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Sunday, June 25, 2006

A Música, A Dança, O Corpo e tremo de frio !

O que ouço não parece apenas um piano triste. É também uma melodia cega. Acerta meu peito e alguém passa e fica. Quadrado em forma de mesa e os lados são quatro. É em mim que surge. Em mim que a força se levanta: uma, duas, três vezes. Não ligo. Conecto. Recebe às seis e meia da manhã o primeiro aviso. Todo esse excesso de cuidado tem feito estragos. Estragos bons. A alegria de todos. Até quando se pode guardar um segredo ? Porque os segredos e as certezas nos enchem de Força. Quando é cedo, o maior de todos os obstáculos é o medo. E depois ? A vida continua sim, e é preciso saber o que fazer com essa feliz idade...Porque não há mais o medo, há a força e o desejo de continuar vivendo. Um vontade de vida pé - de - feijão. No verão, se põe apenas de joelhos. No inverno, vai às alturas. Se depara com um gigante de nome: Desire! E tudo é tão grande como era o medo.

A dança que invade o espaço de quatro paredes é tão delicada e suave como um paginar de livros. Pontas de dedos que vejo em desenho de criança maiores que os ouvidos. E o ritmo, o ritmo, o ritmo, o ritmo de quem quer se achar. E se encontra em perfeito estado de sentidos à flor da pele. Macia e suave. Se uma ubigüidade incomoda muita gente, imagine duas ubigüidades e ubigüidades presentes. Três ubigüidades incomodam muito a gente. Quatro ubigüidades incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito mais. Até caminhando deslizo, continuo a mesma gazela disforme com peso do olhar seco e frustado nos quadris. São meus olhos ou ombros que me trazem.

O corpo está feito de idéias e leituras sofisticadas de revistas de moda. O modo é pura perfídia. Meus tristes (e doces) anos de medo não voltam mais. Não no corpo certo. Milimetricamente suave. Sei tão pouco de ti quanto de tuas omoplatas. Examino e examino, ferindo, puxando pêlos com strass esmeralda. Meço cada centímetro de palavra que escrevo para que não saiba que vôo, que vivo no espaço. Entre o um e o dois existe uma infinidade de pontos. Entre dois corpos, não pode haver mais nada. Mens sana, corpore in sano. Homens e mulheres cheios de saúde e idéias na cabeça. Minha câmera secreta te observa. Vejo por todos os lados. Peixe que sou. O cítrico e o ácido. Suor e lágrimas e sangue e pulsos. Santo sacro em que deslizam os dedos de pontas pulsantes.."soy todo corazón!".

E eu aqui ! Tremendo de frio e sem medo. Com tanta esperança de viver mais...Muito mais. Com tanta certeza de que meu destino é voar por caminhos tão pouco habitados. Com nenhuma dúvida que descubro aos poucos a vida em quase todos os livros. Nos poemas que recitas. Nos versos que vêem os olhos cegos de dúvidas ao longo dos anos. Da sua pouca vontade de me ver por inteiro. Do meu completo cansaço em saber mais de mim que do Amor. E do calor que não volta. A primavera não dura pra sempre. E essa Deusa arrastada para as profundezas da terra floresce apenas alguns meses. Depois... depois ? Estará de volta à sua paixão verdadeira. O encontro marcado consigo mesmo. Também comigo mesma, porque sou eu que escrevo.

Não chores, passarinho ! Teu vôo é certo e preciso. Viver não é assim. Sabes do tempo o estrago que faz. A dúvida não deixa espaço nem para o orgulho. Saber viver é ser também rápido. Como Mercúrio. Curar feridas. Preencher o vazio requer saber dizer sim ao "sim" e não ao "não". Meu gigante me espreita dia e noite. A cada tecla que abandono pela letra seguinte. Meu caminho cheio de curvas é perigoso e infantil. Não quero mais que brinquedos nessa aprendizagem ou no livro que escrevo. E isso é somente literatura burra, burrinha mesmo. Porque não é novo não dizer pelo avesso. Sei do pouco que mereço, mas a cada livro que finda, é Primavera de novo. Subo, respiro, depois regresso para uma origem cheia de Amor. Amor proibido. Nascer com defeito, que não esqueço.

E nunca fui ou serei tão simples como agora. Queria eternizar o instante. Eternizei a hora. Minha hora suave do dia. A hora em que escrevo para quem lê agora. Séculos depois estou morta. E não se morre para uma criança. Para você, eu afirmo, garanto, ninguém nunca morre se quiser mesmo estar vivo. Você vai viver para sempre. Escrevi, está dito. Você viverá para sempre. E seremos felizes. Felizes para sempre.

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