Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Tuesday, December 30, 2008

toda vez que insisto numa imagem e ela se repete por vezes e vezes e vezes e vezes nessa minha cabecinha rápida, fragmentada, caleidoscópica, tenho finalmente a certeza. Marcou. Ficou para sempre comigo. E elas voltam... a como brilham mais vivas a cada volta... girando no meu Universo. Um 2009 assim. Das mais belas imagens
terna...

um instante raro, como diria Henri Bergson, em que o fluido da vida se encaixa no rígido de um dia cinza. Vermelho momento invadido de poesia. O mundo todo igual e eu tão diferente em mim.
um modo carinhoso de olhar... e ter para sempre!

uma cidade e suas luzes!



Imagens a concretizar em 2009! Para um ano mesmo novo com tudo de bom e bonito que há! Ahhhh .... que há, há. Há sim beleza nesse mundo. É só olhar.

Tuesday, November 25, 2008

por que não colorir você mesma a chita?

Friday, November 21, 2008




smell it!... her perfum is burning everywhere...

Friday, November 07, 2008

one more time.
insisto...
Eu punctum de mim...

"O que meu corpo sabe da fotografia?" Roland Barthes - A Câmara Clara

Monday, September 22, 2008

Confissão do artista

"Eu sei que ela é uma cor e um som. Se eu pudesse mostrá-la a você! Dormia ali, nua, abraçando as próprias pernas. Eu amava nela a alegria de animal jovem e ao mesmo tempo amava o pressentimento da decomposição, porque ela havia nascido para desfazer-se e eu sentia pena que fôssemos parecidos nisso. Mostrava a pele do ventre, que parecia raspada por um pente de metal. Essa mulher! Alguma snoites saía luz de seu olhos e ela não sabia."Eduardo Galeano

Ana Cristina César


Noite de Natal.
Estou bonita que é um desperdício.
Não sinto nada
Não sinto nada, mamãe
Esqueci
Menti de dia
Antigamente eu sabia escrever
Hoje beijo os pacientes na entrada e na saída
com desvelo técnico.

Freud e eu brigamos muito.
Ireno no céu desmente: deixou de ... aos 45 anos
Entretanto sou moça
Estreando um bico fino que anda feio,
pisa mais que deve,
Me leva indesejável pra perto das
botas pretas
pudera

"NESTAS CIRCUNSTÂNCIAS O BEIJA-FLOR
VEM SEMPRE AOS MILHARES"



A Felicidade

Robert Misrahi


Aristóteles - filósofo grego, discípulo de Platão. Entre os grandes filósofos do mundo. Criou a terminologia da ciência e da filosofia, usadas até os dias atuais.


Obras: Política, Metafísica e Ética. significação existencial da ética


Frase: "A Felicidade consiste em fazer o bem". Ah tá... Aristóteles (384 - 322 a.C.)


O questionamento mais original, mais concreto e mais vasto sobre os sentidos (orientação e significaçã) e conteúdos que queremos dar à nossa vida, à nossa existência é precisamente o que se chama de ética.


por que se apresenta à reflexão essa interrogação ética sobre a ação e a existência?


primeiro é a própria liberdade de ação que justifica a interrogação sobre os fins da ação ("futuro melhor")


"O que é concretamente almejado, através da idéia de uma vida melhor, é a experiência contínua de uma vida substancial" (Felicidade!)


"Essa experiência qualitativa implica ao mesmo tempo à densidade de um prazer espiritual e existencial e à transparência de uma consciência capaz de reflexão que se caracterize pela adesão à sua própria vida e às suas próprias escolhas."


A "experiência qualitativa" que é a da plenitude e do sentido, perderia toda sua 'substancialidade', toda sua espessura existencial e dinâmica se ela fosse apenas passageira. A Felicidade para merecer realmente esse nome, implica a duração e a permanência da experiência que a constituiu.


Essa experiência de ser não é a experiência mística de um ser transcendente que pudéssemos aprender na noite da inteligência e no êxtase da alma; ela não é a experiência do ser, mas sim a experiência de ser.


(good bye Good Autumn)

Tuesday, September 16, 2008

red: taking care of un umbrella

Monday, September 15, 2008


contagem progressiva...

Tuesday, September 09, 2008



similitudes e saudades

Saturday, August 30, 2008

"Dime, ¿de verdad no volveremos a encontrarnos nunca más? ¿No me responderás algún día? Parece que no. Cierto? Aunque tampoco creo que me respondas el cierto".

http://lobosycabritos.blogspot.com/.

Gratas surpresas...
http://lotengoenlapuntadelalengua.blogspot.com/

Tuesday, August 19, 2008


"Se soubéssemos, não falaríamos. Nem tampouco pensaríamos"
Paul Valery

Monday, August 18, 2008

Monday, August 11, 2008


"A música, os estados de felicidade, a mitologia, os rostos trabalhados pelo tempo, certos crepúsculos e certos lugares querem dizer algo, ou algo disseram que não deveríamos ter perdido, ou estão prestes a dizer algo; essa iminência de uma revelação, que não se produz, é talvez o fato estético"


"A muralha e os livros", em Outras Inquisições, po.cit., p.11


"O prazer da leitura reside, então, nesse núcleo indecifrável da experiência estética que exige uma atitude de entrega do leitor à realidade outra que todo livro encerra ou, em outras palavras, certa ingenuidade que o leve a se aventurar por caminhos deleitáveis."



Por que ler Borges
, Ana Cecília Olmos., p.85

Pausa. Chovia pequenos riscos lá fora. Pode olhar pela janela enquanto investigava o mundo e suas redes. Suas simulações. Pausa. Pensou uma segunda vez. Seus colegas que criavam frases e cenas num discorrer franco do pensamento deles. Pausa. Criou aquela pequena coragem de levantar-se da cadeira, perturbando toda imobilidade, para esticar o corpo lá fora.

