A escritora Silvina Ocampo nasceu em Buenos Aires nasceu em 1906 e morreu em 1993. Ainda nos anos 40, conheceu Jorge Luís Borges e por intermédio dele, o homem que viria a ser seu marido. O também escritor Adolfo Bioy Casares. "Rezam lendas" que Silvina foi responsável por escolher músicas que inspiravam o momento de criação de ambos, na produção de obras como "histórias policiais". Dali sairiam "instantes" que contribuíram para a concepção da realidade literária latino-americana. Ainda atual. Silvina foi aluna do pintor Giorgio de Chirico e conviveu com outras figuras do meio literário. É dela o texto, livremente, traduzido a seguir:
"Quando morreres, os demônios e os anjos, que são igualmente ávidos, sabendo que estás adormecido, um pouco neste mundo e um pouco em qualquer outro, chegarão disfarçados em teu leito e, acariciando tua cabeça, te darão a chance de escolher entre as coisas que preferiste ao longo de tua vida.
Abrindo todo o leque de opções vão mostrar-te tua sorte. A princípio, eles ensinarão as coisas elementares. Se te ensinarem o sol, a lua ou as estrelas, tu verás em uma esfera de cristal pintada e vais crer que essa esfera de cristal é o mundo. Se te mostrarem o mar ou as montanhas, tu verás uma pedra e vais crer que essa pedra é o mar e as montanhas; se te mostrarem um cavalo, mesmo que seja uma miniatura, tu acreditarás que aquele é um verdadeiro cavalo. Os anjos e os demônios distrairão teu ânimo com retratos de flores, frutas abrilhantadas e bombons fazendo-te crer que és, todavia, uma criança, te sentarão num acento de mãos, chamada também de acento do rei ou acento de ouro, e desse modo te levarão em mãos entrelaçadas, por aqueles corredores ao centro da tua vida, onde moram tuas preferências.
Tens cuidado: se elegeres mais coisas do inferno que do céu, iras talvez ao céu, do contrário, se elegeres mais coisas do céu que do inferno, corres o risco de ir ao inferno, pois teu amor pelas coisas celestiais denotará mera concupiscência. As leis do céu e do inferno são "voláteis". Depende de um ínfimo detalhe que vás de um lugar a outro. Conheço pessoas que por uma chave girada numa gaiola de vime foram ao inferno e outras que por papel de diário ou um copo de leite, ao céu".
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