finito.

Tropicalismo

"Da cama não via o jardim. Um pouco de bruma entrava pelas venezianas abertas, o que se denunciou ao homem pelo cheiro de algodão úmido e por uma certa ânsia física de felicidade que a cerração dá".
Clarice Lispector, A Maçã no Escuro, pág. 16.

Faltam doze meses para ser novamente abril, Solar. Cadê a sorte que abril pariu? É quase tempo inteiro, completo, que ocupa meu pensamento. Sim. Porque preciso dizer sim ao sim, e não ao não. Sendo assim, aí está o direito que reivindico. Do adeus. Eu tenho sim um nome. Pode ser que me chamem por  algum grego. Etérea, de fato, sou eu. Como e por quê, não entendo? O nome que chamam em uso constante é Geo. Foi então que amalgamou a versão terra adubada. Porque em mim tudo brota! Qualquer fantasia, projeto, ideia iluminada. Não vejo do contrário, mas pelo avesso. Por dentro. Não sou adubo, muito menos aceitar de qualquer ruminante sua proposta.

Agora não estou mais com medo. Estou mais com Pedro, que com medo. Deus me livre de ter medo agora. Bem junto da porta está São Pedro, bem no fundo do mundo do mês de São Jorge e logo no ano do Dragão. Foi para dar fim ao medo e à paralisia. Fim da apatia. Se houver, de novo, pode haver panis et circensis? Só no fim do mundo. No fim da vida. Minha vontade é a de todo mundo, do mundo inteiro, até o fim do mundo. Se eu me despeço agora, no fim de tudo, é porque não tenho medo do que não quero que eu seja agora.

De onde eu vim o tempo corre lento. Na verdade, é. Tudo carece de pressa, antecipa a poeira da estrada. Esta é a imagem que acalenta meu espírito: as retas incompletas que pontuam a estrada. Tudo é incompleto e interrupto. E se houve "Novos Baianos", há novos manos. Há poeira cósmica em tudo o que penso. E se realiza é porque houve impulso e certeza. E não há sangue pulsando que encontre seu lugar em veias frágeis quando o endereço certo não é o plexo do peito de Pedro com medo.

É perigoso saber de tudo e assim eu morro cedo. Não é Amor se não for confuso e incerto. Não é amizade se for difuso e certo. Não cego, nunca mais perco o meu ponto de vista: livre e novo. Arrebatado, solto no espaço, de ponto perdido no Cosmos. E neste jardim psicodélico, sou Ninfa. Tenho medo de Dragão, mas isso não é tudo. Há mais o que investigar entre o céu e a terra. Há mais mistérios e toda essa filosofia fã me cansa. Fadigo, e não digo o que penso para não partir e soltar partículas de mim.

Há luz. Eu vejo o fim do túnel, depois do fim do mundo. O reino de seres que a Terra liberta. O inventário é teu, o inventivo espírito céu é meu e teu. No ponto em que são: do alto do céu, no canto do chão. A música não espera. Encontra em becos escuros e frequencia não autorizada o seu rumo, sua estrada. Como num sonho, a voz entra em casas, barracos, botecos, fiteiros, ruas, vielas estreitas e chega até o fim do mundo do coração dos que ouvem e preenche o dia morto, o canto de chão. Sei não, mas ninguém pode frear um carro em alta velocidade com um simples puxão. Sei não.

Funciona mudar a marcha menor em alta velocidade? Estoura a caixa, dos peitos, da marcha. Ré? Não reconhece! Ele nem sabe que existo ao tocar Blues. Disse e tomei nota: são três lições. Ouço ainda alguma cítara no ar, é puro reflexo, como era meu sorriso, nesse período tão sem nexo. Se foram, os dois navegantes sóis ao pôr - do - sol, no mesmo mar, não no mesmo barco. Marco Polo, grito! Guia por outro roteiro, esse deixa homem aflito. Fala das cidades que descobriu e contarias em detalhes pra mim. Deslizarei feita melodia. Suave, suave. Eu não nasci para ser som, nasci no fim da luz.

Se também foi assim com você é pura circunstância do destino, estarmos aprendendo juntos morrer um pouco mais a cada dia. Não é objeto vivo, não é desejo morto, não é segredo torto, não é suspeita feita, ou história que deleita corações vazios de paixão. É. Hoje serei toda - ouvidos e canto de baleia, até me desfazer em espumas remetidas às areias vermelhas por um mar histérico por uma bola de fogo e um céu aberto.

