Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Wednesday, December 30, 2009


A menor concha do mundo



Não que procurasse por tal, mas à menina moça, naquela praia de água fina, ocorreu numa tarde encontrar uma conchinha minúscula. Se fosse para ser contada em dias, ela duraria paneas um instante. Feliz e raro.


De uma notoriedade que não ansiava, ela era! E fosse na escola ou no curso de francês ela era lembrada pelos colegas por sua solidariedade e até caçulice. Precoce, ela durava. Uma vez, um amigo mais próximo levou dez anos para livrar-se de imagem dela em seus sonhos...


Então, o que mais buscava a menina tão moça ainda? O que sei dizer de maneira simples e reta é que a menina fazia por onde realizar metas e planos. E, naturalmente, tinha seus sonhos!

Talvez, uma de suas características mais próprias fosse o êxito com pouco esforço aparente. Sem empenho árduo visível. Porque como capturava instantes em seu imediato momento ficava com aquilo e não abandonava mais. É o que se pode dizer, alguém preciso. Ela é matemática. Pura lógica. Sim, prática. E faz sempre sentido.
Ali, com ajuda diânica e materna, bem terna, foi ali, naquela tarde que parecia ser só de descanso, que à menina moça aconteceu enxergar em meio ao cascalho na areia, a menor concha do mundo. Com a imediata impressão de coisa rara passou a se ocupar de achar uma palavra que naquela minúscula criatura coubesse.


O que afinal descobriu e foi com o passar dos anos é que são duas ou três palavras que cabem naquele universo. Palavras que só se escreve em maiúscula.

Tuesday, September 08, 2009

Bloco de notas: "Aproximo momento de explosão criadora do universo", junção de duas moléculas: H2O.
Explico: viagem Narciso!

Saturday, September 05, 2009

Alturas: numa tarde de completo encanto consegue de mim tanto. Mesmo quanto sinto, apreendo mais do que deveria. É que absorvo naturalmente. Identifico, afinal, um desejo meu. Não importa se tanto amor me leva algum pranto. Vou indo sem medo. Tua música única é a minha também e me põe a palmos de chão. Nas alturas! Mais perto do céu. Longe do não. Amor de medida rara. Sem vírgulas. É azul e está na cara. Sou ponto tão exclamativo ao teu lado. Sinto amizade. Um bem querer para sempre.


Desenho nesse escuro, discorro há horas. Nenhuma palavra é completa para dizer do meu intenso prazer em revelar esse fluxo... Quero escrever até enquanto rezo. E prezo porque não publico. Revejo teus beijos à porta da minha casa. Eles voltam e fixam-se em halo. Não deixaria você ir não fosse “está na hora de dormir”. Passaria a noite naquele mesmo abraço contigo. Fez-me existir. Teu perfume meu elixir. Tua ternura de amigo meu encarecido abrigo.
L&G.


Você, daí de tão longe, devolve em mim uma natureza viva e perdida. Como a terra devolvesse a si mesma o ar puro de antes, muito antes daqui... Vale de água limpa e campo verde em tarde cristalina. Porque há uma sinceridade real no silêncio. E há flores por vir. Uma floresta antiga de raízes profundas e tênues como uma teia. Você me devolve a mim mesma.


É improvável esperar qualquer tempo sem ouvir tua voz ou ver teus olhos. Contigo a noite não chega e é terno o dia. Não tenho medo. Habituo-me à luz que não se apaga. Nem para uma penumbra de quarto e de cores. Querer teu corpo ao lado do meu é perceber-me assim! Por mim apaixonada. Você faz isso comigo? É pergunta de amigo...

Sim. Gene como a própria fé. Zen como meu espírito. Percebo tanta fé em mim que não adormeço revendo teus beijos. Meus olhos brilham em faíscas ao pousar em você. É um pouso... Como uma criança diante da alegria de saber tocar um instrumento. Quase dissolvo. Brilho feita em duas moléculas. Viro água e escorro. Derreto como as asas de Ícaro em proximidade improvável do Sol. Sem qualquer máscara ou disfarce, minha tensão escapa entre os dedos e não faço mais segredo. Foi longa a espera.


Penso em você como quem tece uma manta de fios perfeitos. E se escrevo é porque explodo de alegria quando dedicas horas do dia e da noite a me provocar efeitos. Reencontro a tua gola de camisa azul clarinho nas alturas, os dedos compridos tão conhecidos. Decorei tudo. Cada detalhe. Tua boca e lábios em minha direção. Meu amor por você me leva às alturas e vou. Deixo ir. Encontro de corpos celestes. Força de atração que construiu em mim a trajetória elíptica. E quanto mais distância alcança o meu olhar, enxergo o que fui. Anos luz de história descrita no espaço. Aproximo momento de explosão criadora do universo.

Thursday, August 06, 2009

Lei Maria da Penha. Pequena a distância que separa o silêncio do cumprimento... Tênue e frágil em suas horas a rede que sustenta o elefante. Tal violência é latente e não se encerra o tempo de denunciá-la.

Wednesday, July 29, 2009

Ficou para nunca mais...



Ficou para nunca mais o filme que faríamos no bar Garagem. Ficou para nunca mais a imagem fumegante do seu dono abrindo a geladeira diante de um balcão escuro por sobre uma parede cheia de detalhes. Sim, a iluminação permitia confundir teto e chão com as paredes... De lá se desprendia como num espaço etério a foto do Papa João Paulo II, lembranças de um lugar e outro. Recordações para acender a memória. Isso hoje é tudo.

Tudo que restou do cenário dos que buscavam mais um pouco, um outro passo louco, numa noite que não fosse o Garagem já teria tido fim... Sua grande ventura foi transformar o dia em noite eterna que se misturava a um amanhecer que começava por assim dizer, quando sequer havia terminado...

Realizava assim em nós, recifenses de uma boemia lisa, a aventura de continuar existindo na beira rio que inventamos no nosso projeto de cidade. Cumplicidade. Poeticidade. Insanidade branda. E eternidade de todos nós, se fôssemos jovens. Teciamos ali em conversas mal ouvidas sensações que nem raízes em imaginário fértil.

Em pleno bairro da Torre, depois de resistir a todas as águas que passaram por baixo da ponte, o Garagem foi trator abaixo por decisão e ordem do nosso poder público. Não há manifesto que conserte. Nem concerto que revele a música que se construiu ali. As imagens de um Recife indie, underground, retrô, punk, hardcore ou apenas azul, de um bom blues ficou para nunca mais. Soterrado por leis, licenças de funcionamento e decisões. Representativas?

Não acontecerão nunca mais. Não bastou fazerem pouco do desejo de consumidores pagantes removidos de outras calçadas, longe dali. E os shows que aconteceriam? Os encontros e desencontros? Ali, não acontecerão nunca mais.

Ficou para nunca mais. E eu que neguei o pedido de Alice no país das maravilhas, em mais uma noite que começou e que naturalmente não terminaria, ao pé da indestrutível Ponte da Torre. A única que resistiu às dinamites. Como a ponte, a boemia em nós vai resistir.

E outros lugares como o Garagem surgiram em todas as partes. Embora aquele filme de um colorido obscurecido que faríamos ali, ficou para nunca mais.

Wednesday, July 22, 2009

Uma senhora foi esmagada por um ônibus no corredor da Boa Vista. Quantos não são esmagados todos os dias? E eu? Será que ainda estou viva?

O que ainda não foi esmagado em mim, na Boa Vista? Sei que estou viva porque ainda durmo e tomo muito café para continuar acordada...

Friday, July 17, 2009

Cartola de maçã (manteiga, açúcar e canela), pêra ao vinho (bebido no corpo dela)... sob alta pressão e cristalizada. Tal qual mulheres de areia. Sobre toalhas de linho.

