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Friday, April 20, 2012


Urro de Ursa

     Primeiro: estou sentindo o que chega com uma força de ursa que também sou. Aquecida e irritável. Era sangue em massa de força preso nas veias. Nas têmporas. Não urrei. Não soube abrir a boca ou levantar os braços num grito legítimo de dor. E aquietei toda aquela massa acomodando em veias frágeis o volume de um rio caudaloso. O silêncio é mais mortal que venoso. O meu ao menos foi. Pensei que estaria morta no minuto seguinte porque o sangue rompeu vasos e tornou se dores, na nuca e espinha dorsal. Dorso de ursa de olhos fixos. Esbugalhados.
    Mas o silêncio que mata consolida. Hoje alivia aos poucos. A solidão do inverno ou do frio de bicho sem pêlos já passou. Também não opto por hibernar. Saio pelos campos para ver a primavera chegando de mansinho. Em cores leves, em tons suaves. Nude. Cenas em cores que vejo até nos sonhos. E o extrativismo humano arregala olhos diante disso. A minha crença ainda é vermelha. Mas sou gata azul no escuro, daí não assusto. Choro lágrimas em letras pretas sobre pedras brancas que não me darão, por isso, um ser possível, real. Meus olhos são porta para o novo, o tempo todo. Quem os vê de perto não resiste e eu? Sofro. O novo agora é mais vivo em mim que antes de dar esperanças de novo. Não apenas sonho. Vivo com imagens posteriores.
     Meu pensamento, o tempo todo, transporta para algum outro lugar. Abro portas numa fração de segundo e deixo a visão chegar. Não importa se isso não é comum. Importa minha força em saber das imagens e do pensamento em transportar. Não é transe, só uma capacidade de sintetizar, visualizar. Deve haver uma palavra para isso.  Não é somente imaginação. Tem também uma espécie de materialização da imagem no meu pensamento, com uma força de coisa real. Qual a palavra diria isso? Invenção?a  gente convencionou chamar avião de invenção e voou. As microondas estavam ali e ganharam botão do play para aquecer moléculas de água.
     Como a raiva que tenho agora. Esquenta meu corpo, dá sintomas de ira, sangue que ferve e depois amolece. Fica doente. Não quero esse roteiro para mim. Vou modificar com a mesma capacidade de pensar. Não interessa o que esperam do meu jeito ingênuo e, às vezes, pueril. De pessoa cheia de esperanças mesmo. Vou mudar meu pensamento e fazer outras imagens. De viagens. Afinal, sou muito boa nisso.

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