Já fui jogada ao vento, já sou folha solta e outono de um amarelo triste. Perdi o verso num verão romântico e tudo o que sei é que ninguém se liga no mar. No seu reino, ninguém se liga no mar. Quer loucura mais triste que viver sem a busca de ser feliz? Sem sequer pensar em ver o mar? Abstrair do pequeno Universo o mar? Já no meu reino real, o mar brota de mim. O tanto de bruma que entra pelas brechas de espaços abertos, logo denuncia o jeito de ser feliz e ânsia física de felicidade, dia e noite, noite e dia. Em dia branco, em noite escura. Em todas as cores e mesmo na ausência de todas. Meu modo é da cor da felicidade. Estou de acordo, com o ser feliz. Pronto e ponto. No outro blog!                                                              

Woody bebeu Foucalt

O homem é uma invenção recente que a modernidade criou na esfera do saber. É o que diz Foucault. Análise que é feita utilizando discursos de cada época, com o suporte da arqueologia e que identifica uma ruptura entre saberes a partir do século XIX. Novas formas de racionalidade que serão operadas pela episteme, explica Foucault.  Com foco nos discursos praticados em cada época, no filme "Meia-noite em Paris", o cineasta Woody Allen vai encontrar uma fala comum entre homens e mulheres desses diferentes períodos da história: A ideia de remeter-se ao passado, em busca de um certo brilho perdido, não conservado pelas eras posteriores. 

Diante das escolhas feitas pelo pensador americano do século XXI em seu roteiro, podemos supor algumas reflexões feitas a partir do discurso de cada época em sua afirmação e negação de alguns valores.  Uma das primeiras preocupações de Gil, em seu confronto com admiráveis nomes da Literatura, Artes Plásticas e Cinema, é o debate sobre coragem, virilidade e entrega amorosa que ele entabula com o aventureiro Hemingway. Entre conflitos tão diferenciados os dois personagens estarão em interlocução sobre os temas mais importantes (amor, morte, destino, fidelidade) até o ato final de passagem desse californiano até a época inaugural dos pensadores modernos. Um dos melhores momentos, quando estão no carro que permite a transposição pelo tempo, o escritor nascido no século XIX vai impregnar o colega escritor, que mal era nascido, com o pensamento de que somente uma mulher em grande paixão é capaz de fazer um homem perder o medo da morte por instantes. 

Com Gertrude Stein, a inteligentíssima e amiga de Picasso, Matisse, Elza Pound, Joyce e outros dos "Tempos Loucos", Gil Pender (Owen Wilson) vai compreender que seu romance precisa ousar mais. Que é preciso dizer algo que está além dele mesmo e que vai encorajar as pessoas. E o roteirista de Hollywood, trabalhador e operário do cinema, em sua aspiração de tornar-se escritor com uma obra talvez relevante, quem sabe memorável, que permanecerá em tempos tão perecíveis acaba oferecendo a compreensão de que é preciso rever a visão sobre as coisas em seus valores. Como caminhar pelas ruas de Paris quando chove. Ser lembrado por gostar de Cole Porter, e fazer escolhas que distam de uma rotina de homem comum como o casamento com uma mulher com quem nada tem em comum, que conhece tão pouco, somente por admirar seu humor e por ela ser "pretty hot". 

Merece menção o valor que o cineasta oferece à personagem vivida pela atriz Marion Cotilard e seu relato, em forma de livro. Uma bela francesa que o atrai para aquele outro período da história. Que tortura Pablo Picasso, um artista passional e que precisa tratar como uma criança. A personagem, Adriana, acaba por fugir com Ernest Hemingway para África. E, segundo previsões de Gertrude Stein, voltará arrependida. Em estilo narrativo, de testemunho dos fatos, espécie de diário, Adriana abre o portal por onde parece ter transposto o argumento do roteiro. O relato, por sua vez, é editado apenas em francês, portanto fora do alcance de Gil, de forma que precisa procurar a guia turística, interpretada por Carla Bruni, para ter acesso aquelas palavras e memórias. Adriana acabará por fazer a mesma escolha que tanto perturba Gil, deixar o seu tempo por uma época anterior, que lhe parece tão cheia do brilho que se perdeu na década em que vive.

Allen propõe uma revisão das tendências do pensamento contemporâneo. Desde de uma mudança radical de comportamento, nessa episteme pór-moderna, tão impregnada da importância ao capital, boçalismos, falsos intelectualismos e troca do desejo de ser, pelo desejo de ter até o que está no ser um artista. Por outro lado, é possível de dizer, vendo o filme, que a inteligência real sobreviveu entre os valores mais preciosos a despeito da época, do tempo que vivemos.


