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O que tenho hoje na ponta dos dedos, como impulso transformado em letra, é delicado e simples. E novo. É a parte de uma casca de ovo aberta de filhote de passarinho. Meia casca partida num esforço grande de nascer. É assim que a vida surge, já com força empregada. Prenhe de desejo forte de manter - se vivo. De se alimentar. De crescer e ganhar o mundo. Mesmo que seja pinto, de galinha, e não ave. Ainda que escolha o livro e não o descampado, ou comer bichinhos do quintal...
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É grito de piu e canto assoviado entregue de presente ao mundo. Nem sempre se escuta. Há ouvidos moucos por onde se passa. E o barulho das cidades grandes ou da casa habitada nem sempre permite se ouvir cotovias, nem rouxinóis. Nem sabiás. Saberá um dia. Em silêncio tudo é mais inteiro, menos fragmento ou metade partida de casca frágil rompida. Resto de prova de que nasceu. Respirou e deu - se à bater asas.
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Sei do pouco que resta em olhos turvos de enxergar. Ou do tanto que se fala ou se acusa quando a missão vai sendo cumprida. Quem mais te liberta, se torna algoz. Culpado e vítima. Sermão de montanha que, vide paisagem, torna - se pó. Mas estará sempre ali, a inesquecível imagem do momento em que havia, erguida, de longe observada.
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