Tornei-me matéria cristalina. De vidro. Em cenário de um tear matutino.

E por que tanta transparência? Quem aguenta tanta bebida? Quem consome tanta notícia? Porque não apresso mais a vida. Não é para ser assim... E não é discurso de Páscoa. É apenas um novo formato. Um novo embalo.

Basta que me entenda mais ... tranquila? Apenas "suavizar o rosto", Clarice. Vou nesse fio de novelo até me livrar do labirinto. Preciso de uma sinceridade branda, que nem sempre se diz em palavras suaves e bem escolhidas. Sim, há os que querem, precisam do grito!

Por outro lado, o que está aqui, se me enxergar mais permitida para o definitivo da vida, eu saberei por onde ir, que caminho seguir. Saber o que querer da vida e se ainda não for possível viver assim, como para o quê nasci, ao menos eu sei para o que não nasci. E que não preciso ter pressa. Tudo a seu tempo. Preciso mesmo é ser acertiva. E não dar ouvidos a essa vozinha insistente ordenando em mim instantes vagos, minutos inteiros de um mal querer sem fim.

O que é preciso e decisivo em minha vida é ser acertiva. Não correr como louca e atravessar tudo nessa pressa infinita. Sede tão louca de viver. É muito mais provável com a alma junto chegar aonde caminha meu querer mais profundo.

Alguma sorte, sim. Que a boa sorte me guie para esse lugar bom do desejo. Como aliás sempre fez comigo. Levar-me para um outro lugar do desejo que não está no vazio. Nem morre ao correspondê-lo em seu urgente pedido. Sendo acertiva me ligarei ao que é mesmo essencial em mim. Pensar bem menos na minha solidão. Se nunca incomodou antes, porque me transtornaria agora? Preciso sim é apagar as marcas da alma.

Eu que nem você e você, sou fruto, de Bullying. Mesmo que num privilégio de tardio. E quem não foi vítima disso ? Preciso é pensar em mim com mais esperança e considerar o nada que existe na opinão dos outros. Afinal, a opinião deles só interessa em parte, a parte que interessa...

Vou ver a vida com mais calma. Sim, corri tanto nos últimos tempos que tenho mesmo é que dar o tempo necessário para a alma chegar junto de novo. E será tudo novo de novo. Toda arte precisa da alma. Minha cria completa: "E toda alma precisa de arte. Para conseguir se expressar é preciso soltar...". Importante também é livrar-se das marcas. Crescer nos instantes em que ela, para se dizer assim, respira!

Para qualquer atuação, inclusive a mais honesta consigo mesmo, a alma tem que estar junto e respirando. Se não puder enxergar a minha como a levarei comigo? Levarei-a a lugar nenhum. Essa pressa para mim, agora é sinônimo de nada.

Feito copo vazio! E sem essa que fica cheio de ar... Não. É tudo que preciso. Digo não ao não de mim. Se não se parece comigo...é não e ponto.

E se beleza não põe mesa, minha querida vó Celina, conversa não enche barriga. Não a minha que sempre se ocupou de uma fome tão distinta. Nunca nunca mesmo comida ou bebida. Minha sede e fome de tanto frio sempre foi de livros. Ao ouvir dos homens o que ouvia, eu já não cria.

Alimento me do que é fruto de areia fina. Matéria polida. Feito animal marinho.

Estou cheia de uma alma que nunca mais será presa. Cristalina e com nenhuma pressa, que já caminha enquanto respira... Ah! Também sei sorrir. Repare, por trás desse cristal líquido, foi meu envelhcido - e tão pouco adocicado - vinho que te trouxe até aqui.

Saturday, July 11, 2009

"Liberdade é única! E exclusivamente ser do jeito que você é, deixar seu ser verdadeiro transbordar dentro de si é permitir que ele dirija suas ações. Um ser livre não prejudica ninguém porque tem noção da interdependência de todos os seres. Ele está conectado a tudo e a todos".

Fritjof Capra

Filosofia J.K. Rowling. Início de ciclo. Ano novo: mundo novo! Disciplina para ter poder. Ui. Sem essa de regimes absolutistas... Só a sabedoria faz avançar. O vício é a ignorância. A ignorância é o que alimenta o vício. É preciso saber mais. Mesmo que avance pouco. É um dia após o outro porque o tempo ensina. Melhor ainda se conseguir aprender algo novo a cada segundo. E é nisso que está a importância da liberdade única como define Capra. Não há prejuízo, apenas clareza dos sentimentos e desse ser verdadeiro que transborda. Aí as ações serão lúcidas e nos conectará a tudo e a todos.

E se a Liberdade é Azul, a Igualdade branca e a Fraternidade vermelha, a ação vem do laranja até o amarelo até a soma de tudo. Verde já será um caminho até o outro lado. Um soma, uma reflexão que mistura ação lúcida (de preferência uma após a outra) e a liberdade...

É difícil manter os sentidos despertos o tempo inteiro... Ainda mais no meio de quem fala tanta bobagem sem sequer saber o que está dizendo. E sensibilidade assim às palavras só afasta. Mas há nisso tudo a importância de pensar uma Ética e uma Estética para si mesmo. Por isso os filtros, os modos, os silêncios... E o vazio. O esvaziamento que vai se dando bem aos poucos e que provavelmente só avança aos poucos.

Do outro lado, o estado acordado permite não deixar para depois o que é preciso fazer agora! Aquilo que só estará presente no mesmo instante, caso contrário, um segundo depois, passou...

O próximo passo é compreender a construção desse novo ciclo, que é novo, de novo, e que tem raízes, se for construir a verdade, naquela essência transbordante do ser. Requer a interdependência. O movimento é sempre de vias múltiplas. Envolve mesmo tantas esferas e círculos na maioria das vezes desconcêntricos.

Essa interrelação tão presente na natureza e no cósmos funciona muito melhor com o que é espontâneo e mesmo natural. Mas nós o que fizemos? Esforços para uma busca em sentido contrário... Descêntricos são esses círculos, naturalmente.

Não vim dizer se é bom ou ruim. Entendemos primeiro apenas que era justo. Para minimizar sofrimentos e angústias inexplicáveis. Há várias faces, estágios, esferas, sintonias. Um sem fim de etapas e interrelações. ? Como se dá a mágica de encontrar chaves com asas por todas as partes, é a pergunta... Onde é esse lugar profundo onde acompanhado de dois ou mais amigos esse ser em formação encontra respostas para mistérios que estão em um tabuleiro de xadrez.

E essa pressão do papel de cada um, da missão a cumprir, do que vai definir sua existência está muito mais impregnado em nós e ditando nossos passos que pode supôr nossa medíocre inteligência humana.

Por isso se dá voltas e tudo parece um filme que está fora de sink. A imagem vai para um lado, o som para o outro. Fazemos coisas que não compreendemos muito menos sabemos explicar. E que nos atráem para um lugar que não estava nos planos... Desconhecemos em profundidade a estranha dissimilitude instaurada por nós mesmos. After that, we sink!

O que deflagra o poder de identificar esse incômodo desconhecimento de si mesmo é a outra pergunta. Como materializar as chaves que vão abrir as portas por esses novos e essenciais caminhos até você mesmo?

Não é simples, não é? Mais fácil - e isso é aparente - é acender alguma coisa que entorpeça você e o faça deixar passar... Só o tempo estará passando. Você apenas perdeu a velocidade de agir com lucidez e velocidade. Perdeu o movimento preciso do exato instante.

