Papel Filme Dourado
"Para melhor entender a natureza das idéias, é preciso tratar da variedade dos conhecimentos. Quando posso reconhecer uma coisa entre as demais, sem poder dizer em que consistem suas diferenças ou propriedade, o conhecimento é confuso. Assim, às vezes conhecemos claramente, sem dúvida alguma, se um poema ou um quadro está bem feito ou mal feito, porque há um "não sei quê" que nos agrada ou nos irrita. Mas quando posso explicar as notas que tenho, o conhecimento se chama distinto. É o caso, por exemplo, do conhecimento de um contraste, que distingue o ouro verdadeiro do falso, por meio de certas provas ou sinais que constituem a definição do ouro." Gottfried Wilhelm Leibnitz (1646-1716)
Abro devagarinho uma das extremidades de papel colorido. Sai de lá uma luz que acendeu no século XIX e não apaga mais. O que tem dentro é de um sabor misterioso. Lembra infância, é doce feito chuva em dias de chocolate. É mole: fluido...Chama - se conhecimento. Mas o saber tem suas variedades. É necessária uma tarde inteira para saborear esse pedacinho de segredo. Mais de três horas se foram. A distância foi junto. Deixando mais perto. Será que estou sonhando ? Será que estou firme, estou de pé ... no sonho, tudo é possível. Os meus parecem papel filme dourado. Transparentes e furtacores. Lá ficam impressas todas as sensações estranhas e digitais. O indecifrável nascer do dia. Certas provas ou sinais me deixam claro. Vou sonhar com você, na certa. Certeza eu tenho nenhuma, mas você parece sempre estar certo. Feito ou mal feito, há sempre um "não - sei - quê" que nos agrada ou irrita...
Abro ou não abro. Desvelo o que está ali, retido ? Você, já outro universo inteiro, comemora apenas o fato de passar pela primeira etapa. Retiro o que disse ! Agora é tarde... Era para ser, mais em segredo, esse cantinho aqui. Não tenho mais leitores afinal. Você era o único crítico que permitia me analisar. Sou tão sem parâmetros que não levo nem o sério, a sério. Nessas horas sinto vontade de maquiar. Por que será que não aprendi ? Vou despertando pétala por pétala. Me chamo de flor em meio à uma plantação de feijão. Você escuta e mede com palmos de distância o resultado.
Sei sofrer mais que isso, não. Publicar, então, é demais. "Das ist mir zu viel!". Exagero brasileiro. O que eu sei é que com essa vontade de escrever vou trilhar mais de um milhão de quilômetros até chegar na calma que eu preciso. Por que será que me sinto em canto nenhum da casa ? Por que é mesmo que sempre volto ouvindo a mesma música, e penso na mesma tecla, e ouso a mesma melodia, todo dia, todo dia, todo dia... Estou em círculos e ainda nem reiventei minha roda. Pés descalços e a vontade no chão. Por isso vivo aos saltos ! Perco sapatos em pleno show, sandálias no meio da rua. Ponho aqui e ali uma pequena distância da minha própria felicidade. Ser feliz para quê ? Se vivo nessa aventura ? Completar o quê ? Satisfazer a quem ? Sentir prazer...Muito prazer...você não me conhece para falar assim de mim. Não sabe do que eu sou, além da promessa que acabei de fazer, capaz de dizer.
E esse é o texto sem margens que escrevo. No papel filme dourado. Espero aprender a fazer promessas e a descumprí - las também. Não sei o que me dá mais nos nervos, se é não sair do lugar ou ir sendo levanda para não sei onde, por quem ainda nem conheço, nem um tantinho assim. Olha bem nos meus olhos. Olha bem minha carinha de anjo bobo. Todos os projetos e sonhos e ousadias deixei lá nos meus 25 anos. O grão ajoelhou e não vingou na terra adubada com Amor.
Alguém falou que ia me dirigir. Não é isso. Não é esse o meu filme. Não dei a você o papel certo. A cada frase ouço folhas que estalam secas. Não, ainda não chegou o Outono. Há de ser Primavera para que eu descubra um sonho novo e acredite agora em mim, depois em você. Não sou igual a quem eu era. Mudei. O rio por onde passei também mudou. E faz tempo que ninguém me escreve cartas. O conhecimento é confuso, Leibnitz! E como "reconhecer" - diferenciar ? - uma coisa entre as outras, sem dizer em que consistem suas diferenças e propriedades. Lina sempre alertou para a necessidade de ler Guimarães Rosa: "todo Amor é uma forma de comparação!"
Li tantas palavras completas: ninho, passarinho, carne assada! "Assado no mais preto das minhas lembranças" não fui eu que escrevi. Fazia parte de um plano secreto. Um segredo que durou anos e de repente se foi assim. Não esqueci. Mas não é essa a fotografia que quero revelar mais. Chega. "Agora é tarde". Você quem disse!. Não é esse o filme que tirei da máquina. Não era assim que tudo deveria terminar. Chega de misturas e traduções, fotografias envelhecidas. Saudade de sentir vontade além da confusão no pensamento. Porque dou sorte mesmo. Pareço um barco a esmo para você vir me remar ? Sem fundamentos tudo isso que escrevo... Quem mandou misturar no papel numa mesma canção Vinícius, Tom Jobim e João Gilberto. Precisa de tanto artista para quê ? A música não é uma ? A moça num é a mesma ? Para que toda essa tristeza de ficar juntando pedacinho, fazendo do coração de papel, banquinho de madeira, ou balão colorido! Ficar experimentando cores, nacionalidades, barulhos e estampidos!
A cabeça que é boa não sabe da missa um terço. E você, que não é de ferro, para subir não demora e para afundar é na hora ! Feito caldo de cana espremida para matar a sede de quem toma café sem açúcar. Se depender de mim, contar histórias assim... Vou botar uma cria debaixo de cada asa e alcançar o pontinho final da estrada. Contando vantagem. Fazendo viagem. Só sei que o que eu quero aprender não se ensina ainda. Que é uma vontade danada de viver. Toda vez que eu cruzo o sinal, o carro que passa parece promessa de encontrar os sapatos perdidos naquela noite que conheci você. Cada vez que o relógio bate meio dia, eu me lembro do que não vou encontrar para comer. Ou quando encontrou, vai ser demais. Estarei sozinha. Acabo pedindo salada e o menor de todos os pratos é maior que a minha vontade. Da bolsa tira a caneta e escrevo em guardanapos. Brancos, não dourados.
Papelão ! O texto reescrevo num papelão. Não fosse tão grande não cabia, depois que dei para essa mania de esperar cair do céu a palavra que vai mudar minha vida. What is gilden, not gold. What is gilden, not gold. Velejo até encontrar palavra que vem vem vindo feito sopro de vento e me salva. Feito bote. Pulo nela e cravo unhas, canela e dentes. Fico roxa. Invariavelmente asfixiada. Salvo surpresa que nem tu, minha vontade de dar risada, estava perdida. Ainda escrevo sobre Geologia. Massa Vulcânica. Uma tolice completa, afinal! Vermelha e incandescente. Sim, fogo é vermelho em ouro incrustado.
1 comment:
Oi, descobrir seu mundo poético por acaso. (No histórico dos sites acessados do computador da Alepe. rsrsrs)
Confesso q já desconfiava desse seu talendo, mas agora poderei conhecê-lo bem melhor!!!
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