- Vou dizer olá à chuva!

Não riram. Apenas olharam em silêncio. Arranhando rodinhas no chão liso.

Desceu a escada, espaçosa, no ambiente de pé-direito alto, com posters originais de filmes incríveis, e atravessou a porta. Bastou-lhe o intervalo do pequeno toldo para espichar o corpo, equilibrar-se na ponta dos dedos e tocar a lona. Uma gotinha despretensiosa escorreu por sua mão alongada. Foi o gesto de ligar-se - mesmo que tão suavemente - à cobertura, que fez dela aquela gotinha, depois de percorrer distâncias, chegar até ali.

Logo essa tontura passa. Voltou aos amigos que criavam incansavelmente novos espaços. Voltou-se ao seu espaço real.

Sunday, August 10, 2008


"Da vida literária", outubro de 1937 - Por que ler Borges?

"Uma das coquetteries literárias de nosso tempo é a metódica e ansiosa elaboração de obras de aparência caótica. Simular a desordem, construir deliberadamente um caos, usar a inteligência para obter os efeitos do acaso, essa foi, em seu tempo, a obra de Mallarmé e de James Joyce. A quinta década dos cantos de Pound, que acaba de sair em Londres, continua essa estranha tradição."

Saturday, August 09, 2008

O Amor medido ofereceu-me tudo o que precisava. Dias marcados. Tempo para os filhos e para o trabalho. Tudo de bom e que necessito. A desmedida paixão não.

O outro lado disso é muito insólito. Alguém que chega dizendo, "não! isso não é tudo. Posso dar muito mais. Te dar o mundo...". A palavra não é "pretensão"?. Sim, fragmentada ou inteira.

Tudo tem vários lados. E a intuição às vezes grita no ouvido. É claro que toda hipérbole só merece a comprensão do que de fato é. Se há exagero, na certa há também interesse. Então, o jeito é oferecer uma medida mais exata. Farei treinamento intensivo.

Do que se trata esse reino excessivo das palavras??? Ré médios, mi menores??? Sempre afirmando ter como propósito "um mundo melhor", garantindo paz e harmonia. Não é isso que dá. É outra "impressão" a que oferece todo santo dia. Invariavelmente sempre já virou nunca, ou jamais - em tempo algum - E não se faz de boa lógica. Aliás, tá difícil se cumprir uma vez que seja por lógica. Razão é palavrão que não cabe.

Às vezes, compreendo, que a vontade está tão "adiada" que é preciso executá-la. Outra palavra que corta que nem faca. Tem mesmo dois sentidos. Dois lados. Oh difícil trajetória das almas perdidas, incompletas e intranqüilas. Não há nenhuma poesia nesse tom de tragédia. É horrível. Terrível. Escuro sem luz alguma, sombrio. Um confinamento voluntário motivado pelo preconceito, pela discriminação, muita impáfia e hipocrisia. Disfasia do medo de crescer. Afasia da força de compreender.


Então, tá. Tudo bem, com mais um pouquinho de paciência, vou dizer que mesmo quando nossa natureza é de quem "aceita o melhor", tem uma hora que chega. A alma chega junto, sabe? Mesmo que muito muito insatisfeita com o caminho que nossa persona escolheu. E aí, ahhh, aí basta. É hora de abrir os olhos e fechar o peito. Trancafiar o coração, seguir em frente e aceitar o bom, de territórios mais neutros, perceber que sopram outros ventos.

E não tem nada melhor que a inteligência comum. Nada de pirotecnias ou genialidades. Não. Começa-se abrindo mão das trocas, dos carinhos, do projeto feito, contado, refeito... da presença, do convívio, das qualidades e dos defeitos.

E isso não devia motivar maledicência. O que já é um segundo erro. Sejamos tolos, mas não tanto. Qual afinal o propósito? Se não é preciso que a vida preserve encantos? Que medo é esse de morrer! Será que não há uma missão, uma ordem para se trabalhar por ela? Coisas deixadas por fazer? Alguma pesquisa, sonho bom que ocupe a mente? um movimento que seja mantendo o corpo ativo, caminhando para frente? Um passo, outro passo, outro passo. Um dia, uma noite, outro dia...

Não há mais espaço para sentenças, injustiças, mentiras, vileza e vilipendiência. Nem concupiscência. E haja tolice em medir forças ou domínio junto às outras pessoas. O seu "poder".

De fato há um sem fim de caminhos para escolher. E há, sim, em meio a tantos, sempre um caminho mas sereno. Eu decido deixar ou não aparecer na minha vida. Feliz e tranqüila. Legitimamente caminho. Isso é bom. Bonito quando o Universo "conversa" com a gente! E aí já parece alguém bom de silêncios e de uma busca muito clara. Naturalmente, cheia de luz. Iluminada. Faz mais sentido. Melhor assim.

O tom é mais para cima. Por maior senso de responsabilidade, não dá para se "alimentar" da dor. Isso é para desumanos: quem gosta mesmo de fazer terror, horror. Aí tem é dó. E isso não é bom. Também não intento mais. É demais. Quero menos. Bem menos.

Preciso confessar que meu gênero é comédia, ficção, em alguma hipótese romance. Mesmo que ainda esteja apenas habituada a documentários. Drama só no cinema. Um filme simples e bom, pra si mesmo e para o outro, certamente ganha mais. Nisso não importa ou interessa o que estão vendo alguns críticos.

E muita atenção se estiver vendo justo o que queremos. As coisas são como são e não o que queremos torná-las. Contrariando as circunstâncias, graças à uma força muito divina, tudo vai se arrumando de maneira muito mais humana e positiva. Importam resultados, fotos, fatos, ambientes...E os destinos.

