Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.
O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de "a protetora dos animais". Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.
E eu sentia o drama social com tanta intensidade que vivia de coração perplexo diante das grandes injustiças a que são submetidas as chamadas classes menos privilegiadas. Em Recife eu ia aos domingos visitar a casa de nossa empregada nos mocambos. E o que eu via me fazia como que me prometer que não deixaria aquilo continuar. Eu queria agir. Em Recife, onde morei até os doze anos de idade, havia muitas vezes nas ruas um aglomerado de pessoas diante das quais alguém discursava ardorosamente sobre a tragédia social. E lembro-me de como eu vibrava e de como eu me prometia que um dia esta seria a minha tarefa: a de defender os direitos dos outros.
No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.
*Pag. 46, Aprendendo a viver, Rocco. Seleção de crônicas antes publicadas em A descoberta do mundo (Rocco), escolhidas por estarem todas na primeira pessoa, uma não-ficção, discutindo filosofia de vida e a tentativa de compreender o mundo.
3 comments:
Minha cara Felicidade, segue a parte da opinião que - espero - interessa: a cor negra é bem mais bela como suporte para as claras (claríssimas) letras brancas, que tornam ainda mais luminosas idéias interessantes como a da frase que abre esse tópico.
Beijos claríssimos
Eureka, meu prezado eudaimonia! A superposição do alvo sobre o negro é mesmo de grande harmonia...
beijos compostos
Lindo!
Post a Comment