Tuesday, April 17, 2012

Violência não é somente uma coisa explícita. Que se possa constatar num exame de corpo delito. Nem todo ato violento provoca hematomas. Marcas sim, reais e invisíveis. Há um outro tipo de agressão, de intimidação que fica num intervalo de espaço/tempo. Preso em algum lugar da gente. Algum ponto do cérebro que não identificamos de imediato. Violência que vem revestida e brota como medo. Atitudes de recuo, reações ilógicas e impensadas. Nem sempre são, devidamente, processadas pelo nosso consciente. É como um sentimento que ultrapassa compreensão. E a maioria de nós, não enxerga em si mesmo. Não percebe quanto está sendo vítima desse medo, gerado pela violência, motivado por uma atitude de intimidação.

Posso dizer que venci o medo, nessa idade adulta, porque sobrevivi tantas vezes! Tive que confrontá-lo para continuar trabalhando (como repórter cobri três rebeliões), educando meus filhos, fazendo companhia a ambos. Também outros parentes e amigos. Em resumo, continuar vivendo. Hoje, eu consigo identificar sensação prévia ao buraco negro que é o medo. Reconheço, quando mais silencioso, mais sinto como violência brutal, porque o intuito é a intimidação. E como tímida, posso dizer: não é bom. Todo o meu sistema consciente, depois de outras experiências e terapia, identifica de imediato as reações promovidas pela violência sofrida e intimidação promovida, logo no dia seguinte.

Estava ontem, no Cinema da Fundação. Brincava com duas amigas de ocupar a beira do rio, em frente ao estacionamento. Sem medo de qualquer interferência ou abordagem indesejada. Forramos um edredon, compramos cappuccino, cigarros e cervejas. E ficamos relembrando sensação do domingo mais incrível de nossas vidas, ali no Cais José Estelita. Conversamos até começar o filme e subimos sorrindo, felizes, escadas do prédio até a sala de exibição. No término da película, a notícia: "Apagaram tudo. Passaram uma pá de cal nas pinturas, ilustrações, figuras, intervenções e frases escritas".

Meu corpo reconheceu na hora. A frase tinha a força de uma bala, efeito imediato. O corpo mudou de temperatura, o sangue correu para algum outro lugar que não o dele. Em geral me escorre para os pés. "Que desejo de nos intimidar! Se acham que passar cal vai tirar da visão das pessoas o que pensamos e sentimos, estão tão enganados". Nenhum tinta pode apagar da nossa memória o que pensamos e vivemos, nem tinta de jornal. Nem o que nossos descendentes já sabe o que entendemos de tudo isso e dessa violência, que ficou impregnada agora. Nem que memória guardaremos desse Prefeito, que, visivelmente, favorece a situação. Igual a tantas outras repudiadas por pessoas do partido dele. Ações pelo que foi desfeito do Recife, por essas pessoas que pensam que poder não se perde. Perde sim.

Nenhum galão de tinta consegue tapar o sol que amanheceu ali, naquele domingo quinze. De um abril solar! Porque o que vai na gente hoje, não duvidem, vai também nos nossos filhos nascidos e que estão por vir. Ainda somos maioria, tal como egoísmo dessa elite permite. Que de tão centralizadora e excludente resume a pouquíssimos. Podem usar a força. Cobrir tudo. Tentar apagar o que foi vivido ali. Essa tinta só vai servir para avivar nosso desejo de transformar e colorir tudo de novo.

De ensinar outro mundo para os nossos filhos. E continuar fazendo a nossa parte de não deixar para depois. Intervir agora, protestar, debater, explicar nossos motivos de maioria excluída de projetos megalomaníacos como este. Não foi para isso que criei esse espaço. Vejo agora escrevendo palavras que nunca estiveram por aqui que meu medo surtiu efeitos maiores, do que eu mesma dimensionaria. Não consigo criar em minha mente a ideia de seres humanos diferentes, nesses conceitos reducionistas de bons ou ruins, certos ou errados. Para mim são apenas sempre únicos. Isso é tudo. Cada um a seu modo. Por seus motivos. E acredito mesmo que cada visão de mundo pode sempre acrescentar algo novo.

Como aprendi com meu DNA grego do dedo vizinho do pé maior de todos. O que não entendo nesse caso é: se somos moradores da mesma cidade, porque uns parecem egoistas que querem fazer os outros se passarem por tolos? Já ouvi tanta coisa inventada sobre esse povo, que sou eu, que está envolvido nessas ocupações e manifestações em defesa de Estelita, que virou o mais frequente motivo de risada. 

