Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Thursday, July 02, 2009

Vou lhe contar como é meu jardim. De verdade, há apenas um grilo que 'toca' o tempo todo sua mesma canção. Não há plantas, mas tijolos e um telhado de zinco. Sim, passeio pelo corredor estreito e vejo apenas parafusos. Há também nuvens e prédios. Andares de outras construções vizinhas. E neles, vizinhos a mim, solitários mais que eu. Ou mais. Muito mais, do que quando estou com os meus filhos...


Há plantinhas aqui e ali, escondidas pelas estruturas de cimento e argamassa. E azulejos... Vermelhejos, rosalhejos... Como rosas sim, mas alheias a mim e ao ar que humanos como eu são obrigados, nesse mundo moderno, respirar.


Há janelas sim, e flores amarelas bem diferentes das rosas alheias. Nelas há besouros enormes, pretos como a noite sem lua. Aliás, à noite este jardim se transforma. No lugar de enxergar o zinco e os rejuntes, vejo estrelas. Pontinhos luminosos que mais parecem exemplares de meia noite e meio dia, iguaiszinhas àquelas que conheci na casa da minha avó. Era no bairro da Torre. Alto como tal e onde a água chegava em tempos de cheia...


Ali sentia tão absorta de um mundo ao redor que me parecia muito menos fraca que hoje, nesse cantinho de Casa Forte. Posso ainda dizer: com o qual sonhei com todas as minhas forças... O tempo espera só uma beirada de história para se desfazer como um pão de alfenim...



Neste lugar, não há área de serviço. Furto momentos de tempo no espaço comum, à distância dos filhos, para não obrigá-los ao pouco ar que respiro. Então, ali, em silêncio de oração, brinco com a esperança entre os dedos... Diz o Ministério da Saúde, que me levará à morte. O Ministério do mistério de mim mesma diz que essa esperança deve ter parentesco com a lebre.


Como todo jardim deve guardar lendas e mistérios, lembro do coelho e seu relógio. Lembro do menino do dedo verde e das joaninhas como eu. De Jó! Sim, paciência é a ciência de todo o tempo. Sentidos despertos. Porque espero, com pressa, o outono. Espero com a esperança nos dedos acelerar os ponteiros do relógio do coelho branco e chegar ao mês de outubro, com vida e livre da esperança de nome francês.

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