Friday, July 10, 2009

O vício só cai feito luva quando as mãos estão nuas e frias... Não há nenhuma aventura ou ventura nisso. Há pressa. A pressa que não dispõe o tempo. Tempo que não chega nunca. Vazio que não se encerra. É nesse vazio de uma noite fria e sem mãos (que dirá Lua!) que me abraço à esperança de um fio de hora. Não há agora mais urgente que o vazio. A ausência de um desejo criativo escava e ara a terra apenas para o espaço em branco. Reto, estreio e platão como um poço. Uma caverna.

Como uma linha que liga eu ponto a lugar nenhum e reescreve em alguns segundos de morte as lembranças que me trouxeram a este lugar incômodo e com gosto tão amargo. Se há morcegos à minha volto, não os noto.

Percebo tão somente o esvaziamento do meu tempo presente que avisto nenhum futuro. Presentes, confesso, estão os pensamentos obscurecidos pelo que não disse, pelo que não me permiti sentir. Fui como uma seta para lugar desconhecido e não objetivo. Afinal, num mundo de tanta fumaça e agentes poluentes parece sempre haver espaço para mais um desejo vaizio e tóxico.

Nunca fui dada a este universo sem a presença da luz. Não antes de me perder por passos tão autônomos. É evidente que foram também autômatos. Robóticos. "Precisa reacenter o fiozinho que lhe conectava a você". Alguém me diz com força e minha alma parece ter ouvidos moucos. Batata! Movimentos loucos... É certo que, não por acaso, tive a chance de conhecer pessoas por ser mesmo dada à sorte.

Preciso dizer que das vezes em que quase morri, vi muita luz ao redor. E deve ter sido impulso de quem se preparou para oferecer o peito, o calor dos braços e o colo ao filho que me resgatou. É verdade que houve um grito imperativo da anestesista (creiam, também madrinha de crisma!) dizendo repetidas vezes com força: "RESPIRE!". Posso dizer sem medo? Tudo isso que me trouxe de volta...

Não, não acredito em fantasmas. E sim na consciência construindo suas imagens. Havia correria na sala, isso eu vi. Mas seria incompleto não admitir: nem todas as imagens eram matéria. Criei holografias? Sim, sou suficientemente criativa e lúdica, sei disso. Além de idealizar muito. Só por isso vou recontar com detalhes e sem qualquer susto de reler e enxegar: que tolice!

Era um caminho branco da senhora Azul de braços tão abertos! Flutuava sobre o mar imenso, pleno e, insisto, de tanta luz e leveza que me deixaria para sempre na eternidade incompleta do parto. Nada do que vivi e vi com susto me atormentaria agora, é certo. Por outro lado, não teria o calor dessas memórias amorosas, das alegrias que tive e vivo ao lado dos filhos. É tanta e
tamanha a ternura. O reconhecimento que tenho, a admiração pela personalidade de um e de outro.

Me são os melhores companheiros de viagem. Divertidos e criativos. Acendo quando estão perto. É Registro: são convivas de um pensamento raro. Exercito, mesmo quando não posso, a atenção e o olhar com carinho porque primo pela mesma felicidade completa que não é descoberta recente.

Seria exagero dizer que em cada instante reservado às nossas brincadeiras com as palavras vivo particular aprendizado? Não se escuto histórias sobre seres velozes feitos de terra, ar, fogo e água. E os silêncios, então!? Sou grata. Devo estar apenas numa fadiga de quem subia o morro e ficou estagnada? Sem o tal fiozinho é bem provável! É que passo minutos concentrada em enxergar apenas as sementes ainda não germinadas espalhadas pelo chão. Os desenhos de folhas e gravetos largados dos galhos entre raízes mal arranjadas.

Uma noite de lua e estalo: olho para o céu estrelado. Sei que me repito, mas quem sabe descubro uma nebulosa ou desvendo cada tipo de nuvem dos dias chuvosos e dos ensolarados. O senhor Outono não me ocupa mais. Farei em breve chegar a Primavera e logo percebo com mais delicadeza as cores variadas do crepúsculo e dessa madrugada que não termina, mesmo em meu estado de alerta desacordado. Ainda posso ser-para-a-vida num simples acerto de contas com o meu ponto de vista e o meu modo. Ânimo minha alma. Ouça-me agora! É hora de voltar à superfície. Vida longa à descendência desse feminino que veio do sopro do barro. E aos seres imaginários. Aos autores que em suas obras completas assinaram juntos obra que fala de Abtu e Anet, da Salamandra, do A Bao A Qu, do Basilisco e das Garouas,

Sunday, July 05, 2009

slapt slapt slapt slapt

Barulho dos cascos no asfalto
Cavalos em disparada
Homens sem camisa sobre eles

Cavalgam?
Comem poeira?
Não, eles apenas
Têm pressa de chegar

Não querem suavizar o impacto
Não pensam no estouro que ouvem
Querem apenas romper o tempo

Desembestados pela via
Não enxergam, daquela altura,
Os sinais vermelhos

Eles querem mesmo assim dobrar-se
Para falar com suas mulheres
Nos orelhões à beira da estrada


Splash splash splash splash

Riscam as ferraduras sem piedade
Sobem soberbos morro acima

Impáfia neles é como cheiro
Do pêlo sobre a pele suada
Dos quadrúpedes que montam

Não, não conseguem ver a lua
Ou o sorriso das meninas
Vêem as saias bulindo
Das moças das casas
De luzes coloridas

Friday, July 03, 2009


Um amiga me escreve: que mistérios tem....? Sua frase me caiu também como um vestido azul. Tanto que me dei a observar a mim mesma, medindo cada uma de minhas reações após ler o seu bilhete. E lhe sou tão grata Jeane quanto você me é rara. Então, descobri um único mistério que ainda me intriga. A memória é meu grande mistério. Repito ainda incrédula. O perdão e o 'pouco caso' estão em mim numa simplicidade imediata! Do mesmo jeito que respiro. É natural e não demora mais que o movimento de inspirar e deixar o ar - rarefeito ou não - chegar aos pulmões. Já esquecer....




Sou obrigada por brincadeiras de muito mau gosto a trocar senhas, vez por outra. Isso é quase uma tragédia para quem não dispõe de boa memória. Mesmo não sendo o meu caso, me chateia. Um elefante, dois, três, quatro, cinco, seis... Quantos desses incômodos mamutes com seu modo ancestral andam à solta por aí, fazendo pirraça e querendo roer uma carcaça do que já se foi? Adianta a pergunta? Não, não adianta, nem move uma linha...



Pois bem, por essa rotina, com a qual até já estou adaptada, tive que reativar uma caixa postal que há muito muito muito tempo não abria. Estava ela lá, bonitinha que só vendo, com suas teias de aranhas e mais de dois mil e quinhentos e-mails quase apodrecidos.... Pena ter que olhar para o que já é passado! E num tempo tão veloz como este. Tão imediato! Tempo que me permite até acompanhar mesa de debates com Chico Buarque e Milton Hatoum no mesmo instante em que fazem suas leituras para a platéia presente na Flip... sou obrigada a rever a tão caixa postal.



Foi para mim uma tristeza confessa. Lá está - estava! já deletei - mais de cinquenta mensagens (vixe!) com nome de persona desagradável até mesmo para minha pessoa atual, dada ao futuro e linkada mesmo no novo - que diga-se de passagem, para mim sempre houve. Como para Shirley Temple ali estava o tempo todo o pássaro azul.





Bom, ainda assim, o tal sujeito ordinário (e não me interesso mesmo pelo seu gênero) tão presente quanto poça de lama e lixo pelas ruas dessa cidade já abaixo do nível do mar chamada Recife. Ah... afirmação assim só me faz lembrar como já vi mar tão azul e de água tão limpa!