...

Passou. Pelo parágrafo escrito posso de dizer: a frase que estorou ontem em meu ouvido, surtiu outro efeito que não o medo. O gosto amargo no estômago pelo gesto intimidador, já passou. O que não vão conseguir é apagar as histórias que temos agora para contar. É bom lembrar a esse povo, que sou eu, que a mobililazação apenas começou.

Monday, April 16, 2012

Ô Estelita, foi o futuro chamando...


(um, dois, três, quatro, cinco)

Oito da manhã, domingo quinze. Vinte e cinco mil pessoas - ou mais - despertam. Amanheceu um dia lindo! Quantas com o cais na cabeça? Como estão as bicicletas? Tudo em cima para começar uma nova era.  Toalha e roupa de banho. Garrafa d'água, isopor com gelo, guarda sol, piscina de bom tamanho, tinta e camiseta. Fava no pote de sorvete. Alguns descartáveis, porque é o jeito. Deviam fazer copinhos de papel reciclado ou biodegradáveis. Depois, cada um junta seu lixo, isso é importante mesmo! Pelo celular, quem falta chegar? Chama Joana, Juana, Fabiana, Andrea, Ana, Cristina, Mariana, Adriana, Margarida e Guida, Maria, Alice e Luci. Eu disse que chegaria cedo. Alguém conhecido é sempre um ponto. Um lugar pra ficar. Vamos.

(um, dois, três, quatro, cinco, seis)

Quais são os ônibus que passam por lá? Os mesmos do terminal de Santa Rita? Não sei, vamos perguntar. Criança exige um cuidado extra para chegar. Elas estão lindas! Chapéu, roupa clara, muito protetor solar. Melhor ir de carro? Tivesse a cidade um desenho urbano coberto por linhas de ônibus não precisava mais combustível queimado em circulação num domingo. Vão criticar! Deixa falarem. Esse povo que fala sem saber de nada precisa dispersar a raiva sem focar. Daí acaba sempre mirando para dentro, para onde não devia mirar. Não tem coragem de uma crítica direcionada, nem de se informar para não ter o trabalho de pensar. Pois nós vamos e levamos nossos filhos, para entenderem melhor como se faz uma cidade. Nosso protesto é para termos mais lugares onde conviver. Ninguém aguenta prisão forçada em lares. Vidas suspensas. Inventamos um novo Ibirapuera, Luiz! É, ocupação das avenidas. No alto mesmo, só pipas coloridas! O céu azul, limpo. Adultos, adolescentes e crianças brincando. Uma liberdade linda. Os armazéns e o Cais Estelita.

(um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete)

Olha o chapéu para proteger do sol e do desânimo com os gastos, bora todo mundo dando contribuição para faixas e tintas. Transporte dos equipamentos. Ainda bem que uma emissora local deu apoio. Para empresa é sempre mais fácil. Claro, porque sempre tem despesa. Vamos deixar contribuição para o dono da casa que cedeu a energia. O banheiro acertamos cinquenta centavos pelo gasto de água. A casa ainda tem coqueiros, pareceu casa de praia. Nem sabia que ainda moram pessoas por aqui. Imagina! Esse vento, o tempo todo. No coração da cidade. O muro é alto, claro. Esse medo que isola as pessoas. Blinda vidros e separa. Cada vez mais separa. Alguém trouxe piscina plástica. Vamos encher, com botijão de vinte litros e um balde maior serão oito viagens. Carros pipas? Desistimos. Ficaria caro. Fez um dia lindo. O calor é o de sempre, só que os armazéns foram pensados de um jeito que a sombra aumenta com o passar das horas. Proteção para mais gente, porque foram chegando, e chegando, e chegando.

(um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito)

Os Jacarés trouxeram cabos, mesa de som, microfones. Agora o mais difícil vai ser armar a lona. Não vem com manual de instruções. Risos. Foi difícil não. Junta um e dois, três e quatro, cinco e seis. E esse nove aqui? É o seis invertido, fazendo pirueta. Que bacana essa galera acrobata em malhas! E os ocupantes da bacia do pina? Pois é, tem que intervir na outra faixa, assim só quem está indo para a praia vai reparar na mobilização. Ainda tem jogo hoje. Dois, na verdade. Então, vai ter menos gente por isso? Não acredito nisso não. Quem quer estar aqui e está envolvido em debater a cidade vai vir. Mesmo que seja decisão. Tem gente que longe, feito João, Brasília, não para de comentar na rede. Bom, esse João (Valadares) é bom! Buhr! Karina também fez barulho danado. Procura saber. Se informa aí, quantas palavras precisar.

