Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

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Saturday, June 24, 2006

A Mala Hora

A esposa ficou olhando serena para a porta que acabara de fechar. O marido se foi. Foi sem lhe "atender" ao chamado naquela manhã quente, de lua fértil. Deu de ombros. Foi porque estava realmente na hora de ir. E ele costumava ser pontual e intolerante. Um homem, portanto, coerente. Não estavam lá muito próximos por estes dias... Mas, não foi mesmo, por nenhum desafeto que imperou a negativa. Ficariam à noite. Hora boa do dia. Hora em que não seriam interrompidos pela chegada da ajudante. Ou pelo despertar de niños. Estavam novamente de mudança. Mais uma vez de mudança. Ainda não havia cama, nem móveis nos lugares devidos. Colchões espalhados pela sala. Eletrodomésticos encaixotados. Sossego perdido. Não haveria tempo para ouvir bossa nova, nem rock 'n roll. Não haveria um pingo de Amor. Secaria e depois morreria. O medo furou - lhe como um tiro seco.

Ele foi sem culpas. Com a certeza de que poderiam superar, sem danos, ou perdas, a má hora. Esperando pelo momento ideal. Ela, mesmo levantando para acompanhá - lo até a porta e despedir - se com um beijo morno, viu que as almas continuavam lá. A parte da sua estava pronta para o desbunde. Boliu - se por alguns instantes. Erguer - se contorcidamente demorou mais que de costume. Durou enquanto lia um clássico assinado por Willian Shakespeare. Depois de instantes levada, imóvel, decidiu! Era hora de levantar. Aquela inércia começava a lhe dar nos nervos.

Tomou uma boa ducha, lavou bem os cabelos. Impregnou - os do cheiro de algas marinhas. Limpou bem a pele do rosto. Olhou - se no espelho liquefeito. Tocou a extensão de cada poro, esfregando com as pontas dos dedos cada centímetro de pernas entre as coxas até as costas. Hidratava - se. Por completo. Usava no corpo um creme com essência semelhante ao perfume que lhe cobria nas partes mais delicadas. Uma ponta de vaidade. Um pingo suspiro evaporava do pescoço comprido. Vestir - se era fácil. O despojamento de sempre. Só. Era assim que se achava bonita. Saiu para reabastecer a casa de coisas que encontraria no mercado...

Procurava em meio às folhas. Legumes... Nos mais frescos se deixou levar. Colhidos ali, há pouco. Pensamentos sobravam e soprava uma brisa leve que nem fios de cabelo soltos da cabeça em movimento. Ventos derrubam casas e pontes até. Já vi tetos desabarem. Alumínio leve é breve e certo. Ventos concêntricos viram furacões. Pés de vento levantam folhas nos parques durante o outuno. O vento levava os cabelos e junto iam pensamentos. Levantava a saia num balanço leve. No mercado, via - se ela levitar por entre balaios de laranjas vibrantes. Um colorido cítrico de mercado vivo.

Ouvia o ruído suspensa em dedilhado de ouvidos, rumores incertos para os quais não tinha sentidos. Parecia estar numa terra distante dali, ouvia um derramar de água cristalina. Ia esquecendo de tudo...Despertou do devaneio quando um rapaz de alguma idade observava pasmado a graça com que a moça flutuava entre lugares de frutas rotundas. Bem distribuídas. Puxou de assunto, a qualidade das laranjas. Não se podia comparar àquela hora do dia frutas tão vigorosas e ao mesmo tempo maduras. Sugeriu que desse também importância, além da aparência, ao teor das vitamina e ao sabor das frutas.

O fato é que, as duas dúzias viraram pesadas sacolas que ela, agora, precisaria de ajuda para levar. Até o final do quarteirão. Não foi com presteza que ele se ofereceu. Mas com naturalidade. O mesmo faria se fosse uma senhora de uns setenta anos. Ela não havia chegado aos quarenta. E apesar de toda reserva, não via, de onde estava, qualquer ameça à rotina. Aceitou a gentileza. Sem dar muito espaço para os cuidados que denunciam os culpados. E levaram - se pelo caminho em conversas sobre frutas frescas até onde o carro estava parado.

Coincidência, a casa dele ficava ali ao lado. Fazia pesca submarina. Na verdade não era do contexto do mercado. Ofereceu - se ao peso das sacolas por estar capturado pela "corrente azul" que nela balançava. "Gostaria que levasse com você o livro". Que livro? Sobre frutas saídas do pé e frutos do mar...Entrou no apartamento de autonomia simples e independência franciscana como o dono. Estudante de pesca submarina (sic). Aceita uma água ? "Gelada!", ela respondeu sem nem pressentir. Embora o rosto já estivesse aquecido em maçãs. Vermelhas. Na boca ia um gosto antecipado de fruta madura... Foi também pela simples "cidade" da palavra dita: Amsterdã! Vieram de Amsterdã. Viu os lábios delicados balbuciando frase sem querer que fosse e que ao mesmo tempo era: extremamente sedutora.

E aquele calor que não abandonava, agora perseguia. Em geral não devia começar porque o primeiro piscar de lábios puxava outros seguidos. E a dificuldade traduzida em capítulos inteiros do romance inglês, agora era energia que fluia simples e líquida. Feito água aquecida. No copo abraçado com as mãos e na passagem estreita prima irmã dessa rima. Pesca. Submarina. Repetia sem pensar. De pesquisar o Universo Marítimo faria - se o novo mundo. Esqueceram - se das horas, desembalaram as frutas e ouviram longe o barulho do mar. Quietos, em silêncio profundo. Céu inteiro lá em cima, sol em frestas, mar em absoluto silêncio profundo. Como em cantos de sereia foram vindo vozes, de mitos: Ray...Peyroux...Nina... Ela fruta colhida, doce. Feito Mimo. Ele, aos bagos. Abriu com a mão tangerinas. Comeram tudo. Em dias corridos. Sucessivos. Com o passar de noites, contadas em mil e uma, foram descobrindo mistérios do mar e dissabores delicados da fruta.

1 comment:

Anonymous said...

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