Por Deus, amiga Jeane, meus mistérios são muitos. Alguns tão famosos e notórios outros completa e secretamente vividos. Mas este, que agora não é mais mistério algum, estava numa latência de querer uma desculpa que só precisou de uma frase para fazer seu movimento e saiu.



Aqui, quis lembrar as duas coisas juntas. Talvez por buscar no modo versado o caminho de perdoar a mim mesma. São tantos os episódios que vêm me remetendo a essa obscura passagem da minha história, que cometi tamanha espontaneidade de enquanto expurgava-o de uma vez por todas, lembrar que ainda sou dada a mistérios em tal medida. Tanto que uma amiga - mesmo que ainda um pouco distante - tão querida e conhecedora até mesmo dos mistérios de Clarice é capaz de colocar cores mais intensas neles.


São mesmo Jeane, muitos os nossos mistérios nessa vida. Bem sabemos... E um deles é perdoar sempre. O outro é esse aprendizado para conseguir - desse modo transverso - o caminho por onde escapar do labirinto e esquecer. O que aliás nem me resta mais. Falo do labirinto...
Mais mistérios irão me aborrecer nesta vida, eu sei! Nada parecido com o primeiro grande mistério de nascer em busca do ainda não se sabe exatamente o quê! Perto dessa imensidão de possibilidades, qualquer encontro com persona non grata tão emaranhada num episódio desagradável é pura nuvem...
Obscuros mesmos são os contornos que nós mesmas conseguimos imprimir. Quando na dúvida, reforçamos linhas que seriam invisíveis. Vide "a reinvenção das experiências pessoais na literatura", para citar o amigo Carpeggiani, de Catherine Millet e Sophie Calle. Por isso, o maior dos segredos é simples assim:
Nessa vida, o maior de todos os méritos é o silêncio. Ou ainda, o delicado esforço em dar voltas até revelá-los com delicadeza e mestria.

Thursday, July 02, 2009

Vou lhe contar como é meu jardim. De verdade, há apenas um grilo que 'toca' o tempo todo sua mesma canção. Não há plantas, mas tijolos e um telhado de zinco. Sim, passeio pelo corredor estreito e vejo apenas parafusos. Há também nuvens e prédios. Andares de outras construções vizinhas. E neles, vizinhos a mim, solitários mais que eu. Ou mais. Muito mais, do que quando estou com os meus filhos...


Há plantinhas aqui e ali, escondidas pelas estruturas de cimento e argamassa. E azulejos... Vermelhejos, rosalhejos... Como rosas sim, mas alheias a mim e ao ar que humanos como eu são obrigados, nesse mundo moderno, respirar.


Há janelas sim, e flores amarelas bem diferentes das rosas alheias. Nelas há besouros enormes, pretos como a noite sem lua. Aliás, à noite este jardim se transforma. No lugar de enxergar o zinco e os rejuntes, vejo estrelas. Pontinhos luminosos que mais parecem exemplares de meia noite e meio dia, iguaiszinhas àquelas que conheci na casa da minha avó. Era no bairro da Torre. Alto como tal e onde a água chegava em tempos de cheia...


Ali sentia tão absorta de um mundo ao redor que me parecia muito menos fraca que hoje, nesse cantinho de Casa Forte. Posso ainda dizer: com o qual sonhei com todas as minhas forças... O tempo espera só uma beirada de história para se desfazer como um pão de alfenim...



Neste lugar, não há área de serviço. Furto momentos de tempo no espaço comum, à distância dos filhos, para não obrigá-los ao pouco ar que respiro. Então, ali, em silêncio de oração, brinco com a esperança entre os dedos... Diz o Ministério da Saúde, que me levará à morte. O Ministério do mistério de mim mesma diz que essa esperança deve ter parentesco com a lebre.


Como todo jardim deve guardar lendas e mistérios, lembro do coelho e seu relógio. Lembro do menino do dedo verde e das joaninhas como eu. De Jó! Sim, paciência é a ciência de todo o tempo. Sentidos despertos. Porque espero, com pressa, o outono. Espero com a esperança nos dedos acelerar os ponteiros do relógio do coelho branco e chegar ao mês de outubro, com vida e livre da esperança de nome francês.

Tuesday, June 30, 2009

Sono dos Justos

Escrevo na esperança de que me compreenda por um choro justo e honesto como do capitão Lúcio, da Seleção Brasileira. O sono dos justos não deveria estar reservado apenas a estes. Como nenhuma justiça há no mundo... Tal qual antena, sintonizo o canal e sigo. Sem pausa. Repouso com um olho aberto e outro fechado. Um nos filhos, outro na estrada. Mas esse estado de alerta tem cansado um pouco... Não, não me queixo. O juízo está no lugar certo. Jamais desceu aos pés. Mas embora adormeça sem vontade de dormir, acordo sem vontade de levantar.

Será que alguma palavra me escapou na tradução?

Posso estar acordada para muitos sentimentos bons. O problema é que eles parecem parte de uma espécie de teia e interligam-se de modo a provocar a maior interferência. Esse mundo não justo. Não, novamente, não me queixo. O fato é que não posso usar aqui uma palavra simples como cadeia. Deve haver uma melhor. Teia ao menos traduz também a fragilidade e lembra sua origem de ter sido cuidadosamente estruturada por um inseto feminino.

Foi o que escapou... Nem esperança, nem formiga. È difícil aqui descender com todas as letras do tal bichinho... Aracnideamente estou tecedeira. E o pior disso tudo é que o espírito ainda me parece preso. Voltei ao pavilhão errado. Hall de palavras que desperta sentimentos nada positivos. Recupero. Revejo e reverso.

Vou tentar ser um pouco mais justa comigo: acordo e ando até a cozinha. Ligo a chama e espero a água ferver. Irei ao banheiro, farei o café e o estado autômato assenta em mim. Vestirei a roupa de baixo combinando com a de cima. E as peças de dentro com as que vão fora. Tal qual o lenço que me vai ao pescoço. Método ajuda e com o passar dos anos fui ficando cada vez mais craque nisso. Escolho sempre a cor pelo dia da semana. E tento colorir esse mundo. Nem sempre consigo fugir do preto, branco e cinza... Perfumo os tecidos! E a rotina.

Dias tecidos assim, automatamente. Porque se essa palavra não existe precisava ser inventada. Ouso assim. O estado autômato não tem parentesco com automático. Não, não me queixo, nem desafino. Só vou tecendo cada fiozinho de dia. À noite, não durmo. Não me queixo, mas também não durmo. Não é justo. Comigo não é justo.

O outro olho, afora o que mantenho sobre os filhos, está na estrada ainda naquele espírito. Um certo cansaço... Antes, quando a dor era tão grande, buscava uma palavra que me salvasse. Hoje busco imagens. Como quem quer se salvar e apenas dormir, olho fotos antigas e teço idéias novas. A música continua aqui, nunca se foi. As mesmas que faz anos tocam para me ninar. Sempre soube que seria assim. O estado de ser eu mesma é às vezes vazio e na maior parte cheio de mim.

Não quis usar um tom tão maior. É azul... C’est un blue ... Parte das cores que vou sempre escolher para mim. Combina comigo como pão e vinho. Café com tapioca ou almoço sem jantar num domingo. Sei que a espera não estava mais cabendo em mim. E tanta tristeza pelo que não tive a chance de ter não me faria mesmo feliz.