É muito pequeno pensar em exelentes estímulos. Sim? e daí... e o resto? Dá licença de dizer que o mundo tá aí...Dura segundos o lado fulgaz da vida. Passa rápido. Tudo isso dissolve, vira brisa.. Desejos nunca constróem, exceto redemoinhos, furacões, tragédias e misérias.

Sonhos e planos bem elaborados sim. É justo o direito de dedicarmo-nos ao que decidimos e levar a vida a sério, ainda que com o melhor dos humores. Um humor bom, que ofereça uma ação propositiva, que motiva o outro a ir também buscar de volta a sua própria vida depois de se emprestar tanto a uma amizade.

E isso é apenas o jeito, porque já se deu, agora é tarde. Essa é a melhor alternativa. "Quem empresta nem pra si mesmo presta" dizem os provérbios adiantados. Bom, lá vai de novo:

Agora é tarde. Não adianta chorar. Se não decidiu com muita clareza na hora. Mais tarde, vai se cobrar. É preciso pensar antes. Se não, algo vai dar errado. E melhor do que tanta confusão é a satisfação de alguma segurança, todo aprendizado e muita muita sabedoria.

Certeza de recomeçar e que logo todo tumulto passa. E que vai terminar bem. A noite e o dia. Fora isso, tudo mais é pura tolice. Insandice, babaquice, mesmice, leviandade e burrice. Para quê e por quê insistir na dor? Se já tendemos ao caos, dar sorte ao azar é suicídio. E tender ao melodrama, uma chatice. Um suplicio!

Não escolho "isto". Prefiro aquilo. O que está bem longe daqui. E não apenas pelo mérito criativo. É para manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. Esse é o ponto "g". Da graça, da gentileza, dos gestos, do gosto pela vida. Fico feliz fabulando.

Saturday, August 02, 2008


De Luís Fernando Veríssimo: Clarice!


Em 1953 meu pai foi dirigir o Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, ligada à Organização dos Estados Americanos.


Fomos morar em Wahington, uma aborrecida cidade burocrática, no começo da era Eisenhower. O diplomata Mauri Gurgel Valente e sua mulher Clarice estavam lá com os dois filho, Pedro e Paulo, e foram os primeiros brasileiros a dar as boas-vindas aos recém-chegados. Eles seriam os melhores amigos dos meus pais nos quatro anos em que ficamos em Washington. Clarice e minha mãe, que não poderiam ter personalidades mais diferentes, tornaram-se amigas de infância. E sem que houvesse qualquer cerimônia, meus pais foram designados padrinhos extra-oficiais do filho mais moço dos Valente, o Paulo.


(Uma vez fui levar a Clarice e os dois meninos em casa de carro na chegada o Paulinho perguntou: "Não quer entrar para tomar um cafezinho?" Grande surpresa. Ele mal começara a falar, era provavelmente a primeira frase inteira que dizia.) Várias fotografias da Clarice, inclusive algumas que têm saído na imprensa, foram tiradas pelo meu pai durante o convívio dos dois casais naqueles anos americanos. Também houve uma designação do meu pai como fotógrafo exclusivo extra-oficial da Clarice.


Eu tinha 16 anos quando chegamos a Washington e a minha primeira impressão da Clarice foi a de todo mundo: fascinação. Com a sua beleza eslava, os olhos meio asiáticos, o erre carregado que dava um mistério especial à sua fala, e ao mesmo tempo com seu humor, e seu jeito de garotona ainda desacostumada com o tamanho do próprio corpo. O fato de que aquela Clarice era a Clarice Lispector não me dizia muito. Eu sabia que era uma escritora meio complicada, nunca tinha lido nada dela. Só quando voltamos ao Brasil li O Lustre, Perto do Coração Selvagem e, depois, os contos, extraordinários. "A Legião Estrangeira", "Amor", "Uma Galinha", "Macacos", "Laços de Família", "Festa de Aniversário" e tantos outros, e o melhor conto que conheço em língua portuguesa, "A Menor Mulher do Mundo". Em 1962 saí de Porto Alegre e fui morar com a minha tia, no Rio. A Clarice, que então já estava separada do Mauri, era sua vizinha no Leme e pude conviver, e me fascinar, um pouco mais com ela.


Agora, folheando alguns livros da Clarice antes de escrever isto, dei com uma dedicatória dela em A Maçã no Escuro para "meus queridos Erico e Mafalda".


Uma dedicatória brincalhona, datada de julho de 1961, em que ela destaque que o preço do livro nas livrarias é de 980 cruzeiros e que portanto está lhes dando um presente valiosíssimo, e recomenda que ele seja protegido com uma capa colante, do tipo que gruda na mão e "prende" o leitor. No fim há um adendo que eu ainda não tinha visto: "Luís Fernando, considere este livro seu também, por favor. Divida 980 por três e você terá preciosa parte. Sua Clarice." A lembrança da Clarice vale bem mais do que 980 cruzeiros, mesmo com todas as correções monetárias acumuladas em 47 anos.

"Não há felicidade sem virtude"

Denis Diderot

"Gallione, irmão meu, todos os homens desejam a felicidade mas nenhum consegue perceber o que faz a vida tornar-se feliz. É meta tão difícil de conseguir que, em se tornando o caminho errado, quanto maior a pressa, maior a distância do objetivo. Quando o caminho conduz à direção diversa, a velocidade amplia a distância."

E cada gesto apressado nós afasta do rumo certo metros...Como é delicado e como exige tanta atenção viver bem! Como, na vida, tudo é tão precioso e merece que nossa ação seja cuidadosa e medida, pensada. É preciso nunca esquecer de inverter a lógica do espelho, que reflete sem pensar. A vida de quem é real é tão mais simples, que rezo todos os dias porque tive a chance de conhecer essa simplicidade. De conviver com ela e estar junto. Posso não parecer mesmo alguém feliz. E, claro, sofri e sofro com muitas desiluções nessa vida. Tenho, ainda, com todo esforço e dedicação, muita tristeza em mim... Mas, sim, estou sempre acordando um estado dessa simples e terna felicidade de uma vida mesmo real. Sendo uma pessoal real.
 
