Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Thursday, July 31, 2008


Dança da Solidão

[Intro:] AmA7 Dm


Solidão é lava que cobre tudo


E7 Am B7 E7

Amargura em minha boca, sorri seus dentes de chumbo

Am A7 Dm

Solidão palavra cavada no coração

Am E7 Am

Resignado e mudo no compasso da desilusão

Dm E7 A7

Desilusão, desilusão

Dm

Danço eu dança você

E7 Am

Na dança da solidão

E7 Am

Caméllia ficou viúva, Joana se apaixonou

A7 Dm

Maria tentou a morte, por causa do seu amor

Bm7(b5) E7 Am

Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado

E7 Am

Quando eu penso no futuro,

não esqueço o meu passado


Quando vem a madrugada, meu

pensamento vagueia


Corro os dedos na viola,

contemplando a lua cheia


Apesar de tudo existe,

uma fonte de água pura


Quem beber daquela água,

não terá mais amargura


- " Santo meu Deus! Batman, como andas escrevendo ultimamente..."


- "E o que é pior, Robin: dizendo absolutamente nada".




Tenho, às vezes, o impulso leve de soltar esses pensamentos apenas em caderninhos. O que seria muito muito muito mais sensato. E então, algum outro instante fluido me faz abrir, paginar folhinhas e vir até aqui.

Se quisesse descrever, como quem descreve um quadro, quais são as cores que usei e escolhi, não poderia resumir em preto e branco. Não. É verdade, sim. Nem sempre sou exata. E percebo que não me comunico. Até me interesso, cada vez mais pela precisão da matemática. No entanto, algum vento tolo sopra "loas" em meu ouvido, e meus dedos respondem. Por quais respostas procuro? Qual é mesmo a minha pergunta? Sofro - momentaneamente, eu espero - do mal daqueles que acham tudo: "uma falta de absurdo". Absurdos não me faltam, não... é. Veja bem... não sou mesmo tão modesta. Mas sim, tudo para mim é de uma enorme "falta de absurdo".

Eu que vejo de tantos lugares, cada pedacinho de justo impulso se habilitar. Cada trejeito de expressão de alma reprimida se manifestar. Sofro sem piedade de mim mesma, de uma tremenda falta de absurdo. Estou tão honesta, ultimamente, que ando lívida. Impávida. Não, não mais me "colosso"... Não "colosso" coisa alguma!!!


Faço mal? é tão triste quanto aparece uma escrita tão honesta e sem "raios fúlgidos". Sem "céu da pátria, nesse instante"? Oh, liberdade, quanta falta de absurdo...Fôlego, fôlego vejo assim, em caixas postais, respondendo visceralmente e de imediato. Será tão pouca a idade que tenho que acabo atraindo os mais puros e jovens desejos?


...


A tanto tempo não escrevia essa palavra, que agora me parece mesmo algo para ser muito secretamente escrito. Devia voltar sim aos caderninhos. Difícil me demover da idéia de não estar nunca mais aqui. Oh liberdade, que fluido. Que mundo tão fluido. Deixe-me levar impulsos outros não. Quero sim dizer sim ao sim. Não ao não. Quero mesmo permitir sintonizar da energia e abrigar cada vez mais palavras e palavras e palavras.






Afinal, por onde passas de trem, há campos floridos rompendo rápidos pela janela? Onde abrigas o teclado onde escreves tantas frases tão felizes e que parecem estar sorrindo a cada novo sinal? É em teu colo que abrigas o instrumento que te liga ao prazer de viajar? Anda assim, tão sozinho?






Tenho lista de perguntas. Tenho força para escrever ainda e ir soltando cada pétala enquanto vejo escorrer feito lágrima minha seiva. Deveria voltar aos caderninhos, mas não vou. Não quero precisar quanto tempo e até onde estar aqui me levou. Vou dizer apenas que a esperança que me alimenta é verde sim. E parece recém-nascida a cada teclar novo. Verde novo. Foi mesmo uma das cores da felicidade pintada aqui.

Monday, July 28, 2008

Per Carla Bruni: C'est un blues...