Por isso inventaram um gesto tão simples para ir lendo até concluir um livro. Virar a página e ver que as palavras empregadas aqui não andam em círculos. Cruzam-se aqui e ali, mas o pano de fundo será sempre dacordafelicidade. Tolamente vi que este estado lúdico e infantil mesmo, é muito mais justo comigo. Talvez agora eu durma.

www.interpoetica.com

Friday, June 19, 2009

quero escrever como quem dança

meu outro desejo é pintar uma tela



sentir a tinta fresca no corpo

pular sobre ela com os meus

olhos fixos no algodão branco


enxergo ali a cor de uma felicidade

uma alegria ainda pálida e nua

um acorde nunca antes tocado



despindo essa escolha sua e ainda muda

não abandono a idéia de acordar comigo

tendo apenas dormido diante da tela

até onde imagino, é uma chance única...

e não é mais uma espera pelo brilho em mim

é apenas uma certeza cega e desperta...



não vejo apenas

olhos de corvos

são penas de pavão!

Ainda que meu corpo não trema,

ponho pingos nos 'is'...

com um sorriso e humor fino


não há regogizo, eu sei

digo com uma sinceridade

solta e sem compromisso



porque já tive coragem

de recitar entre poetas

e descobrir sem susto


os mesmos versos antigos

de um tempo que foi sem mágoas

tempo em que quem me acompanhava

desfez das palavras de Antônio Maria

e deixou a mulher amada

Wednesday, June 17, 2009


Passinhos ligeiros e quem sabe chego a tempo

Quarta feira é o dia mais agitado da semana

Muito compromisso. Nenhum espaço na agenda

Soneto corrido, sem emenda.



O presente muda

a cada instante.

O futuro ganha

Em cada intento



Meu desejo

Sou eu

Ao natural



Só eu me entendo

E quanto menos invento

Mas sigo em frente

Se a felicidade

É a sequência de agoras

No mesmo instante

Compreendo



Nenhuma vaidade, saudade, medio cridade

Nada de orgulho, angústia ou aperreio

Ou crença pela metade.

Sunday, June 14, 2009


Estou numa disciplina de bailarina.
Parece até que ainda lembro...
Ou que aprendi minha lição.





Vou continuar atinado.
Tino tem a ver com destino?
É minha única oração. Vou indo...




Que céu azul! Depois de tanta chuva que boa oportunidade de ir à praia.... As flores miudinhas da janela, amarelas, quase que brilham atravessando a película escurecedora. Brasil ganhou ontem: 3x1. E hoje vai jogar de novo. Pipoca pronta. Cerveja e guaraná gelados. E almoço em família. Hoje me deixei numa escrita corrida. Não interrompo mais o ritmo, nem a respiração. Ainda faltou dizer do cantinho de entrada da porta que coincide com a cozinha americana a carteira de cigarro que agora encontro no bar central. Tanto carinho que precisava agradecer aqui. Não fosse a correspondência, estaria desguarnecida. E ao invés de recolhida, numa noite de Santo Antônio, caminhando pela noite do Recife.



Saturday, June 13, 2009

Por que vieram?
Não soube de motivo.
Sei que deve haver
Perfume?
Digo?

Por que na Primavera?
Porque não há explicação
O inverno é somente frio
E o calor vem com o verão.

Por que a menina dos 'porquês'
Virou a mulher de um Outono...?
Porque visitou cada estação
Sentiu amor, dor, alegria, solidão

Mas hoje apenas sopram no ouvido
Preferiu a proteção, uma redoma,
Um umbigo de vidro. Nem soma
Nem subtração. Talvez multiplique...

Uma janela e uma porta entreaberta.
Saindo sempre de todos os lugares
Fixando nenhuma de suas partes
Prefiriu estar certa a não ter razão.

Mas deve ser o nono (!) vento que percebo
Ando afinando também com os números?
Pois então é fim de um ciclo. O derradeiro?

Somente significa poder voltar à superfície
Trazendo flores e fartura em forma de trigo...
Vinho e quem sabe figos. Feijão e framboesa.
Me parece grande perigo sair daqui
Desse lugar tão escondido que eu inventei

Seu abrigo? Não, um torpor, uma pálida escuridão.
Mas em todo tempo cego sobram pontos de luz
Coragem não é apenas o nome do motor da emoção
É muito mais ainda: fazer com medo e ir seguindo

Ir em frente com alguma dúvida e tensão muda
E conseguir, sem tanta proteção, atravessar a linha
Entre o querer bem e razão de uma criatura distante

Mas se emprego um tom sincero não predominam
As costumeiras armadilhas do meu cérebro?

Procure entender o equilíbrio dessas duas forças
O encontro entre a constância e o sentimento
O que for predominante e inevitável, perceptível,
Aquilo que com toda força empregada ainda escapa

Mesmo com todo o esquema que cerca
Inventado como engrenagem para evitar
E diluir o mais sincero impulso criativo
Aquilo que surgiu bem no início
Ainda no princípio de tudo, é honesto.

Depois de atravessar as circunstâncias
Haverá ainda há muito o que afinar
Como um instrumento e seu uso
Permanente na sua forma de tocar

Percebo que causa tanta alegria
E também tanta dúvida e incerteza...
Sim, e nisso está todo o mistério
De um ser humano construído
E aquele inventado em seu tédio

Só mais uma pergunta:
Não sei nem mais o motivo de querer
Por que as palavras fluem
Assim feito água e há tanto pra dizer?

Parece que uma mão divina
Abre a torneira e a gente vai escrevendo
Sem nem perceber direito estou vendo
Sem assuntar, prevejo sentimento

Daí para que serve o registro
Nessa rotina de pensamentos mudos

Se a memória funciona tão pouco
Resta a esperança de um jeito torto
Quando a escolha foi por um modo
Meio louco de viver e mesmo que tarde

...Acho que deveria ter dito sem alarde...

Do sonho que tive
Na noite seguinte.
Ao (re) encontrar você
Sonhei com olhos lívidos
E ávidos por me dizer.

... Ah, e sobrancelhas arqueadas ...

A menor menção desse gesto possível
De um encontro em cenário já proibido
Deixou - me num misto de visão da realidade
E ternura com esse sonho e a natural libido.

Ah, querida Deusa Lilith,
Por que é tão precioso e bom
De tamanha emoção, nascer de você?
Mesmo tendo Gaia no nome

Confesso, sem nenhum pudor,
Sei exatamente o que não devo fazer.
Brincando. De poesia?

O vento corredor
Soprou mais ousado
Nessa manhã de sábado

Levantou brincando
Com mérito de ouro
De bailarino sorrindo
A minha roupa do couro

Soprou da varanda
Esse vento tão maneiro
Com jeito ligeiro chegou
Suave à porta da moça de saia

Como brincante eletrônico
Dançou com a roupa inteira
Sem atravessar a porta da sala

Brincante eu também faço
Pirueta leve com a palavra

Porque ventou ali no ouvido
No meu caminho de casa

Causou-me o maior espanto
O segredo que guardava

Brinca agora tua história
Por admiração que tenho
Pela rebeldia solidária
Brinca desse jeito menino
Com a minha disciplina e graça

(e agora até me abraças?....)

Friday, June 12, 2009

Recorro a Spinoza, tão holandês quanto meu bisavô, para compreender o que vem me escapando à realidade e à lembrança dela, ou seja (nada de cerveja), à minha história e memória.

Para ele, "a realidade é uma coisa muito mais vasta do que as categorias humanas de entendimento podem conhecer. Isso porque existe a essência. O povo que percebemos confunde o real com a razão, e o filósofo, numa postura investigativa, não pode se deixar enganar. O ente da razão não existe fora da mente".

Não. É na mente que construímos conceitos, impressões e memória. Ou apenas vagas lembranças... É nisto que estou pega desde bem cedo num bonito dia de Santo Antônio.

A história de um homem ou uma mulher só pode ser bem contada quando ele morre? E se nem para isso sua morte servir? Desculpem, vou tentar ser mais otimista. Mas, e se as impressões a meu respeito não forem justas, precisas...? Nossa, me enchi de perguntas a tarde toda!

