Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Wednesday, June 11, 2008

(com fotos de Susana Rocha)

Gilles Deleuze - gracinha de pensador francês - e seu conceito de felicidade (Erva e água clara) me fazem lembrar do tempo em que o silêncio me incomodava. Adolescente, morando em Aldeia, num sítiozinho, cansei de percebê-lo partido apenas pelo criquilhar das cigarras...

Hoje percebo como "não o silêncio não me incomoda mais". Embora nem ele salve - as palavras, já mencionei, há muito não me salvam mais. O silêncio ainda é um dos lugares mais aconchegantes e confortáveis que já conheci. E para mim, muitas vezes, tudo se resume ao lugar. Minha ode ao silêncio do que fiz ou nunca ousei. Meu pedido silencioso e explícito de que repitam em coro versos de Paulinho da Viola, por toda a minha vida:

Quem sabe de tudo, não fale
Quem não sabe nada, se cale
(Se for preciso eu repito, repito, repito, repito...)

Não falem por aí, do que não sabem
Não digam do que não é sua vida
Não cometam a tamanha indelicadeza e deselegância
Por que querer encerrar uma pessoa tão possível em defeitos
Quanto em suas qualidades, em palavras hipócritas, burras, cegas, surdas, próprias???

- sim, porque só se pode falar do seu próprio caráter - não há profundidade na sua fala cara-pálida. Não pode haver em tamanha superficialidade qualquer chance de parecer científico ou de simples precisão.

Ninguém, eu disse ninguém, pode ousar uma definição sobra a vida de outra pessoa ou opinião que seja sobre quem não conviveu, trocou palavras sequer! como pode emitir parecer se nem conhece?

Que dirá falar da vida que essa pessoa leva, das possibilidades que criou ou não criou, das tolices que cometeu e somente ela mesma pode compreender como tolice, burrice, idiotice, canalhice, insandice, visse, visse, visse, visse, visse...

Que vício terrível esse de quem não tem o que fazer e resolver falar do fazer alheio. Que extrema e terrível necessidade de xingar o jeito de ser do outro. Que ouvidos moucos, moucos. Quem são afinal, os seres humanos loucos, loucos...

É sim, a opinião dos outros importa em parte, só a parte que interessa. Porque ninguém tem - em geral - nada de bom ou novo a dizer. São as mesmas falas repetidas de descrédito na polícia, medo da violência, ou das injustiças com seu time. Pior, quando não escolhem um caso escabroso - o que acontece vez por outra - para aterrorizar sentimentos tão frágeis e delicados como laços de companheirismo, amizade, amor, família... Por que será que não se cansam dessa mesma tecla onde está escrito "boicote"? Ou "sabote"? Ou "fricote"?


Difícil. Vou dizer, difícil. Algo mesmo novo e diferente. Suave, positivo, real, interessante, amistoso, condizente... para usar no final uma palavra incompleta. Sim, sim. Tenho todo interesse no novo, no que é lúdico, no belo, no detalhe, no curioso, no que é "excelente" por natureza como a própria natureza ou o silêncio.



Nem sei mais porque escrevo se não sinto o mesmo peso da alma na palavra. Eu falei peso? era para ser de uma imensa leveza esse novo milênio, Calvino...










É somente um instante o que me acolhe em teu guarda-chuva, Bataille. Nem vejo nada mais necessário, mais vital do que isso que é tão simples.



Alguém apague a luz, eu devo estar acordando... Ou então, onde foi parar a Harmonia? por que tudo é tão "produzido", "reproduzido", "induzido"...? Quem sabe me salve "uma narrativa"! Quem sabe me interesse uma corpoeticidade mais descomplicada e ainda assim comprometida. Não desconfio de mais nada. Não tenho tempo a perder com isso. Apenas sei o que não é. Ah, disso eu sei. Pena é perceber como se perdem por um simples viés. Um fio seria capaz de derrotar o Minotauro. Perdeu-se, o fio de lã, o viés. Não verá mais...

Interessa-me mesmo é voltar a Deleuze e seu significado da liberdade (ou escrevi "felicidade"?) diz um amigo meu que se aproxima muito do significado original do termo: a palavra prya, do sânscrito!. Significa aquilo que se ama e que dá prazer e alegria. Que inspirou a origem da palavra "liberdade" em inglês: "free". Prya é muito mais do que se libertar de alguma coisa, como espera ou cabe no termo latino. É, simplesmente, ser feliz!

3 comments:

Anonymous said...

Cara Senhora Gregória Alves,

Sou a autora de uma das fotografias que "com leveza" utilizou neste seu post.
Bem sei que a partir do momento em que publíco as minhas imagens, elas ficam à mercê de quem as quiser saquear... Mas o que me desagrada não é isso. O que me desagrada é que pessoas como a senhora, as usem sem qualquer tipo de legenda identificando o seu autor.

Anonymous said...

Lamento o lapso no seu nome, que afinal é Geórgia Alves.
O meu continua a ser o mesmo... Sinta-se à vontade para o colocar abaixo da minha fotografia.

Geórgia Alves said...

Bom, publiquei as fotos inclusive porque estão com os créditos e por achá-las por demais bonitas. Aqui segue... muito grata.