Sim, tenho sonhos e planos. E quem arrisca olhar de fora não pode ter tão logo a pretensão de conhecê-los. Muito menos de "refazê-los" a seu modo. Não, não sou muito firme. Oscilo muito. E sim, perco o equilíbrio, embora haja em mim tanta força e motivos para ser dedicada e feliz. Tenho um mundo inteiro de tanto amor de verdade. De um jeito menina e de um jeito menino. Essa é a mais completa das felicidades numa vida para uma mulher de verdade. O amor verdadeiro de homem já é pedir demais. Ainda assim, na medida do que foi e é possível, percebo que não pode haver em mim qualquer queixa, reclame ou sentimento não lúcido, o que seria muito amargo.
 
Querer provar do sal tem sua dignidade. Se ocupar das coisas que não são assim "tão boas" ou que à primeira vista não parecem "mesmo divinas" é de algum mérito, se me permite opiniar. Bom, é isso o que eu penso. E ao meu modo, venho existindo. Resistindo. E vivendo. Bem. Ao meu modo. Real.

Thursday, July 31, 2008


Dança da Solidão

[Intro:] AmA7 Dm


Solidão é lava que cobre tudo


E7 Am B7 E7

Amargura em minha boca, sorri seus dentes de chumbo

Am A7 Dm

Solidão palavra cavada no coração

Am E7 Am

Resignado e mudo no compasso da desilusão

Dm E7 A7

Desilusão, desilusão

Dm

Danço eu dança você

E7 Am

Na dança da solidão

E7 Am

Caméllia ficou viúva, Joana se apaixonou

A7 Dm

Maria tentou a morte, por causa do seu amor

Bm7(b5) E7 Am

Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado

E7 Am

Quando eu penso no futuro,

não esqueço o meu passado


Quando vem a madrugada, meu

pensamento vagueia


Corro os dedos na viola,

contemplando a lua cheia


Apesar de tudo existe,

uma fonte de água pura


Quem beber daquela água,

não terá mais amargura


- " Santo meu Deus! Batman, como andas escrevendo ultimamente..."


- "E o que é pior, Robin: dizendo absolutamente nada".




Tenho, às vezes, o impulso leve de soltar esses pensamentos apenas em caderninhos. O que seria muito muito muito mais sensato. E então, algum outro instante fluido me faz abrir, paginar folhinhas e vir até aqui.

Se quisesse descrever, como quem descreve um quadro, quais são as cores que usei e escolhi, não poderia resumir em preto e branco. Não. É verdade, sim. Nem sempre sou exata. E percebo que não me comunico. Até me interesso, cada vez mais pela precisão da matemática. No entanto, algum vento tolo sopra "loas" em meu ouvido, e meus dedos respondem. Por quais respostas procuro? Qual é mesmo a minha pergunta? Sofro - momentaneamente, eu espero - do mal daqueles que acham tudo: "uma falta de absurdo". Absurdos não me faltam, não... é. Veja bem... não sou mesmo tão modesta. Mas sim, tudo para mim é de uma enorme "falta de absurdo".

Eu que vejo de tantos lugares, cada pedacinho de justo impulso se habilitar. Cada trejeito de expressão de alma reprimida se manifestar. Sofro sem piedade de mim mesma, de uma tremenda falta de absurdo. Estou tão honesta, ultimamente, que ando lívida. Impávida. Não, não mais me "colosso"... Não "colosso" coisa alguma!!!


Faço mal? é tão triste quanto aparece uma escrita tão honesta e sem "raios fúlgidos". Sem "céu da pátria, nesse instante"? Oh, liberdade, quanta falta de absurdo...Fôlego, fôlego vejo assim, em caixas postais, respondendo visceralmente e de imediato. Será tão pouca a idade que tenho que acabo atraindo os mais puros e jovens desejos?


...


A tanto tempo não escrevia essa palavra, que agora me parece mesmo algo para ser muito secretamente escrito. Devia voltar sim aos caderninhos. Difícil me demover da idéia de não estar nunca mais aqui. Oh liberdade, que fluido. Que mundo tão fluido. Deixe-me levar impulsos outros não. Quero sim dizer sim ao sim. Não ao não. Quero mesmo permitir sintonizar da energia e abrigar cada vez mais palavras e palavras e palavras.






Afinal, por onde passas de trem, há campos floridos rompendo rápidos pela janela? Onde abrigas o teclado onde escreves tantas frases tão felizes e que parecem estar sorrindo a cada novo sinal? É em teu colo que abrigas o instrumento que te liga ao prazer de viajar? Anda assim, tão sozinho?






Tenho lista de perguntas. Tenho força para escrever ainda e ir soltando cada pétala enquanto vejo escorrer feito lágrima minha seiva. Deveria voltar aos caderninhos, mas não vou. Não quero precisar quanto tempo e até onde estar aqui me levou. Vou dizer apenas que a esperança que me alimenta é verde sim. E parece recém-nascida a cada teclar novo. Verde novo. Foi mesmo uma das cores da felicidade pintada aqui.

Monday, July 28, 2008

Per Carla Bruni: C'est un blues...