Repassei com empenho cada centímetro da minha história recente e nem tão recente assim... E vou dizer que guardo algumas reações louváveis à minha presença. Confissões do espírito, impressões alegres da alma e até epifanias "minha poeta!". Pasmem. Mas algumas, confesso, me escapam na compreensão e fico supensa... De espanto! Com que espanto me vejo diante da vida. A minha vida, a minha rotina, a minha história.

Falava a mim mesma sobre o assunto no início da manhã. Qual foi a direção que escolhi e por que algumas vezes abri mão de decidir e fui me deixando levar...? Para onde estou indo, se é que ainda estou? Nossa, e nem foi Gil que fundiu minha cuca.

Nem toda surpresa desses dias é simples como um buquê de flores. Tem encanto. Todo encanto, mas a gente se assusta também, embora nessa vida haja tanta sorte. A minha certeza de sentimento é de que gostaria de ter capturado algumas que fiquei só assistindo. Vendo passar... E tudo é tão diferente quando é o tempo que passa. Tão curioso... Fiquei mesmo, curiosa. E buscadora. Investigadora da minha própria história. Espantoso! E feliz. Não posso deixar de dizer que me deixou com um sorriso de cantinhos de boca. E olhinhos espremidos ;)



Thursday, June 11, 2009

No cantinho ao lado do quarto encostei com vista para a janela meu sofá, que agora é branco. Branco como os outros móveis: da tevê, das roupas, do escritório, a palhinha das cadeiras (a mesa é de vidro)... e lá está em branco: a adega de vinhos. Brancos são o quadro de Rosinha, da série "as cidades" e daquela famosa fotografia de David Allen, uma homenagem às operárias queimadas. Chama-se Women on the Rise. Também a estante de livros, a torre de cds e as prateleiras, inclusive uma maior que ampara a outra janela onde estão porta retratos e o calendário, o de folhinhas prateadas...

Alguns detalhes são coloridos. Com uma rara predominância em celebração de azul. Uma ararinha de madeira, um oratório com Nossa Senhora da Conceição, minha Nossa Senhora azul, num chão de miçangas como o mar, azul! e a foto de uma grande diva... Em preto e branco são as xilografias que ganhei de Jota Borges, Antônio Filho e Dani Acioli.

Hoje falta um jardim, de inverno claro. Porque jardinzinho zen já faz tempo que eu tenho. Esse outro vai ter vasos branquinhos de cerâmica perfeita. E um aparador verde com jarrinhos verdes com salsa, coentro, cebolinha, hortelã, manjericão e outras folhinhas.

Mas voltando ao prateado, ele está na cozinha e deve ficar. Penso até em substituir o fogão por um top clean chef, porque cozinho pouco. Raramente ouso uma boa massa. É que depois da sanduicheira e forninho tudo ficou tão mais fácil!

A geladeira é uma relíquia: uma brastemp série prata, antiga como eu ... com um congelador enorme, ela toda tem quase dois metros de altura! E um pinguim lá no alto. Ah, ela é também uma espécie de vitrine para duas tops prateadas como os amuletos presente do Mestre Galdino.


Fácil compreendê-los. Muito mais que as manequins de meio corpo. (Escapou um sorriso), com toda graça são lembranças de um tempo de saraus com música e moda. Como a carranca e os quadros em preto, vermelho e amarelo. Lembram postais antigos. Na verdade são gravuras da Collezione Bellé Epóque, com senhorinhas num Caffé Espresso Servizio Istantaneo e una Distillerie Italiane Sezione Apparechi Milano Via Torino e Apparecchi a Gas D'Alcool, que avisa: Economia sul petrolio. É preciso dizer que chegando em casa numa quinta feira típica desta cidade que só sabe chover, ainda me chama a atenção a gravura com uma inesquecível bailarina. Garota propaganda mais antiga de uma cervejaria. Vez por outra vejo que ela dança sobre a torneira da pia de um fortíssimo jato d'água...


Wednesday, June 10, 2009

Meus queridos filhos,


Resolvi escrever essa carta porque percebo quanto ainda solenemente ignoram minhas palavras. Mesmo quando insisto por uma opinião mais firme ou dedicada lendo em antecedência estes textos aqui dispostos. Na melhor das hipóteses o que ouço é apenas um gutural "ahã"... Pois então, não importa o que estiver aqui publicado e mesmo que este também seja alvo de uma leitura tão carecida das impressões de vocês. Estou certa de que, somente muito depois virão atinar nisso. Se é que um dia há de acontecer tal casualidade...

Gostaria de transmitir esses pensamentos como as informações que repassei no DNA, tamanha a importância do que tenho para dizer agora. Mas sei que em convivência muito pouco de aprendizado mais profundo é capturado, por maior que seja o desejo de repassá-lo. Tudo ainda fica muito na superfície até a próxima geração. Mas aí vai: "Não dêem descanso para seus pés cansados. Nunca, jamais parem para um repouso debaixo de uma árvore frondosa. Nisso está todo o desperdício de tempo e juízo. Prejuízo. Mantenham-se no raciocínio do enorme prazer de superar limites. Como um atleta que consolida músculos lidando inclusive com a dor".

Não, não digo de brincadeira. Falo sério. Seríssimo! Este repouso por mais justo que lhes pareça e por mais carecidos que estejam, pode comprometer o bem estar de vocês. Não estejam em qualquer que seja a circunstância, desguarnecidos. O divino é testemunha desse receio que tanto ronda meus pensamentos. Sejam fortes e obstinados. Firmes, jamais cedam a uma conveniente e comovida entrega sob pretexto de ombro amigo. Afinal, quando o princípio é uma necessidade, fragilidade ou fraqueza, carência ou seja lá qual for o nome, não dêem ouvidos. Muito menos os braços.

Da mesma forma solene que conseguem ignorar meus apelos por alguma platéia. Enquanto isso, eu de minha parte, corresponderei com semelhante esforço e mudo-me.

Com ternura
Sua Mãe

Monday, June 08, 2009


Janelas da Alma


Descubro, com coração em festa, o espanto feliz de olhinhos bem abertos - e redondos como essa lua - ao me verem passar, na rua de casa. Taí um grande, o melhor termômetro para a tranquilidade da alma. O olhar de uma criança. Imagina fazendo em susto, expressão de celebração e alguma alegria...

Pronto! Ganhei uma vida inteira de lembranças de sorrisos e bracinhos abertos em minha direção, enquanto os peszinhos sacudiam sem parar. Como a gente guarda o que de realmente importante nos acontece. E como boas lembranças têm me libertado das não tão boas! Estou. Estou mesmo exclamativa de fazer rir. E não me interessam esses olhares mais cansados que o meu, sem nenhuma esperança. Não. Há tanta esperança em mim que reconheço e agora descubro que também sou reconhecida.

Corri tanto nessa vida que minha alma foi ficando para trás. E lembro-me do exato instante em que perdia os sentidos. Não adiantaria toda linha e esforços em costurá-la ao meu corpo pela ponta dos pés, como Peter Pan, com sua sombra. Escapava-me todo o mérito e fluxo de felicidade por feridas abertas por uma tristeza que estava muito bem escondida. Que bom. Já foi. Toda mágoa e ressentimento. Ainda tenho pressa, mas agora a alma caminha junto. Colou em mim e eu peço com voz firme: “nunca mais vá embora, por favor.”

Ver janelas abertas em minha direção, de uma alma tão terna como daquela menina que mora em minha rua é como esse espetáculo de lua cheia nascendo no vale onde morei e onde visito meus pais nos dias de hoje em domingos de festa. Aquelas janelas abertas me deixaram ver minha busca. E eu que saí para ver um divertido e importante jogo de vôlei...