L'amour, hum hum, pas pour moi,
Tous ces "toujours",
C'est pas net, ça joue des tours,
Ça s'approche sans se montrer,
Comme un traître de velours,
Ça me blesse, ou me lasse, selon les jours
L'amour, hum hum, ça ne vaut rien,
Ça m'inquiète de tout,
Et ça se déguise en doux,
Quand ça gronde, quand ça me mord,
Alors oui, c'est pire que tout,
Car j'en veux, hum hum, plus encore,
Pourquoi faire ce tas de plaisirs, de frissons, de caresses, de pauvres promesses ?
A quoi bon se laisser reprendre
Le coeur en chamade,
Ne rien y comprendre,
C'est une embuscade,
L'amour, hum hum, ça ne va pas,
C'est pas du Saint Laurent,
Ça ne tombe pas parfaitement,
Si je ne trouve pas mon style ce n'est pas faute d'essayer,
Et l'amour, hum hum, je laisse tomber!
A quoi bon ce tas de plaisirs, de frissons, de caresses, de pauvres promesses?
Pourquoi faire se laisser reprendre,
Le coeur en chamade,
Ne rien y comprendre,
C'est une embuscade,
L'amour, hum hum, j'en veux pasJ'préfère de temps en tempsJe préfère le goût du vent
Le goût étrange et doux de la peau de mes amants,

Mais l'amour, hum hum, pas vraiment!



Friday, July 25, 2008

É a pergunta quem dá início a tudo...

- Tia, me dá um trocado?
- Tá, mesmo não tendo "idade" para ser sua tia, eu troco com você! Tá aqui uma barra de "leite condensado caramelizado, com flocos crocante, e o delicioso chocolate que não preciso dizer o nome". É seu. Se puder me responder também a uma pergunta: Você sabe guardar um segredo?

Os olhos de um branco destacado na pele tão negra e de uma expressão ainda triste vão se abrindo mais... A cabeça balança afirmativa e a boca, enfim, morde o doce. A próxima pergunta, vinda da pequena, já é outra:

- Que horas são?

Strange Fruit
Robert Wyatt

The Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves, and blood at the roots
Black bodies swinging in the Southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the 'Gallant South'
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolia, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is a fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the tree to drop
Here is a strange and bitter crop...

Wednesday, July 23, 2008

por André Comte-Sponville

Que fazer? Como escapar desse ciclo da frustração e do tédio, da esperança e da decepção? Há várias estratégias possíveis.
Em primeiro lugar, o esquecimento, a diversão, como diz Pascal. Pensemos rápido em outra coisa! Façamos como todo o mundo: finjamos ser felizes, finjamos não nos entediar, finjamos não morrer...
Não vou me deter nisso.
É uma estratégia não-filosófica, pois em filosofia, trata-se justamente de não fingir.
Segunda estratégia possível: o que chamarei de fuga para a frente, de esperanças em esperanças. Mais ou menos como esses jogadores da loto, que todas as semanas se consolam de terem perdido com a esperança de que ganharão na semana seguinte.... Se isso os ajuda a viver, não sou eu quem vai criticá-los. Mas, aqui também, vocês hão de convir que isso não é filosofia, e muito menos sabedoria.
A terceira estratégia prolonga a precedente, mas mudando de nível. Já não é uma fuga para a frente, de esperanças em esperanças, mas antes um salto, como diria Camus, numa esperança absoluta, religiosa, que não é suscetível, acredita-se, de ser decepcionada (já que, se não há vida depois da morte, não haverá mais ninguém para percebê-lo). No fundo, é a estratégia de Pascal.
O mesmo Pascal que explica tão bem que, "dispondo-nos sempre a ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos", é o que escreve em outro fragmento dos Pensamentos:
"Só há bem, nesta vida na esperança de outra vida."
É o salto religioso: espera a felicidade para depois da morte. Ou em termos teológicos: passar da esperança (como paixão) à esperança (como virtude teologal: porque ela tem Deus mesmo por objeto). Essa estratégia tem suas cartas de nobreza filosófica...
Mas é preciso, além do mais, ter fé, e vocês sabem que não a tenho.
Ou estar disposto a apostar a vida, como diria Pascal, e a isso eu me recuso: o pensamento deve se submeter ao mais verdadeiro, ou ao mais verossímil, e não ao mais vantajoso.
Portanto tive de tentar inventar, ou reinventar, outra estratégia. Não mais o esquecimento ou a diversão, não mais a fuga para a frente de esperanças em esperanças, não mais o salto numa esperança absoluta, mas ao contrário, uma tentativa de nos libertar desse ciclo da esperança e da decepção, da angústia e do tédio, uma tentativa - já que toda esperança é sempre decepcionada - de nos libertar da própria esperança.
É o que me leva a meu segundo ponto...
(A Felicidade desesperadamente)
Madeleine Peyroux
Look down, look down
That lonesome road
Before you travel on
Look up, look up
And seek your maker
Before Gabriel blows his horn
I'm weary of toting, such a heavy load
Trudging down, that lonesome road
Look down, look down
That lonesome road
Before you travel on
I'm weary of toting, such a heavy load
Trudging down, that lonesome road
Look down, look down
That lonesome road