L'amour, hum hum, pas pour moi,
Tous ces "toujours",
C'est pas net, ça joue des tours,
Ça s'approche sans se montrer,
Comme un traître de velours,
Ça me blesse, ou me lasse, selon les jours
L'amour, hum hum, ça ne vaut rien,
Ça m'inquiète de tout,
Et ça se déguise en doux,
Quand ça gronde, quand ça me mord,
Alors oui, c'est pire que tout,
Car j'en veux, hum hum, plus encore,
Pourquoi faire ce tas de plaisirs, de frissons, de caresses, de pauvres promesses ?
A quoi bon se laisser reprendre
Le coeur en chamade,
Ne rien y comprendre,
C'est une embuscade,
L'amour, hum hum, ça ne va pas,
C'est pas du Saint Laurent,
Ça ne tombe pas parfaitement,
Si je ne trouve pas mon style ce n'est pas faute d'essayer,
Et l'amour, hum hum, je laisse tomber!
A quoi bon ce tas de plaisirs, de frissons, de caresses, de pauvres promesses?
Pourquoi faire se laisser reprendre,
Le coeur en chamade,
Ne rien y comprendre,
C'est une embuscade,
L'amour, hum hum, j'en veux pasJ'préfère de temps en tempsJe préfère le goût du vent
Le goût étrange et doux de la peau de mes amants,

Mais l'amour, hum hum, pas vraiment!



Friday, July 25, 2008

É a pergunta quem dá início a tudo...

- Tia, me dá um trocado?
- Tá, mesmo não tendo "idade" para ser sua tia, eu troco com você! Tá aqui uma barra de "leite condensado caramelizado, com flocos crocante, e o delicioso chocolate que não preciso dizer o nome". É seu. Se puder me responder também a uma pergunta: Você sabe guardar um segredo?

Os olhos de um branco destacado na pele tão negra e de uma expressão ainda triste vão se abrindo mais... A cabeça balança afirmativa e a boca, enfim, morde o doce. A próxima pergunta, vinda da pequena, já é outra:

- Que horas são?

Strange Fruit
Robert Wyatt

The Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves, and blood at the roots
Black bodies swinging in the Southern breeze
Strange fruit hanging from the poplar trees

Pastoral scene of the 'Gallant South'
The bulging eyes and the twisted mouth
Scent of magnolia, sweet and fresh
Then the sudden smell of burning flesh

Here is a fruit for the crows to pluck
For the rain to gather, for the wind to suck
For the sun to rot, for the tree to drop
Here is a strange and bitter crop...

Wednesday, July 23, 2008

por André Comte-Sponville

Que fazer? Como escapar desse ciclo da frustração e do tédio, da esperança e da decepção? Há várias estratégias possíveis.
Em primeiro lugar, o esquecimento, a diversão, como diz Pascal. Pensemos rápido em outra coisa! Façamos como todo o mundo: finjamos ser felizes, finjamos não nos entediar, finjamos não morrer...
Não vou me deter nisso.
É uma estratégia não-filosófica, pois em filosofia, trata-se justamente de não fingir.
Segunda estratégia possível: o que chamarei de fuga para a frente, de esperanças em esperanças. Mais ou menos como esses jogadores da loto, que todas as semanas se consolam de terem perdido com a esperança de que ganharão na semana seguinte.... Se isso os ajuda a viver, não sou eu quem vai criticá-los. Mas, aqui também, vocês hão de convir que isso não é filosofia, e muito menos sabedoria.
A terceira estratégia prolonga a precedente, mas mudando de nível. Já não é uma fuga para a frente, de esperanças em esperanças, mas antes um salto, como diria Camus, numa esperança absoluta, religiosa, que não é suscetível, acredita-se, de ser decepcionada (já que, se não há vida depois da morte, não haverá mais ninguém para percebê-lo). No fundo, é a estratégia de Pascal.
O mesmo Pascal que explica tão bem que, "dispondo-nos sempre a ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos", é o que escreve em outro fragmento dos Pensamentos:
"Só há bem, nesta vida na esperança de outra vida."
É o salto religioso: espera a felicidade para depois da morte. Ou em termos teológicos: passar da esperança (como paixão) à esperança (como virtude teologal: porque ela tem Deus mesmo por objeto). Essa estratégia tem suas cartas de nobreza filosófica...
Mas é preciso, além do mais, ter fé, e vocês sabem que não a tenho.
Ou estar disposto a apostar a vida, como diria Pascal, e a isso eu me recuso: o pensamento deve se submeter ao mais verdadeiro, ou ao mais verossímil, e não ao mais vantajoso.
Portanto tive de tentar inventar, ou reinventar, outra estratégia. Não mais o esquecimento ou a diversão, não mais a fuga para a frente de esperanças em esperanças, não mais o salto numa esperança absoluta, mas ao contrário, uma tentativa de nos libertar desse ciclo da esperança e da decepção, da angústia e do tédio, uma tentativa - já que toda esperança é sempre decepcionada - de nos libertar da própria esperança.
É o que me leva a meu segundo ponto...
(A Felicidade desesperadamente)
Madeleine Peyroux
Look down, look down
That lonesome road
Before you travel on
Look up, look up
And seek your maker
Before Gabriel blows his horn
I'm weary of toting, such a heavy load
Trudging down, that lonesome road
Look down, look down
That lonesome road
Before you travel on
I'm weary of toting, such a heavy load
Trudging down, that lonesome road
Look down, look down
That lonesome road

Before you travel on
Before you travel on

"Penso que um escritor deve ser ético, no sentido de que se narra um sonho, se narra uma fábula, se narra um conto fantástico ou um conto de ficção científica, deve acreditar nesse sonho. Quero dizer, ele sabe que isso que narra historicamente não é real, mas tem de ser algo que sua imaginação aceite; e o leitor também percebe se sua imaginação aceita isso ou não, já que um leitor descobre imediatamente as insinceridades em uma obra: penso que quando alguém lê algo, percebe se o autor o imaginou, ou se simplesmente está brincando com palavras; penso que isso se sente imediatamente se você é um bom leitor. Tenho certeza de que não sou um bom escritor, mas acredito ser um bom leitor, o que é mais importante, já que, bem, dedicamos pouca parte de nosso tempo à escritura e muito à leitura".


