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Friday, May 28, 2010

Refogado

Tremo e não é de frio ou de medo. É de raiva. Sim, pelos sustos que tenho com o mundo... Tremo de frustração e de angústia. É raiva contida. Pelo meu modo simples. Tremo de horror e de revolta. Infantil demais?

Sim. A minha criança anda mesmo muito comigo, ultimamente. E é por tomar, vez por outras, seus olhos emprestados que vejo o mundo em susto e horror. O que enfrentam esses pobros olhinhos infantis nos dias de hoje... Minha criança, por fortúnio, não está sozinha. Anda na companhia do meu adulto. Por isso não há em seus olhos traço de sentimento pior: o abandono.

Mesmo com a voz ainda presa, o adulto fala por ela, quando é necessário. Embora nem sempre seja preciso. Mesmo em espírito deformado, por trêmulo, esse adulto está sempre com ela na lembrança e em sua presença vem socorrê-la. E vice e versa.

Mesmo no caos que se apoderou desse adulto, os pensamentos se organizam pela companhia da criança. Diante de quaisquer sentimentos, os pensamentos se organizam. Com raiva ou desesperança, o adulto se organiza diante desse destempero. Dessa destemperança.

Esse adulto que também sou enfrenta ainda com alguma coragem por estar perto da criança. Os horrores que, por desventura, se atrevem a atravessar em seus caminhos. Para proteger a criança, o adulto se organiza e mentaliza. Age com a mente. Com a razão. A união vai diluindo a raiva e revisa os fatos. A situação é cortada em pedaços feito carne para refogado. Tudo que escapou no momento do enfrentamento é fatiado.

Nesse mesmo instante revejo de um lugar mais alto. O que está mesmo em questão não foi ainda revelado em meio ao picadinho de frases em fúria, mal postas na mesa.

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