Uma aprendizagem ou os livros que despertam o prazer de ler
A menina tem doze anos e já leu 5.386 páginas do fenômeno Harry Potter, da encantadora senhora J.K. Rowling. Sem falar em todos os livros propostos pela escola como Os miseráveis, de Victor Hugo e O nariz, de Luís Fernando Veríssimo e outros. Em média tem devorado de quatro a cinco livros, no período das férias. Inclusive os de Ágatha Christie.
Circular naquele espaço - chamado de bienal – para ela que observa tudo com atenção de leitora desperta, mostrou-se apenas a insuficiente sensação de estar pouco mais próxima das editoras com seus símbolos nos exemplares que costuma adquirir. Viu escritores ali circulando e falando nos auditórios, mas para ela pareceu estarem em situação de algum desconforto. Não pelas palavras que escolhiam certificando suas opiniões, como nos livros. Mas pelo ambiente tão seco de montagem passageira e pouco convidativo. Faltou juntar o ambiente das ideias a uma decoração mais cativante às mentes tão criativas.
E na ausência de algum mistério o sonho, a imaginada tarde em meio aos livros tal qual um Visconde de Sabugosa esquecido na biblioteca da simpática Dona Benta se desfaz em quarenta minutos feito bolha de sabão. “Mãe, agora já podemos ir para casa. Acho que já vi tudo". É fato, ela não andou todos os metros quadrados de alcatifas surradas e empoeiradas. Mas já viu tudo que podia. E basta.
Sua fala é uma reação imediata também ao momento “livros didáticos”, em derrame de tinta sobre papel em modo duro. Sem limites para erros e mau gosto. Não é o que a menina gostaria de ver. Tocar. Achou legal a invenção de uma gráfica que imprime livros rápidos e o anfiteatro onde alunos e professores interagiam com autores. Também aquela cozinha especialmente preparada para tornar-se ponto de encontro, o mais agradável, na hora do café.
O cansaço dos olhos da menina está na poeira do que é tornar feira ambiente onde esquece que o modo de pensar também elabora o modo de desejar. E quem procura por uma boa literatura e conhece lindas livrarias. Não contenta. Melhor fazer como fizeram num outro Estado, soube. Uma árvore com livros pendurados e fios enormes para permitir ao leitor o inenarrável prazer para o qual nasceu. Ler debaixo de uma frondosa árvore com a brisa leve soprando seu rosto enquanto viaja pelas páginas que transpõe uma a uma.
Viu muitos lançamentos, a menina. A própria escola adotou edição especial de uma editora paulista por sugestão dela. Os livros estimulam o pensamento e firmeza de opiniões. Desenvolve a capacidade de ter segurança em alguma iniciativa. A menina sabe do empenho necessário para vender livros, por histórias que conhece na família.
Foi a palavra “originalidade” que buliu rápido com a percepção dela. Talvez porque é diferente sua velocidade de pensamento, ao perceber em alguns corredores o ataque direto, frontal para um tipo de produto que entristece a cabeça da menina à espera de algo mais. Já acostumada ao assédio dos shoppings, para ela, não há nisso nenhuma novidade.
O mérito de um evento assim continua sendo a reunião de cabeças pensantes e boas propostas em realizar o grande desejo de um bom leitor. Mistério parecido com o do coelho pensante, de nariz cor-de-rosa que mesmo de barriga cheia, quer ir em busca de mais comida. Escapando do seu lugar ou para ele reservado.
Ali, por exemplo, uma das grandes livrarias teve a boa idéia de destacar obra completa de Ziraldo usando as cores do universo de Flicts. A menina não precisou de muito tempo para perceber que ali queria ficar. Porque nada interessa mais e desperta seus instintos de boa, curiosa e voraz leitora do que ler nas entrelinhas, e isso inclui a palavra "feira".
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