Reencuentro. Diálogos inéditos, Jorge Luís Borges e Osvaldo Ferrari, 1999.

Thursday, July 17, 2008


Sim o amor é líqüido. E ele transporta...
Como um rio por onde se pode chegar desse a outro lugar. É fluido. É possível em qualquer forma, em qualquer canto do mundo, em qualquer difícil estreita passagem.


"O amor é como a água, pois consegue se amoldar a tudo, ultrapassar barreiras, encontrar brechas por onde escapa".

Ingrid Betancourt (de Carol: Flores!)


A Cartomante
Machado de Assis


Hamlet obesrva a Horácio que há mais cosas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.


- Ria, ria. Os homens são assim: não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa...". Confessei que sim, e então ela continuou a botas as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...


- Errou! interrompeu Camilo, rindo.


- Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa... Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...


Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casa. Vilela podia sabê-lo e depois...


- Qual saber! Tive muita cautela, ao entrar na casa.


- Onde é a casa?


- Aqui perto, na Rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.


Camilo riu outra vez:


- Tu crês deveras nessas coisas?, perguntou-lhe.





Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muita coisa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.


Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirma, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.





Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo não só o estava mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu, pela Rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.





Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.





- É o senhor?, exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.





Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.





Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.





Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; ela mal, ele, para lhe se agradável, pouco menos mal. Até aí as coisas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as coisas que o cercam.

Wednesday, July 16, 2008


"Enquanto passava sobre o longo caminho elevado aberto com a estrada de ferro através da campina, deparava-me com muitos ventos roncando e crestando de frio, pois em nenhum outro lugar gozam de mais liberdade; e quando a geada me esbofeteava numa face, apesar de não se cristão, voltava-lhe a outra. A situação não era melhor na estrada para carros que partiam da colina, de Brister. Pois, feito um índio bem disposto, eu me dirigia à cidade quando toda a neve dos vastos campos abertos se acumulara de um lado e outro nos taludes da estrada de Walden,"

(...)


Henry D. Thoreau

A vida nos bosques

Monday, July 14, 2008


A escritora Silvina Ocampo nasceu em Buenos Aires nasceu em 1906 e morreu em 1993. Ainda nos anos 40, conheceu Jorge Luís Borges e por intermédio dele, o homem que viria a ser seu marido. O também escritor Adolfo Bioy Casares. "Rezam lendas" que Silvina foi responsável por escolher músicas que inspiravam o momento de criação de ambos, na produção de obras como "histórias policiais". Dali sairiam "instantes" que contribuíram para a concepção da realidade literária latino-americana. Ainda atual. Silvina foi aluna do pintor Giorgio de Chirico e conviveu com outras figuras do meio literário. É dela o texto, livremente, traduzido a seguir:


"Quando morreres, os demônios e os anjos, que são igualmente ávidos, sabendo que estás adormecido, um pouco neste mundo e um pouco em qualquer outro, chegarão disfarçados em teu leito e, acariciando tua cabeça, te darão a chance de escolher entre as coisas que preferiste ao longo de tua vida.


Abrindo todo o leque de opções vão mostrar-te tua sorte. A princípio, eles ensinarão as coisas elementares. Se te ensinarem o sol, a lua ou as estrelas, tu verás em uma esfera de cristal pintada e vais crer que essa esfera de cristal é o mundo. Se te mostrarem o mar ou as montanhas, tu verás uma pedra e vais crer que essa pedra é o mar e as montanhas; se te mostrarem um cavalo, mesmo que seja uma miniatura, tu acreditarás que aquele é um verdadeiro cavalo. Os anjos e os demônios distrairão teu ânimo com retratos de flores, frutas abrilhantadas e bombons fazendo-te crer que és, todavia, uma criança, te sentarão num acento de mãos, chamada também de acento do rei ou acento de ouro, e desse modo te levarão em mãos entrelaçadas, por aqueles corredores ao centro da tua vida, onde moram tuas preferências.


Tens cuidado: se elegeres mais coisas do inferno que do céu, iras talvez ao céu, do contrário, se elegeres mais coisas do céu que do inferno, corres o risco de ir ao inferno, pois teu amor pelas coisas celestiais denotará mera concupiscência. As leis do céu e do inferno são "voláteis". Depende de um ínfimo detalhe que vás de um lugar a outro. Conheço pessoas que por uma chave girada numa gaiola de vime foram ao inferno e outras que por papel de diário ou um copo de leite, ao céu".

Saturday, July 12, 2008


"Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é a angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa.
Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia. Mas eu escapei disso, Lóri, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, Lóri, e esperarei até você também estar mais pronta."

Wednesday, July 09, 2008

vejo folhinhas que crescem

broto estou eu mesma

depois que afundei.

E foi mergulho tão doce,

que deu-se em câmera lenta

em água limpa prateada

nem era noite de lua

e

eu

saí

vendo

a pele da cor
de jóia tão rara...

Saturday, July 05, 2008

A cada minuto
um pequeno suicídio

Outro dia, recebi convite
Figura respeitável e inteligente
Me chamou

Sim. Eu quero fazer parte
Assinar meu nome em espaço crítico,
Excelente. Ousado. Criativo

sim. Sou parte morta
Escrita torta? quem se importa...
Viro e mexo pelo avesso

Eu enxergo
São dez horas e
Ainda há crianças nas ruas
No escuro.

Seus olhos vazios,
não dizem mais nada
Doce infância?
Vida amarga!

Vejo-as por baixo de papelões
No meio da rua e passo não à pé
Mas por rodas cedidas e apressadas

pequenos suicidas
todos juntos sob a carroça
Sua única casa

Nenhuma entrada ou saída
Não é labirinto
É afogar-se na bacia

Lamento, só. E tanta
gente medíocre a dizer nada,
nada!

Vulgar é pensar só em si mesmo
Oh repertório ruim. Haja defeito!

