Tropicalismo
"Da cama não via o jardim. Um
pouco de bruma entrava pelas venezianas abertas, o que se denunciou ao homem
pelo cheiro de algodão úmido e por uma certa ânsia física de felicidade que a
cerração dá".
Clarice Lispector, A Maçã no
Escuro, pág. 16.
Faltam
doze meses para ser novamente abril, Solar. Cadê a sorte que abril pariu? É quase tempo inteiro, completo, que ocupa meu pensamento. Sim. Porque preciso dizer sim ao sim, e não ao
não. Sendo assim, aí está o direito que reivindico. Do adeus. Eu tenho sim um
nome. Pode ser que me chamem por algum grego. Etérea, de fato, sou eu. Como e por quê, não entendo? O nome que chamam
em uso constante é Geo. Foi então que amalgamou a versão terra adubada. Porque em mim tudo brota! Qualquer
fantasia, projeto, ideia iluminada. Não vejo do contrário, mas pelo avesso. Por
dentro. Não sou adubo, muito menos aceitar de qualquer ruminante sua proposta.
Agora não estou mais com medo. Estou mais com Pedro, que com medo. Deus me
livre de ter medo agora. Bem junto da porta está São Pedro, bem no fundo do
mundo do mês de São Jorge e logo no ano do Dragão. Foi para dar fim ao medo e à paralisia. Fim
da apatia. Se houver, de novo, pode haver panis
et circensis? Só no fim do mundo. No fim da vida. Minha vontade é a de todo mundo, do mundo
inteiro, até o fim do mundo. Se eu me despeço agora, no fim de tudo, é porque
não tenho medo do que não quero que eu seja agora.
De
onde eu vim o tempo corre lento. Na verdade, é. Tudo carece de pressa, antecipa
a poeira da estrada. Esta é a imagem que acalenta meu espírito: as retas
incompletas que pontuam a estrada. Tudo é incompleto e interrupto. E se houve
"Novos Baianos", há novos
manos. Há poeira cósmica em tudo o que penso. E se realiza é porque houve
impulso e certeza. E não há sangue pulsando que encontre seu lugar em veias
frágeis quando o endereço certo não é o plexo do peito de Pedro com medo.
É
perigoso saber de tudo e assim eu morro cedo. Não é Amor se não for confuso e
incerto. Não é amizade se for difuso e certo. Não cego, nunca mais perco o meu
ponto de vista: livre e novo. Arrebatado, solto no espaço, de ponto perdido no
Cosmos. E neste jardim psicodélico, sou Ninfa. Tenho medo de Dragão, mas isso não
é tudo. Há mais o que investigar entre o céu e a terra. Há mais mistérios e
toda essa filosofia fã me cansa. Fadigo, e não digo o que penso para não partir
e soltar partículas de mim.
Há
luz. Eu vejo o fim do túnel, depois do fim do mundo. O reino de seres que a
Terra liberta. O inventário é teu, o inventivo espírito céu é meu e teu. No
ponto em que são: do alto do céu, no canto do chão. A música não espera. Encontra
em becos escuros e frequencia não autorizada o seu rumo, sua estrada. Como num
sonho, a voz entra em casas, barracos, botecos, fiteiros, ruas, vielas
estreitas e chega até o fim do mundo do coração dos que ouvem e preenche o dia
morto, o canto de chão. Sei não, mas ninguém pode frear um carro em alta
velocidade com um simples puxão. Sei não.
Funciona
mudar a marcha menor em alta velocidade? Estoura a caixa, dos peitos, da marcha. Ré?
Não reconhece! Ele nem sabe que existo ao tocar Blues. Disse e tomei nota:
são três lições. Ouço ainda alguma cítara no ar, é puro reflexo, como era meu
sorriso, nesse período tão sem nexo. Se foram, os dois navegantes sóis ao
pôr - do - sol, no mesmo mar, não no mesmo barco. Marco Polo, grito! Guia por outro roteiro, esse deixa homem aflito. Fala das cidades que descobriu e contarias em detalhes pra mim.
Deslizarei feita melodia. Suave, suave. Eu não nasci para ser
som, nasci no fim da luz.
Se
também foi assim com você é pura circunstância do destino, estarmos aprendendo
juntos morrer um pouco mais a cada dia. Não é objeto vivo, não é desejo morto,
não é segredo torto, não é suspeita feita, ou história que deleita corações
vazios de paixão. É. Hoje serei toda - ouvidos e canto de baleia, até me
desfazer em espumas remetidas às areias vermelhas por um mar histérico por uma
bola de fogo e um céu aberto.
Já
fui jogada ao vento, já sou folha solta e outono de um amarelo triste. Perdi o
verso num verão romântico e tudo o que sei é que ninguém se liga no mar. No seu
reino, ninguém se liga no mar. Quer loucura mais triste que viver sem a busca
de ser feliz? Sem sequer pensar em ver o mar? Abstrair do pequeno Universo o
mar? Já
no meu reino real, o mar brota de mim. O tanto de bruma que entra pelas brechas
de espaços abertos, logo denuncia o jeito de ser feliz e ânsia física de
felicidade, dia e noite, noite e dia. Em dia branco, em noite escura. Em todas
as cores e mesmo na ausência de todas. Meu modo é da cor da felicidade. Estou
de acordo, com o ser feliz. Pronto e ponto. No outro blog!
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