Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.
Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz
Friday, October 14, 2016
Alguém me ensine a não amar Bob Dylan
Alguém me ensine a não amar Bob Dylan! (2006) (Muito antes do Nobel)
Aos 16 anos, lembro que, apesar de tão pouco conhecimento sobre fundamentos da Astrologia e as reais características próprias de cada signo, eu já detinha um medo intuitivo de ver meu pobre coração virginiano, naquela época habitante também de um corpo virgem, sucumbir por nascidos geminianos, não por nada, mas pela dualidade. Como dizia Ariano, "dizem que somos dois seres num só, mesmo entendendo que estão nos chamando de duas caras não é tão ruim assim". É Ariano, apesar do nome, era de Gêmeos e de um dinamismo enquanto"filho de Hermes" que dispensa apresentações . Ainda hoje tenho viva a imagem dele caminhando na Praça de Casa Forte. E a que velocidade! Bah, quem dera fazer algo semelhante depois dos oitenta. Mas vim aqui falar sobre outro geminiano. Hoje, muitos anos depois ainda estou apaixonada por Bob Dylan, agora perdidamente. E não tem cura. Ele é a própria definição do termo 'mercurial'. E que modelo de um corpo em ação! Sua maior caraterística, ele mesmo definiu no livro Crônicas, "a velocidade". Bem típico de geminiano. Velocidade em absorver informação, em produzir canções e versos, "de comunicar com pares e público" (Bravo, Maio 2005).
Quero ter medo de Bob Dylan. E ficar longe de seu poder de sedução sobre mim, mas não consigo evitar o atrevimento de desejá-lo, como homem, depois de sentir na pele Blowin' in the Wind, tão velhinha a criação e me pegou jovem. Quando nem era projeto meu a paixão. Quando foi feita eu nem ao menos era nascida. Minha mãe era uma menina ainda em seus 14 anos. Quando Robert Allen Zimmerman fez a canção nascer, ele tinha 22 anos. Bob chegou nesse mundo no dia 24 de maio de 1941. E está na idade certa agora, 65 anos.
- "Mas eu era tão velho nessa época, sou mais jovem que isso agora" (DYLAN, 1964)*
*My Back Pages
(Suspiro)
-AAAAAAAlguém me ensine a não amá - lo por completo e me perder novamente! O problema é que sei amar com tanta força, que me perco. Destempero. Nunca sequer fui boa de cozinha. Queimo até a pizza, quanto mais a linha regulamentar necessária a um bom relacionamento. E mesmo fazendo com requinte um crepe fininho e delicado, erro a mão no sal. Meu jeito de viver, entre livros de Nietzsche e panquecas é puro sal. Não era bem isso que eu queria dizer. Vou tentar novamente. Quero amar pessoas de verdade, com qualidades e defeitos e não amar tão perdidamente Bob Dylan. Quando era criança, vi minha mãe beijar o poster do Roberto Carlos. Não foi só a parede da casa que ficou para sempre marcada. Bob Carlos, ahã. Exatamente. Não quero repetir o padrão. Já basta todo esforço em manter longe dos olhos a memória e da memória as sessões intermináveis de lps na vitrola aos sábados. Mesmo querendo me fazer entender, o caso é outro, não consigo fazer deter o desejo de casar com Bob Dylan. Este é o meu caso.
Alguém me ensine a gostar mais ou menos dele, somente dia sim, dia não...
Percebo que, nem que apaguem de todos os lugares Blowin' in the wind, eu conseguiria. Não fica fácil.
Ainda que todas as páginas configuradas na Internet sejam deletadas não será impossível, aos meus ouvidos parece, ainda mais depois que foi este, por dois anos, o toque do meu celular.
Olho as revistas e encontro com seu olhar distante, misterioso, Bob, na tela do pc, apenas saca o violão e toca (para mim) a canção.
How many roads must a man walk down
Before you call him a man?
Yes, 'n' how many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Yes, 'n' how many times must the cannon balls fly
Before they're forever banned?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.
How many times must a man look up
Before he can see the sky?
Yes, 'n' how many ears must one man have
Before he can hear people cry?
Yes, 'n' how many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.
How many years can a mountain exist
Before it's washed to the sea?
Yes, 'n' how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, 'n' how many times can a man turn his head,
Pretending he just doesn't see?
The answer, my friend, is blowin' in the wind,
The answer is blowin' in the wind.
E eu que estava tão triste e tão feliz em passar um tempo sem pensar nele.
Não suporto sentir nada mais que a verdade. E como a vida tem sido
de casos sem altos nem baixos, no meu coração só ficou a marca de Dylan. Uma constância de amor que está me matando. Eu que já fui chamada de benzinho, mon Cher, lady Cat, de Montanha e até de minha mulher, que é legal pelo menos parecia simples.
Estou me desfazendo ao querer amar de verdade o Dylan. Ainda acabo virando pó. Estou certa de que serei eu levada pelo vento!
Tensão de amor de novela. típico paradoxo de desejo fadado ao dramalhão. Falas em pausas, enquanto meu cérebro e coração são dominados como que por refrão. E juntos, de modo uníssono, vão repentindo:
ALGUÉM ME ENSINE A NÃO AMAR BOB DYLAN!!
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