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Monday, May 14, 2012

Felicidade sem espera





"Se o filósofo puder optar entre uma verdade e uma felicidade - felizmente, o problema nem sempre se coloca nesses termos, só às vezes - ele só será filósofo, ou será digno de sê - lo, se optar pela verdade. Mais vale uma verdadeira tristeza do que uma falsa alegria."


A felicidade, desesperadamente
André Comte - Sponville

Leio há dez anos sobre a felicidade, o amor, a paixão, a filosofia e temas correlatos que interessam ao pensamento que busca respostas mais essenciais. Que, na minha opinião, é o justo o que alimenta mais no ser humano o seu espírito natural e divino. Esse substrato do pequeno livro da Martins Fontes sempre me intrigou um pouco. Por isso, talvez, precise reler em momentos diferentes da vida para entrar num acordo com um autor e comigo mesma.

Invariavelmente, o que ela provoca em mim, é um sentimento de que, não tenho tão fácil aceitação de uma tristeza, mesmo que ame a verdade, e conheça a transcendência alcançada com a mesma. O fato é que a falsa alegria está mesmo fora de cogitação, a ela tenho chamado de tolerância impraticável, porque só nos aproxima mesmo é do sofrimento, da subordinação a sentimentos tolos, difusos e que, em geral, serão nos cobrados depois tal qual um ato movido pela cegueira, pela burrice, ou por quem desconhece seus limites, e, como um infante, precisa se lançar no obscurecido pela necessidade de experimentar.

Acredito, com o tanto de reflexão que tenho empenhado ao confrontar esse pensamento com os sentimentos formados em mim, que acabo sempre envolvendo a esperança e o desejo de transformação da falsa alegria em alguma verdade, embora saiba da força dos fatos e das naturezas imutáveis. A minha natureza quer transformação. O que gera outro dilema: atinar para a valorização do desejo. Porque não há nada mais ingênuo que sobrepor a fantasia à realidade. Não se trata disso. Menos ainda de empregar inúmeros esforços para modificar ambientes com identidade distinta àquela projetada.

O que André Comte - Sponville chama de "felicidade malograda", ou "armadilhas da esperança", quando se está submetido ao desejo de felicidade como um enforcado. Usando para explicar com as palavras de Pascal que "todo homem busca a felicidade. Até mesmo o que vai se enforcar". Não se trata de subverter valores, como que dando ouvido às rebeldias, para encontrar explicação e motivação para aproximar tanto na falsa alegria quanto na vedadeira tristeza algum elemento que caracterize "uma sabedoria da felicidade, da ação e do amor". E estará mesmo apenas quando a felicidade for compreendida como meta da filosofia e não norma.

Precisamos ainda superar a sensação da dialética entre desejo e sofrimento, segundo Schopenhauer. Porque "quando desejo o que não tenho, é a falta, a frustração, o sofrimento. E quando o desejo é satisfeito, não é sofrimento, já que não há falta, embora não seja felicidade, uma vez que já não há desejo". É o tédio. Então, como que nos encaminhando para uma armadinha confeccionada com propriedade, nos dirigimos para a incompletude do vazio. O único modo de compreender e valorizar a alegria que está incompleta pela ausência de verdade é oferecer a ela os elementos para que transponha o lugar onde está.

Da mesma forma que compreender a tristeza vai exigir empenho de formação para aceitação prévia ou alguma compreensão do fato que vai aprisioná - lo porque gera a dor. Talvez seja necessário descobrir que não se alcançará a divindade ou a beatificação senão como os antigos deuses gregos, a exemplo de Hércules, Odisseu, Perseu. O bando de eus. O entorpecimento não está em questão aqui. Embora compreendido como bálsamo da vida moderna, não há, nessa consideração, abstração do que pode significar a inadequação dessas palavras enquanto relato significante da realidade. Já não quero mais falar tão a sério sobre o assunto. Apenas ler um pouco mais e seguir adiante.   

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