Café com Letras
O homem espreme os peixes roubados do rio, no meio fio.
A pedra que usa, martela o asfalto, sobre o chão cobalto
A comida, espremida, espalha um cheiro de morte,
no Recife do meio - dia. E de um indigente e sua falta de sorte
E sua morte mal nascida.
O rio é o mesmo - O Cão sem plumas - de João Cabral de Melo Neto
E sua morte severina. O Recife, também é o mesmo.
E a ponte Maurício de Nassau não cumpre papel abissal.
É palco da podridão, de carne viva queimando ao sol.
O peixe morto é esmagado, e o rio morto é espelho
que ainda reflete a mesma dura sina dura vida severina
sem confete ou serpentina, ou brilho ou plumas
apenas escamas opacas e águas fétidas, de uma manhã sem rima.
É também a mesma ponte, do mesmo Recife, em que Clarice
Ainda menina, festejava em Felicidade Clandestina
Ao abraçar o livro de Monteiro Lobato, Reinações de Narizinho
E levá - lo para casa. Tê - lo pelo "tempo que quiser"
Para, logo em seguida, deitar com ele na rede...
Por que o poeta ainda existe ?
Por que insiste em surgir das águas sujas do Rio ?
Ou das pontes e ruas que cortam o Recife ?
Por que não é possível esquecer o que Cabral escreveu
Ou Clarice desvendou...?
É no desvelar que se encerra a obra
No descobrir um país novo, afeito às letras
Às idéias, palavras, e seus significados
Às obras de seus mestres e até a um pouco
de Filosofia, quem diria...
O café está servido. E dessa vez,
Não com o pão de todo dia.
Mas com Letras. Idéias, vastidão.
Não são rosas ainda, ou apenas.
Mas, informação. Aquela que não ultrapassa
A cortina de fumaça que cegou meios de comunicação.
2 comments:
Essa veia ainda era para mim desconhecida. De um mote simples veio tudo isso? Brilhante.
Foi o sol a pino...rsrs.
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