Por que vieram?
Não soube de motivo.
Sei que deve haver
Perfume?
Digo?
Por que na Primavera?
Porque não há explicação
O inverno é somente frio
E o calor vem com o verão.
Por que a menina dos 'porquês'
Virou a mulher de um Outono...?
Porque visitou cada estação
Sentiu amor, dor, alegria, solidão
Mas hoje apenas sopram no ouvido
Preferiu a proteção, uma redoma,
Um umbigo de vidro. Nem soma
Nem subtração. Talvez multiplique...
Uma janela e uma porta entreaberta.
Saindo sempre de todos os lugares
Fixando nenhuma de suas partes
Prefiriu estar certa a não ter razão.
Mas deve ser o nono (!) vento que percebo
Ando afinando também com os números?
Pois então é fim de um ciclo. O derradeiro?
Somente significa poder voltar à superfície
Trazendo flores e fartura em forma de trigo...
Vinho e quem sabe figos. Feijão e framboesa.
Me parece grande perigo sair daqui
Desse lugar tão escondido que eu inventei
Seu abrigo? Não, um torpor, uma pálida escuridão.
Mas em todo tempo cego sobram pontos de luz
Coragem não é apenas o nome do motor da emoção
É muito mais ainda: fazer com medo e ir seguindo
Ir em frente com alguma dúvida e tensão muda
E conseguir, sem tanta proteção, atravessar a linha
Entre o querer bem e razão de uma criatura distante
Mas se emprego um tom sincero não predominam
As costumeiras armadilhas do meu cérebro?
Procure entender o equilíbrio dessas duas forças
O encontro entre a constância e o sentimento
O que for predominante e inevitável, perceptível,
Aquilo que com toda força empregada ainda escapa
Mesmo com todo o esquema que cerca
Inventado como engrenagem para evitar
E diluir o mais sincero impulso criativo
Aquilo que surgiu bem no início
Ainda no princípio de tudo, é honesto.
Depois de atravessar as circunstâncias
Haverá ainda há muito o que afinar
Como um instrumento e seu uso
Permanente na sua forma de tocar
Percebo que causa tanta alegria
E também tanta dúvida e incerteza...
Sim, e nisso está todo o mistério
De um ser humano construído
E aquele inventado em seu tédio
Só mais uma pergunta:
Não sei nem mais o motivo de querer
Por que as palavras fluem
Assim feito água e há tanto pra dizer?
Parece que uma mão divina
Abre a torneira e a gente vai escrevendo
Sem nem perceber direito estou vendo
Sem assuntar, prevejo sentimento
Daí para que serve o registro
Nessa rotina de pensamentos mudos
Se a memória funciona tão pouco
Resta a esperança de um jeito torto
Quando a escolha foi por um modo
Meio louco de viver e mesmo que tarde
...Acho que deveria ter dito sem alarde...
Do sonho que tive
Na noite seguinte.
Ao (re) encontrar você
Sonhei com olhos lívidos
E ávidos por me dizer.
... Ah, e sobrancelhas arqueadas ...
A menor menção desse gesto possível
De um encontro em cenário já proibido
Deixou - me num misto de visão da realidade
E ternura com esse sonho e a natural libido.
Ah, querida Deusa Lilith,
Por que é tão precioso e bom
De tamanha emoção, nascer de você?
Mesmo tendo Gaia no nome
Confesso, sem nenhum pudor,
Sei exatamente o que não devo fazer.
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