Before you travel on
Before you travel on

"Penso que um escritor deve ser ético, no sentido de que se narra um sonho, se narra uma fábula, se narra um conto fantástico ou um conto de ficção científica, deve acreditar nesse sonho. Quero dizer, ele sabe que isso que narra historicamente não é real, mas tem de ser algo que sua imaginação aceite; e o leitor também percebe se sua imaginação aceita isso ou não, já que um leitor descobre imediatamente as insinceridades em uma obra: penso que quando alguém lê algo, percebe se o autor o imaginou, ou se simplesmente está brincando com palavras; penso que isso se sente imediatamente se você é um bom leitor. Tenho certeza de que não sou um bom escritor, mas acredito ser um bom leitor, o que é mais importante, já que, bem, dedicamos pouca parte de nosso tempo à escritura e muito à leitura".


Reencuentro. Diálogos inéditos, Jorge Luís Borges e Osvaldo Ferrari, 1999.

Thursday, July 17, 2008


Sim o amor é líqüido. E ele transporta...
Como um rio por onde se pode chegar desse a outro lugar. É fluido. É possível em qualquer forma, em qualquer canto do mundo, em qualquer difícil estreita passagem.


"O amor é como a água, pois consegue se amoldar a tudo, ultrapassar barreiras, encontrar brechas por onde escapa".

Ingrid Betancourt (de Carol: Flores!)


A Cartomante
Machado de Assis


Hamlet obesrva a Horácio que há mais cosas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.


- Ria, ria. Os homens são assim: não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa...". Confessei que sim, e então ela continuou a botas as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...


- Errou! interrompeu Camilo, rindo.


- Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa... Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...


Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casa. Vilela podia sabê-lo e depois...


- Qual saber! Tive muita cautela, ao entrar na casa.


- Onde é a casa?


- Aqui perto, na Rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.


Camilo riu outra vez:


- Tu crês deveras nessas coisas?, perguntou-lhe.





Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.


Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirma, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.





Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo não só o estava mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu, pela Rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.





Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.





- É o senhor?, exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.





Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.





Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.





Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; ela mal, ele, para lhe se agradável, pouco menos mal. Até aí as coisas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as coisas que o cercam.

Wednesday, July 16, 2008


"Enquanto passava sobre o longo caminho elevado aberto com a estrada de ferro através da campina, deparava-me com muitos ventos roncando e crestando de frio, pois em nenhum outro lugar gozam de mais liberdade; e quando a geada me esbofeteava numa face, apesar de não se cristão, voltava-lhe a outra. A situação não era melhor na estrada para carros que partiam da colina, de Brister. Pois, feito um índio bem disposto, eu me dirigia à cidade quando toda a neve dos vastos campos abertos se acumulara de um lado e outro nos taludes da estrada de Walden,"

(...)


Henry D. Thoreau

A vida nos bosques

Monday, July 14, 2008


A escritora Silvina Ocampo nasceu em Buenos Aires nasceu em 1906 e morreu em 1993. Ainda nos anos 40, conheceu Jorge Luís Borges e por intermédio dele, o homem que viria a ser seu marido. O também escritor Adolfo Bioy Casares. "Rezam lendas" que Silvina foi responsável por escolher músicas que inspiravam o momento de criação de ambos, na produção de obras como "histórias policiais". Dali sairiam "instantes" que contribuíram para a concepção da realidade literária latino-americana. Ainda atual. Silvina foi aluna do pintor Giorgio de Chirico e conviveu com outras figuras do meio literário. É dela o texto, livremente, traduzido a seguir:


"Quando morreres, os demônios e os anjos, que são igualmente ávidos, sabendo que estás adormecido, um pouco neste mundo e um pouco em qualquer outro, chegarão disfarçados em teu leito e, acariciando tua cabeça, te darão a chance de escolher entre as coisas que preferiste ao longo de tua vida.


