Idade da razão
Chaleira fervendo sobre a mesa. O que mais aquece nesse Recife Inverno? Não pondero opiniões e suspeito dos não erros de quem só vai direto ao ponto. Sem desconto. Concerto do meu soneto. Calço as sandálias que perdera no caminho. Sei hoje quanto mereço. Vejo pouco menos com os olhos e pouco mais com o que sinto do entorno. Avisto na Boa Vista notas musicais saindo do asfalto. Palavras completas acompanhando os carros em velocidade. Vibro com o andar da carruagem.
Muito ainda precisa ser feito. Diogo vendia doces ontem à noite nos bares. A mãe é carroceira. Ela está tirando um cochilo ali no 13 de Maio. Recebe bolsa família. Mas precisa de mais trocados. Explica o galego de cabelos não cortados. Não pode dormir tarde. E o horário da escola? Moça, eu estou de férias. Por isso, trabalho. A senhora vai ou não vai comprar o confeito ou me dar um trocado?
Posso fazer isso não, Diogo. Mas sente aí, coma alguma coisa. Depois você explica a sua mãe que criança na rua é perigo. À noite mais ainda. E que você ainda não tem idade para trabalhar desse jeito. E Diogo se espanta comigo. Eu já tenho 9 anos!!! Reagiu, indignado... Talvez pareça muito porque você já está cansado, não? Não é isso dona. É que lá onde eu moro é muito pior do que aqui. E mesmo assim me safo. Não foi ninguém que mandou eu vender. Sou eu mesmo que quero. Prefiro muitas vezes estar aqui.
Diogo me deixou sem palavras. Enquanto ele comia, eu não sabia o que dizer.
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