Modinha que não tem jeito,
nenhum ou qualquer apreço
nem por si mesmos?

cor nenhuma
forma tão triste
pobre de espírito
de graça

que perda de tempo!

oh mundinho tão injusto e imundo

Foi. Perdi a veia, o jeito, a paciência. Tudo.
Ando sem esperança
Fé? nem sei mais no quê
O que vale a pena,
estou ainda para ter...
se a distância deixar

continuo balançando
folhinhas
tolinhas...

Do que eu sei, hoje
sou natureza morta
suicido em minha porta
Tranco e perco a chave
E toda lógica

Eu mesma cancelo o elo
sofro e não vejo "positivo"
nem quero mais perguntar:
por que? vai dar? pra quê?

quisera saber
menos que eu sei
ver bem menos

flagraram
meu par de olhos
fininhos
espremidos

É.

Estava acordando
um estado de felicidade
mas dá para chorar

no inverno?
afinal, já chove
lágrimas?
no molhado
ninguém vai perceber...

um raiozinho de Sol
me faria ver
outra vez o arco-íris?
as possibilidades da arte



homens da Pré-História fazem arte rupestre

desenhos representando lembranças, imagens feitas em cavernas



homens da idade média

fizeram a arte barroca

horas sadias outras moucas



homens iluminados

foram atenuando contornos

de um surrealismo e de cores



Fizeram no Renascimento

Uma arte em conceitos:

pintura, literatura, música,

Escultura e Arquitetura


Na modernidade

Disseram: retos. Estreitos de ...


Já na pós-modernidade

Escorremos por entre seus dedos


Wednesday, June 25, 2008


há espaços que só bons amantes conquistam
silêncio.. toques quase mudos.

Veludo.

Pausas para os encontros.
E então, os corpos guardam da ausência, a presença do outro

Flor da pele.

O ritmo intenso "da vida"
O mudo propósito do trabalho

Há os que ainda cumprem missões...

Acreditam no que fazem
Realizam desejos pelo único
motivo de tê-los consigo
por mais tempo

Crêem naquilo que planejam

Eles têm fé no que fazem
E a certeza de chegar

Do destino, do lugar

Depois, repousam mansinho
onde uma brisa leve sopra no ouvido...
- Foi um suspiro!
(...)

Monday, June 23, 2008


No entanto, é preciso que a equação da conquista da felicidade se resolva, mesmo na sua impossibilidade e contradição. Pois se quando o é, passa no momento seguinte a desfazer - se em tédio (ou a projetar - se em outro desejo). E, portanto, não sendo mais satisfeita. E sim conquistada.

A Felicidade em Clarice Lispector (2004)

Sunday, June 15, 2008

Pe. Antônio Vieira

"Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: “O amor fino não busca causa nem fruto”. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: o amor fino não há de ter por quê nem para quê. Se amo por que me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, como ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino".


da delicada e riquíssima convivência com o Prof. Lourival Holanda.
16 horas - em frente ao Maksoude Plaza. Até onde posso ir? Pra que tanta bagagem? Um café!!! sento observando o prédio. Quanta pompa. Baita "ostentação" diante de olhos tão carentes como os meus. Aqui, como pão a metro. Perfeito para horas de fome. E quilômetros de incerteza. Abuso na medida. É sempre assim. Difícil encontrar medida certa. Equilíbrio. (Já disse que na ponta de uma espada não dá, não tente, vá por mim...)



Vou pedindo desculpas. Morre-se assim a cada dia. Me sinto a pior das criaturas. Ou uma das mais "privilegiadas".

16 horas 20 minutos - chegou o ônibus. Preciso correr. Ninguém ajuda com os pacotes. Eu poste. Vou desequilibrar e cair. Preciso insistir com o bilheteiro: "Um mão?". "Não, obrigado. Não sou parte interessada"... "Tudo bem, tudo bem! Seguro para você essa caixinha de presente". Ele está certo. Três sacolas numa mão, uma mala enorme na outra. Quem mandou ser consumista & feminista?

16 horas 45 minutos - enfim, confortavelmente na poltrona. Tudo aqui é macio e "arcondicionado!". Me vem a cara do taxista, que pensou que eu era turista. Descolado, eu nunca pagaria pelo triplo, sem direito a tudo isso. Janelas maiores e o silêncio... Segurança na estrada.



A viagem vai durar uma hora. Se não houver engarrafamento. Nunca torci tanto por um. Daqueles de parar a via Dutra: 5 km. E lá estão os helicopteros das emissoras de tevê. Só sobrevoando. Mas não foi o que aconteceu. Durou menos de uma hora. Ensaiei uns cochilos. Como se olhos carecessem repouso diante de tanta imagem. Foram oito dias dormindo com buzinadas no juízo. Nada podia ser mais recompensador e tranqüilizante que a borrachinha da janela em atrito. Bom, fim da linha. De novo às malas...

17 horas e 20 minutos - o bilheteiro já me dirige a palavra. Pergunta o nome da companhia aérea. De repente está até curioso. Para que tanta informação? Sua desculpa é que cada porta ou terminal corresponde a uma porção delas. Que bom que me avisou antes.... Tudo bem, São Paulo é mesmo uma cidade grande. E o aeroporto tinha que ser enorme. (Só vamos combinar que "Passaredo" não soa bem em lugar algum).

17 horas e 40 minutos - descobri que cheking só se faz horas antes do vôo. E como são poucos. Vou ter que dormir com um olho aberto?

18 horas - Preciso ir ao banheiro e isso é para hoje! Cometo o pecado de entrar no que é reservado para pessoas com necessidades especiais. Por favor, dá um tempo. Essa sou eu. Eu mesma: "euzinha". Hoje eu estou assim, assim. É O ÚNICO LUGAR QUE DÁ PRA ENTRAR COM ESSA MALA!!! ah, que alívio...

