Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Saturday, June 10, 2006

Dia e noite. Noite e dia. Dia e noite. Noite e dia...

“A Terra, mãe universal de todos os seres, nasceu imediatamente depois do Caos. Desposou Urano ou o Céu, foi a mãe dos deuses e dos gigantes, dos bens e dos males, das virtudes e dos vícios...” (Mitologia Grega e Romana, Ediouro, pág.24)

It’s much better to you see: what is gilden, are not gold.

Capoeira, senhor. Quando é de cair, cai bem... A hora é chegada de uma vez para sempre. Confiança não se adquire sem o empenho de um vida inteira, e para desfazer o que levou anos, basta um dia. O milagre da terra é tornar o canto triste em engenho. Tirar o doce da cana. É preciso força. A Terra adubada que surge depois do deserto, não é filha do Caos, como a Noite. É mãe acolhedora, de braços abertos, e como destina - se a água do Rio pro Mar, segue em sua direção de rota tranqüila, chegam todos os dias até Ela, os raios solares. E ainda a suave companhia da Lua.

“I wait I wait so patiently. I’m quiet as a cup. I hope you’ll come and rattle me. Quick come wake me up “. (“Lucy Harmon” – Stealing Beauty - Bernardo Bertolucci)

Por que o vidro partiu a transparência e só as crianças apontam com sabedoria a verdade de uma rainha nua ? Maestria, senhor. Só os adultos namoram. Quando é de se vê, tudo há de se enxergar... “verdade” tem tantos lados que é figura inteira sempre fragmentada, composta de pedaços. Quando é de se dizer, tudo há de se ouvir...Impulso que não pára de buscar água limpa e pura para beber. Até a certeza desmonta no sopro de brisa que não levanta nem punhado de cabelo. Sopro de criação é que dá vida. O que ouço me faz prenha, pelos ouvidos. Esqueça.

“Algumas vezes a Terra é representada pela figura de uma mulher sentada num rochedo (...) coroada de torres, empunhando uma cornucópia cheia de frutos. Outras vezes aparece coroada de flores, tendo a seu lado o boi que lavra a terra, o carneiro que se ceva e o mesmo leão que está aos pés de Cibele. Em um quadro de Lebrun, a Terra é personificada por uma mulher que faz jorrar o leite dos seus seios, enquanto se desembaraça do seu manto, e do manto surge uma nuvem de pássaros que revoa nos ares.”

Há de falar também em fé e crença. Em “Gioya”. Alegria de um sentir fácil e descrever tão difícil e mesmo com todo labor incompleto. Escorrem do sorriso o mel que procuram pela selva. Da pedra não sai leite, sai pedra. Das provas de Amor firma – se um mundo inteiro.

“There is no Love. There are only proves of Love”.

Porque é na busca pela construção da imagem, difusa, vista com os olhos de quem está fora, que construímos o nosso modo de ser gente. Três lâminas de espelho e partículas coloridas formam imagens completas no caleidoscópio da vida. A imagem do que sou é apenas uma parte de mim que é então vista. Colhendo afetos e juntando caquinhos de atenção de outros que tanto interessam, ou naquele momento se interessam, por nós. O instante costuma passar rápido. O aviso é para os navegantes. Roupa de Rei costuma alimentar ratos. Não seja ela refeita pelo Sol.
Eu acredito em duendes e bruxas. Em gnomos e fadas. Em mitos e na coragem que levo sempre comigo. A vontade que habita meu peito.

“É preciso ser leve como um pássaro, e não como a pluma” (Paul Valery)

Às vezes o desejo se basta na construção movida pela frivolidade dos moribundos. Às vezes é hora de pousar. Tomar acento. Fazer e refazer a própria imagem e idéia do gosto da vida, do caminho, do destino, da trajetória de uma história cheia de provas por construir. Provas de que ficará por mais alguns anos. Por isso vale tanto o medo da morte e a Arte de torná – lo música, verso, palavra – frase – livro, vontade pela vida.

“All of me, why not take all of me... Take my lips, I want to loose them. Take my arms, I never use them.” (Billie Holiday) My long hands...throw away from me...

É quando a imagem consolida um conjunto de memórias e idéias e certezas ou dúvidas que na ausência ou vazio do outro se completa. De onde surge a prática do Amor. A teoria é vivida em passos de acaso em acaso. De impacto em impacto. De acertos e erros...Ahhhhhh, como é preciso perdão (suspiro). Como é preciso um profundo e delicado conhecimento de si mesmo. Sorrir é por completo. Como é certo que não estarão mais no mesmo lugar conceitos, preceitos e preconceitos na sucessão de segundos do dia, tão curto, da noite, tão longa, da semana tão todos os dias. Maiores são aqueles em que estou contigo. Menores os que não me deste abrigo de desfrutar do meu sorriso. E eu, da tua cabeça tão cheia de idéia. Tua fúria incontrolável de ser ou não ser. Por que a gente escreve ? Por que corre perigo ? Por saber que a única certeza da vida é a morte. E que o instante que passa se não for “recolhido” é instante morto. Como Engenho, onde morre o fogo.

Queria dizer do tanto que aperta o peito por não saber como será amanhã. Como se confunde em dores a vida que esconde do triunfo e da queda sofrida. Como não passam os dias em que chora calada a morte e prazer da morte. A felicidade adiada não está nunca depois, está aqui. O ponto marca saída. Largada. Marco histórico que é a certeza de quem teme volúpia e mudança de mês em mês e de um futuro que pode não ser tão sábio crítico ou ter o modo de investigação como praxe, característica. Bueno, versar não é fácil, quem falou que era, mentiu. Quem de fato é. Se sabe porque se sabe que é. É. A palavra mais completa, Clarice, que espera ouvir um mulher. Não são necessárias cambalhotas, os seres completos não existem mais num só corpo, embora viva que neles acredita.

A certeza de quem fica acordado é as horas passam, e não voltam. Não ficam. Ficou no passado o que é lembrança. No presente, o que carrego comigo é saudade. De Pinto do Monteiro, de Flaubert, de Lou Andréas Salomé, de Nietzsche, de Hilke, de Sócrates, de Baruch Spinoza, de Guimarães Rosa, de Shakespeare, de Simone de Beauvoir, de Ana Cristina César, de Katherine Mansfield, de Kafka, de Bertold Brecht, de Hess, de Florbela, de Cecília, de Clarice - às vezes parece ainda vive um tanto em mim - de Machado, de Luzilá, de Érico Veríssimo, de Calvino, de Garcia Márquez, de Neruda, Thomas Hard, de Tolstoi, Bashô, Leminsky, Vinícius, Chico, Galeano, de quase todos os livros que li, enquanto era eu. E um eu que não volta mais. (Saudades também do meu avô).

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