(um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove)

O repórter pede ajuda para reconhecer pessoas que mobilizaram o grupo. Brinca que depois quer ser apresentado aos meus "amigos cineastas". Olha, vem pessoa física, deixa o jurídico na emissora e seja você mesmo, sugiro. Não pareceu boa ideia para ele. Quando jornalista não pode expressar o que sente, estamos mesmo perdidos. Mas depois das redes sociais a tevê aberta perdeu o monopólio das opiniões. Tempos bons. Voltando ao moço, o danado é que o profissional vai depender da pessoa que vai dentro dele. Ser objetivo e justo com a história, o tempo, é o melhor que pode fazer numa tevê privada. Isso se for bom seu repertório de palavras. Como é no caso de Ivan Moraes Filho. Que é isso, companheiro? Para aquele repórter não. Impera a lei do cão. É. Ali estavam cineastas, sim! Jornalistas, sim! Arquitetos, sim! Designers, sim! Professores universitários, sim! Sociólogos, sim! Músicos, sim! Artistas, sim! Blogueiros, sim! Ativistas de sofás no meio da rua! E muito mais que um nome e uma profissão. Estavam pessoas de todas as áreas do conhecimento, com alguma coisa em comum, personalidade! Opinião e senso crítico, e vontade de mudar o jeito, transformar coisas que não cativam mais nem atendem às necessidades de quem é exigente mesmo, claro. Por que não? E os filhos, como ficam se a gente não consertar tudo hoje mesmo? Obrigação da gente conhecer bem e interferir no Recife.

(um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez)

Foram mais de doze horas, de pintura, música, banho de piscina, fotos, intervenções artísticas, manifestações coletivas de apreço pela cidade. As crianças pintando o sete. Numa liberdade de dar gosto. Brincaram com o megafone, comeram uva, tomaram banho. Foi tanta vontade guardada de um lugar e um dia como aquele que fizemos do Cais José Estelita nosso ancoradouro de boas ideias. Frases criativas, instagram de uma luz perfeita. Imagens inimagináveis no tempo dos nossos pais. Houve sim protesto. Buzinadas contra e a favor da gente. Houve quem destruiu as torres de papelão. Porque a vista é de encher a alma de ânimo novo. E não pode ser para alguns poucos. Porque ali foi um lugar escolhido há séculos para se armazenar. Guardar para tempos difíceis. Ficou estampado no rosto pintado da moçada que alegria de viver a cidade tem que ser para todo mundo. E tem a bacia ali. Aquela bahia. Encontro do rio com o mar. Aquele pôr do sol de deixar absorto.

.... (Confesso que em 1995 eu já fui até fazer um filminho recitando poesias. Escolhi porque sempre achei o lugar mais bonito da nossa praieira cidade...)

As conversas continuaram e continuarão para além do fim do dia. Daquele dia quinze de abril de dois mil e doze. OcupeEstelita virou a marca dos nossos sonhos de consumo, lugar onde todo mundo se encontra para fazer quase nada, a não ser como diriam os italianos, com talento, o "dolci far niente". A não ser, como diria Chico Science, "ficar pensando melhor". Ali, descascando laranja, tomando raspa raspa, tirando fotos, escalando paredes, ganhando altura, levantando cartazes estávamos sendo! Cidadãos que participam. Seres humanos que fazem algo importante, ser na cidade. Da cidade e para a cidade. Sonhar uma cidade e acordar fazendo esse sonho real. Ou alguém achou que a gente dessa cidade não tem um? Tem sim, e fomos ali para dizer às senhoras autoridades desautorizadas: "Ei, este assunto é com a gente, aqui! A cidade é nossa. Da gente mesmo. Vocês não receberam com voto, tutela para fazer o que bem querem com o bem que é nosso".

(um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze)

Pode parar de contar? Parece até quem fica numerando torres. Até porque foi todo mundo do mundo que eu quero construir! Acha que uma pessoa não é o bastante? não consegue mudar? Pois faz diferença, sim. E dependendo de quem for, mais ainda. Foram mil pessoas, seguramente. E que mil pessoas! Como disse Beto Azoubel, "se Recife continuar uma cidade assim, onde posso encontrar pessoas dessa qualidade, eu fico por aqui". Eu tive lá acenando no calendário da história. E vi no olho de cada um e cada uma: não vão nos ignorar não. E isso já é um bom começo. Porque quando no céu pinta um arco-íris, pode escrever: vem vindo mudança grande por aí.