Sim, a modalidade é a que mais admiro. Um jogo onde qualquer toque na rede é considerado invasão. E, principalmente, porque estam em campo os mesmos braços que um dia vi em minha direção. Querendo um abraço, um afago, um aconchego. Bracinhos daquela gente pequena que acolhi. Hoje tão compridos quanto os meus.

Como é importante não se apropriar da rotina e da vida dos outros. Já falei sobre minha solidão e meu reclame é para quem faz planos para os outros... Percebo que minha delicada força está em conter instintos e tenho me dedicado a esse autocontrole. Esse freio vai internalizando um querer que destinaríamos ao outro. E é a mais admirável força. Como de uma curiosa energia de perceber por trás de janelas tão miúdas como olhos de criança. Tão cativante quanto desenvolver a habilidade de encontrar medida exata e equilíbrio para não tocar a rede no momento de um ataque.

Estou satisfeita comigo. Diria ainda que fiz me feita! E não é minha a criativa invenção. Mas de um velho amigo. Alguém que morava naquele mesmo lugar onde a lua nasce bonita e onde visito meus pais em domingos de festa. Alguém que se queixou várias vezes da minha mania de querer todos os cachos de coco do coqueiro mais alto. E que num desses divertidos encontros em partidas do mesmo jogo aqui citado deixou escapar em transtorno de tanta alegria. “Tá faz te feito???”, repetia aos berros para meu tio de quase dois metros quando afinal conseguiu levantar bem a bola para que ele consolidasse a vitória do time. Contribuíra, de fato, com o último e decisivo ponto. A idéia que lhe ia à cabeça era perguntar se o craque varapau estava satisfeito. Pois é "que nem que" eu estou: faz te feita!

Friday, June 05, 2009

The girl with the pearl earings, Johannes Vermeer

Colar de Pérolas



Há tantas diferenças no mundo. Umas tão tristes e outras de particular encanto. Como entre um ponto de fusão e outro. Uma jóia rara gerada pela natureza e outra.

Em um ponto de ebulição e outro, explica-se. O mistério está na distância. A distância entre as partículas que formam as substâncias. À distância, a distância mensura e a distância varia. E é de acordo. Talvez não comum. O que aprendo a evitar.

Descubro, aos poucos, que a pergunta a ser feita é qual o estado das coisas. Se sólido as partículas estarão mais próximas. Muito mais entre si. E em constância de si mesmas.

No estado gasoso a escolha é por estar mais distante. No líquido, as partículas estão a um intervalo mediano, intermediário. É. São as forças de atração que mantêm as partículas, de qualquer substância, ligadas. Trocando informações. Fluidos...

O estado da substância é conseqüência das forças de atração que se formam entre elas. No sólido são maiores do que no líquido, desse amor que hoje se fala. Sim, são maiores do que no estado gasoso.

Quando material sólido é aquecido, é com intensidade que suas partículas começam a se movimentar. Intensamente. Dão vazão ao aquecimento. E, visivelmente, chegarão a superar as forças de atração que as mantêm juntas.

Quando essas forças são superadas, atinge-se a temperatura de fusão, e o que era sólido começa a derreter. Muda de estado. Passando para a condição de líquido. As partículas permanecem, geralmente, mais e mais afastadas. O que só continua o aquecimento.


E o movimento continua. As partículas passarão a se movimentar ainda mais intensamente, até romper as forças de atração que existem no estado líquido. Quando são vencidas, atinge-se o ponto de ebulição.

O que é liquido ferve e vai o estado gasoso. Lição simples não aquecer demais a relação dessas forças... Caso não queira atingir nada além do maior de todos os níveis de afastamento.

Mas, há a substância pura...
Há o elemento puro. Ele sofre pressão, mas não se altera (diriam: não passa recibo!). Quanto maiores são essas forças, mais próximos os átomos permanecem. Esse elemento conta com uma estrutura mais compacta e uma densidade maior.

Além disso, quanto maiores essas forças, maior é a temperatura necessária para separar os átomos. E isso significa dizer é preciso dizer que há diferentes pontos de fusão e de ebulição. E que são maiores, quando maior é a densidade. O que até faz sentido. Mas não justifica. Porque amor não é sólido porque é feito da mistura de matérias frágeis. Matéria humana.

Foram pontos negativos expurgados e aqui para sempre lembro que esqueci. Pontos superados. O superlativo da inferioridade explodiu e sobraram caquinhos invisíveis. Como o que espatifa vai para o fundo do mar. Aonde a frágil matéria humana não chegará mesmo com auxílio de matéria bruta. Nem é preciso dessa matéria para chorar seus mortos. São os intervalos vazios que trazem alguma consistência a essa fragilidade.

Hoje vejo pérolas quando acordo. Pressa nenhuma tem todo encanto... Há desejos bem mais antigos do que posso supor, mesmo à minha imaginação fértil, escapava. Como escapou! E como acolheu em seu manto esse grãozinho de areia fina que ouviu por aí que era capaz de ferir. Mais terna e suave que pude. E foi tanto o que acolhi e transformei por aí.

Que a natureza das coisas torne este presente tão contínuo quanto esta noite que está agora mesmo, aqui dentro, se misturando à minha matéria. Este brilho embranquecido feito leite em teu líquido. Aprenderei teu novo idioma, se for preciso. E descobrirei um mundo novo em bonito.

Saturday, May 30, 2009

Calendário


Um sopro levinho de vento paginou as folhinhas prateadas do calendário sobre a prateleira da sala, em frente à janela. Um sopro mais forte, vindo do norte, derrubou a estruturade papelão e couché cheia de fotos de lugares bonitos... Abriu-se no mês de maio como que para sempre. Dali desviei os olhos do romance policial de autora conhecida e enxerguei o que ainda não vira. Já passados vinte e sete dias do mês. Mania triste essa: esquecer de virar as folhinhas!

O dia 25 estava lá. Grifado com uma cor fluorescente. Há 69 anos, uma jovem de apenas 19 (ou 20, quem sabe?) via publicado no semanário carioca Pan, o seu primeiro conto. Era 25 de maio de 1940. Anos curiosos aqueles... E o editor e criador do semanário sabia disso. Italiano! José Scortecci. E foi a partir do dia 26 de dezembro de 1935. Aliás, sobre a revista, tanto se falou àquela época para o tão pouco que hoje se sabe.

Ignorância sobre uma editoria e uma imprensa livre que fez por outra obrigada seu guia a publicar esclarecimentos. Numa elegância também inovadora para o período. Vida a edição publicada em 19 de março de 1936, na qual Scortecci reafirmava: “Novamente nos vemos obrigados a declarar que a revista PAN é completamente independente; não pertence ela a nenhum partido político, não defende, nem ataca idéias de nenhuma índole”.

Com colaboradores como Silveira Bueno (com a coluna "Cartas de Amor" e o pseudônimo de Frei Francisco da Simplicidade e outra chamada "Lições de Português", também ia ar pela Rádio Difusora de São Paulo); o escritor de livros infantis Monteiro Lobato (nas páginas da revista um engajado na luta a favor da nacionalização do Petróleo); o escritor e poeta Menoti del Picchia, titular da seção “O Imperativo da Hora”, com comentários políticos e dos costumes da época.

Além de Benjamin Costallat, numa criativa e ousada investida escrevia sua ” Mademoiselle Cinema”, livro logo recolhido como pornográfico e escandaloso depois de vender 60 mil exemplares. "Sua verve ácida e ao mesmo tempo bem humorada, era a pena que melhor retratava, naquele tempo, as contradições da vida social e mundana do Rio de Janeiro" explica publicação "Amigos do Livro".

