Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Wednesday, August 08, 2007


Poucos colheram do "modo" de Clarice em semear o "direito à diferentes felicidades". Muito embora quase tod@s já saibam que o livro "A Paixão Segundo G.H.", de Clarice Lispector, conta a história de uma mulher que se chamava apenas pelas iniciais na valise de viagem e que um dia se depara com uma ordem diferente da dela. Perfeita, mas em tudo des - igual (neologismo meu) da sua casa de revista. Dia em que vai ao quarto da empregada e se depara com uma barata - ser pré - histórico com condição que antecede a condição humana. G.H. descobre aos poucos que vai impelindo - a ao encontro do que existe dentro da "coisa" que descobriu. Da página doze à página treze (1998, Ed. Rocco) conta:

"Ontem no entanto perdi durante horas e horas a minha montagem humana. Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia (grifo meu) de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? (quase ouço com sotaque espanhol...) e no entanto não há outro caminho."

É assim, sem qualquer pausa, em um único fôlego, que vai indo:

"Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explicq que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra - como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização. E uma desilusão. Mas desilusão de quÊ? se , sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema."

E arremata, abrindo o leque para o "ser feliz", criando caminhos:

"No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido".

(A Paixão Segundo G.H., Clarice Lispector, Ed. Rocco, 1998, págs. 12 e 13)

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