18 horas e 20 minutos - alguém com tantos pacotes quanto eu. Confortavelmente sentado. Deve ser rei. Ou deputado. Consegue até ler esse "gênio"! Tá pesado. Talvez me sente ao lado dele... Dando início aos movimentos necessários, que antecedem uma boa leitura de aeroporto. Confiro as malas e pacotes. Estão firmes no carrinho. O mais próximo possível de mim. Tiro o livro de uma das sacolas, prendo a bolsa na cadeira. Mesmo sem um centavo. Ainda assim é uma alegria reencontrá-la. Fiquei até carinhosa, de repente, com ela. Resolvi abrí-la, olhar por dentro. Bater um papo. Ah, minha bolsa querida... Lá dentro vejo a pasta de dentes e a escova num estojinho. Tudo tão delicado. Graças a essa dupla amiga me livrei do gosto de presunto na boca. Pois é, creme dental é mesmo a solução. Vou olhando os outros elementos na sacolinha transparente de objetos de uso tão pessoal. Só carteira vazia me dá náusea.

18 horas e 39 minutos - Descubro esse bloquinho de anotações. Posso escrever por mais 24 horas. Visto uma blusa cor de prata. A caneta é de alumínio.

19 horas - o fluxo de pessoas é menor. Grupos de negros americanos. Mãe irlandesa com filhinho de uns 3 anos. Homens com a mão no bolso, pensando. Começa a missa das sete. Será que o pároco se incomoda que eu entre? "Não é lugar pra malas". Nunca imaginei que o reencontro com o divino seria num aeroporto.

19 horas e 05 minutos - por que essa voz no alto falante não para?

19 horas e 49 minutos - que bebê bonito. A família passa por mim com dois carrinhos. Na volta só vejo o bebê nos braços. Livraram-se das malas? Quem? Como? Quando? Onde? Nem preciso perguntar por que. Vou pelo caminho trilhado pela simpática grande família. Entrou com bagagens, saiu feliz sem elas. Eu nunca imaginaria. Eum estante com cara de companhia de ônibus. Não parecia serviço de guarda-volumes. Mas é. Que bom que inventaram o "malex".

20 horas - aqueles ali são de "países nórdicos".

20 horas e 08 minutos - portal aberto. Caixa eletrônico. Nada!. Nient! Nothing! Fora do ar. Não remédio que dê jeito numa dor de cabeça dessas. Quando vão inventar uma lei que garanta trabalho remunerado e livre do sistema bancário? É duro.

20 horas e 18 minutos - como tem gente de fora circulando por aqui.

20 horas e 33 minutos - um casal comprando souvenir.

20 horas e 45 minutos - fome começando a apertar. Dá-lhe pão a metro.

20 horas e 59 minutos - no final do corredor tem um restaurante chiquérrimo.

21 horas - melhor conhecer as instalações.

21 horas e 30 minutos - e duas revistas depois. Já sou figurinha conhecida por aqui.

21 horas e 45 minutos - na sala vizinha ao restaurante dá para dormir.

22 horas e 01 minuto - essa risadinha foi comigo...

22 horas e 16 minutos - seria muito pedir para fazerem silêncio.



22 horas e 56 minutos - meu Deus, eu só quero conseguir dormir.

-

05 horas e 17 minutos - acordei, acordei! significa que consegui: dacordafelicidade. Eu preferi estar de acordo! Que emoção. E lá se vão as horas, os dias, os anos. Agora só faltam mais doze...



6 horas - já tem gente na rede. Que bom inventaram Internet.

6 horas e 30 minutos - pausa para um café. Se o sistema eletrônico permitir.

6 horas e 45 minutos - No ar!!! ahhhh, não inventaram cheiro tão bom. Café, café, café!!! Toledo: tirei lição dessa marca. Tomo Santa Clara.

7 horas - pena que os paulistas não conhecem tapioca. Tudo bem, pão de queijo e croissant. Nunca mais pão a metro.

7 horas e 55 minutos - tem um garoto que também durmiu nessa salinha.

8 horas e 10 minutos - fiz meu primeiro amigo na viagem. Paulista sabe ser correto. E frio. Não sei por que, mas gosto muito disso. Em Brasília, foi só o que ouvi. De São Paulo? No espelho, uma elegância paulista.

8 horas e 23 minutos - ganhei minha primeira caixa postal gratuita: georgia_alves@yahoo.com.br. À Rafael Giuliano Leite. Professor de linguagem de surdos mudos.
9 horas e 9 minutos - mais um portal. Atravessei!


(24 horas no Aeroporto Internacional de Garulhos, Cumbica)

- inaugurado em 20 de janeiro de 1985

- primeiro vôo: Boeing 747 da Varing, Vindo de Nova York. Depois um Air bus A-300 da Vasp, so com autoridades do Aeroporto de Congonhas

- responsável pro 30% do tráfico aérea do país

- mais de 171.000 movimentos de aeronaves

- 14 milhões de metros quadrados, 5 milhões de área urbanizada

- duas pistas paralelas para pousos e decolagem

- uma com 3 km de extensão outra 3,7 km

- outra auxiliar com 2 km

- dois terminais: número 1: 75 mil m2. Terminal número 2: 80 mil metros quadrados.

- atividades operacionais: 25 horas por dia

- 44 companhias

- Em 22 anos de existência calculou-se que:

"222,3 milhões de pessoas embarcaram e desembarcaram pelos terminais de passageiros, através de 2,9 milhões de operações de pousos e decolagens que transportaram cerca de 6,9 milhões de toneladas de cargas."

Thursday, June 12, 2008

time



17 hours
25 minutes

time to think?


so you forgot...

to rew or fast forward
life is black & white


















(so much self sure
and you'll never know
what is happen to
an another universe)












thanks Edgar Souza