Abrindo todo o leque de opções vão mostrar-te tua sorte. A princípio, eles ensinarão as coisas elementares. Se te ensinarem o sol, a lua ou as estrelas, tu verás em uma esfera de cristal pintada e vais crer que essa esfera de cristal é o mundo. Se te mostrarem o mar ou as montanhas, tu verás uma pedra e vais crer que essa pedra é o mar e as montanhas; se te mostrarem um cavalo, mesmo que seja uma miniatura, tu acreditarás que aquele é um verdadeiro cavalo. Os anjos e os demônios distrairão teu ânimo com retratos de flores, frutas abrilhantadas e bombons fazendo-te crer que és, todavia, uma criança, te sentarão num acento de mãos, chamada também de acento do rei ou acento de ouro, e desse modo te levarão em mãos entrelaçadas, por aqueles corredores ao centro da tua vida, onde moram tuas preferências.


Tens cuidado: se elegeres mais coisas do inferno que do céu, iras talvez ao céu, do contrário, se elegeres mais coisas do céu que do inferno, corres o risco de ir ao inferno, pois teu amor pelas coisas celestiais denotará mera concupiscência. As leis do céu e do inferno são "voláteis". Depende de um ínfimo detalhe que vás de um lugar a outro. Conheço pessoas que por uma chave girada numa gaiola de vime foram ao inferno e outras que por papel de diário ou um copo de leite, ao céu".

Saturday, July 12, 2008


"Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é a angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa.
Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia. Mas eu escapei disso, Lóri, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, Lóri, e esperarei até você também estar mais pronta."

Wednesday, July 09, 2008

vejo folhinhas que crescem

broto estou eu mesma

depois que afundei.

E foi mergulho tão doce,

que deu-se em câmera lenta

em água limpa prateada

nem era noite de lua

e

eu

saí

vendo

a pele da cor
de jóia tão rara...

Saturday, July 05, 2008

A cada minuto
um pequeno suicídio

Outro dia, recebi convite
Figura respeitável e inteligente
Me chamou

Sim. Eu quero fazer parte
Assinar meu nome em espaço crítico,
Excelente. Ousado. Criativo

sim. Sou parte morta
Escrita torta? quem se importa...
Viro e mexo pelo avesso

Eu enxergo
São dez horas e
Ainda há crianças nas ruas
No escuro.

Seus olhos vazios,
não dizem mais nada
Doce infância?
Vida amarga!

Vejo-as por baixo de papelões
No meio da rua e passo não à pé
Mas por rodas cedidas e apressadas

pequenos suicidas
todos juntos sob a carroça
Sua única casa

Nenhuma entrada ou saída
Não é labirinto
É afogar-se na bacia

Lamento, só. E tanta
gente medíocre a dizer nada,
nada!

Vulgar é pensar só em si mesmo
Oh repertório ruim. Haja defeito!

Modinha que não tem jeito,
nenhum ou qualquer apreço
nem por si mesmos?

cor nenhuma
forma tão triste
pobre de espírito
de graça

que perda de tempo!

oh mundinho tão injusto e imundo

Foi. Perdi a veia, o jeito, a paciência. Tudo.
Ando sem esperança
Fé? nem sei mais no quê
O que vale a pena,
estou ainda para ter...
se a distância deixar

continuo balançando
folhinhas
tolinhas...

Do que eu sei, hoje
sou natureza morta
suicido em minha porta
Tranco e perco a chave
E toda lógica

Eu mesma cancelo o elo
sofro e não vejo "positivo"
nem quero mais perguntar:
por que? vai dar? pra quê?

quisera saber
menos que eu sei
ver bem menos

flagraram
meu par de olhos
fininhos
espremidos

É.

Estava acordando
um estado de felicidade
mas dá para chorar

no inverno?
afinal, já chove
lágrimas?
no molhado
ninguém vai perceber...

um raiozinho de Sol
me faria ver
outra vez o arco-íris?
as possibilidades da arte



homens da Pré-História fazem arte rupestre

desenhos representando lembranças, imagens feitas em cavernas



homens da idade média

fizeram a arte barroca

horas sadias outras moucas



homens iluminados

foram atenuando contornos

de um surrealismo e de cores



Fizeram no Renascimento

Uma arte em conceitos:

pintura, literatura, música,

Escultura e Arquitetura


Na modernidade

Disseram: retos. Estreitos de ...


Já na pós-modernidade

Escorremos por entre seus dedos