Com todos esses e outros mais, o neto de Scortecci, João Scortecci, que foi Diretor da União Brasileira de Escritores, vice presidente da Câmara Brasileira do Livro e conselheiro do Ministério da Cultura, hoja na CNIC (Câmara Nacional de Incentivo à Cultura), filho de Luiz Gonzaga, fã incondicional de coleções editoriais e dicionários e Nilce Scortecci apaixonada pelas obras completas de Carlos Lacerda sobre a publicação - de forma resumida - diz "que teve a honra de publicar o texto de estréia "triunfo" de Clarice Lispector".

O conto foi a primeira visão da expressiva escrita daquela jovem que por tantas vezes tentou implacar suas histórias que nunca começavam com "era uma vez" no Diário das Creanças, do Diário de Pernambuco. Ela que tantas vezes disfarçou a própria idade para ser aceita nesses lugares que, em propriedade, já estavam nela.

Confesso que minha extremada autocrítica ameçou não perdoar-me e entregar o texto, pelos dois dias de atraso. Não fosse aquele vento mais forte derrubando o calendário... Um outro lado meu insurgente argumenta enquanto escrevo essa última linha:"não pode ter se antecipado em um ano?". Outra mania que não gerou em mim, mas em minha entorpecida mãe queixumes dos quais minha memória auditiva tem registro desde a mais doce infância.

Sunday, May 17, 2009

Desde que estive pela última vez em mim, não havia mais pensado tão profundamente num desejo meu. Em querer e saciar um sentir por alguém. E mesmo com toda força do que sinto - e que me acompanha o dia inteiro - ainda faço questionamentos...
Um apaixonado não deve mesmo dar à dúvida o menor espaço. O que sei é que data de um período longo. Que senti por inteiro aos 14 anos de idade. E suspeitei no dia em que completava quase o dobro. Dalí o que me acontece é vir com mais força e nitidez, e não tenho mais a idade da razão. Nem leio mais Sartre, pelo amor de Deus.
E ainda por cima, estou plenamente ciente de que preciso encontrar n'outro universo o que naquele outro instante eu já nem tinha de bastante para conquistá-lo. E minha ternura travestida de insegurança se pergunta em tão alto e bom som que desafino:

Será que meu amor ...? Provavelmente. E estou cada vez mais certa que sim. E recuo. Porque não me interessa fazer planos pelo outro. Se não há em ambos o mesmo intento, de que adianta? Por outro lado, minha paixão e meus sentidos despertos por tua presença e ausência (apenas tua lembrança!) não deixam qualquer brecha para acordos ou entendimentos que não querer sentir e compreender mais um pouco você. Fico desentendente! se é que me entende...
Não promovo uma atitude ou conclusão em sentido contrário. Menos ainda o movimento de concordar ou aceitar quando diz: "eu não posso ficar com você".
...
Adianta perguntar por que não? Outro amor poderia ser a resposta. Afinal, quando a gente está apaixonada não consegue ficar com mais ninguém. Sei como é... é assim comigo também...
...
E esse amor agora ocupa todos os meus pensamentos. Meus significados. Só penso no teu cheiro e na textura da pele e dos cabelos. Gosto do tudo que vejo. E essa admiração vai crescendo de um modo! Quero tua presença e o ambiente não tem mais graça, brilho nem cor se não for contigo. O maior estremecimento. A melhor expressão, o melhor "texto", os melhores pensamentos e o melhor modo que conheci.



Definitivamente, estou num vazio do amor que sinto. Porque não é correspondido. E isso é muito incolor, insípido. Eu que sempre soube do sal do mar, passo em brancas nuvens. Fecho as janelas, não abro mais minha porta. Tento, como consolo, já que não me queres de presente num eterno aniversário de todoosdiasdoano, voar para o alto e enxergar o futuro em uma abóboda. Busco um teto de sabedoria. Telhado de biblioteca pública da big apple. Consolam os livros? não o meu sentido perdido. O minuto do dia de convívio que sonhei para mim.

- Meu desejo é igual a vinte leões rugindo. E eu, em verdade, sou apenas felina de pequeno porte, em cima do muro.

Tuesday, May 05, 2009

Dad I need some suggar in my boat...
Maybe I can fix things before I gone
I want some suggar in ny boat.
I want some suggar in my boat.

Maybe. Maybe
I can fix things
I can think in good things
Have good thoughts
Maybe I can have you
Thinking in me...

I want some off you thoughts
What you think is some suggar in my boat

Sunday, May 03, 2009


Será na próxima quarta-feira, dia 20 de maio, às 19 horas, na Livraria Cultura, bairro do Recife, um dos mais esperados lançamentos do ano literário em Pernambuco:


As filhas de Lilith, de Cida Pedrosa. Alguns poemas foram recitados durante a última Bienal Internacional do Livro de Pernambuco e em outros eventos, no Recife e no Interior do Estado.


Sua linha condutora é um abecedário feminino-poético com a qual Cida Pedrosa tece as histórias de 26 mulheres em seus modos de ser e viver. Num tempo e numa atmosfera ilustrados por Tereza Costa Rego em seus desenhos e pinturas. O livro editado pela Calibán ainda mereceu um tratamento gráfico inovador por Jaíne Cintra. Mais apresentações assinadas por Jussara Salazar, Heloísa Arcoverde e Micheliny Verunschk. Apoio: Sistema de Incentivo à Cultura do Governo do Estado - FUNCULTURA.

Serviço: Lançamento do livro As filhas de Lilith

Onde: Livraria Cultura, bairro do Recife

Quando: Quarta-feira, dia 20/05, às 19 horas


Nesta mesma noite em que será apresentado um recital do grupo Vozes Femininas, composto por Mariane Bigio, Silvana Menezes e Susana Morais.

Nota: As filhas de Lilith será lançado também em outras cidades de Pernambuco e já foi incluído na programação oficial para lançamento e leitura durante a OFF FLIP, que vai acontecer na cidade de Parati, no Rio de Janeiro, no próxmo mês de julho.

Histórico


Cida Pedrosa nasceu no Sertão de Pernambuco, em Bodocó. Celebra 30 anos de Literatura e militância da poesia. Edita em parceria com Sennor Ramos o maior portal de poesia com acervo pernambucano. A Interpoética. Tem quatro livros já publicados: Restos do fim (1982); O cavaleiro da epifania (1986); Cântaro (2000) e Gume (2005). Também faz parte do site escritorassuicidas. No trabalho de militância, destaque para sua participação na coordenação do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco.

Sunday, April 12, 2009

Alta costura e seus pontos: Fusão e de Ebulição profunda densidade...




uma xícara de café:
com fusão.
Pensei e penso
parece, mas não é
a primeira vez...
pela primeira vez
vejo matéria
desmaterializar
não são apenas
pensamentos
difusos
são maus pensamentos
porque difundir confunde
qualquer palavra infla
deforma e a confusão
ganha formas
e nada mais contorna
não pretendi enxergar
não ocorreu versar a vida
quis dar cores
concordar
ser simples
mas não é simples, não é?
não dá pra ser?
simples?
e pronto.
Nenhuma linha depois
nenhuma rinha
sem rimas nem poesia
confundem moralismo
quando só é preciso
dizer da amizade
quando houve,
se houve,
não ouviu o que disse.
Nem o que vem dizendo
não há ali qualquer traço
de autocrítica
haja culpa pra curar

Wednesday, March 18, 2009


Magnet

"First you have to become magnetic",

they say, and in no way apologetic

You´ve made your way

through his messy ways

so now take his sex,

time and brain

mercilessly



por Carol Flores

Monday, March 09, 2009


A influência no todo. A marca da parte. E o pedaço de carne. E o todo? Pecado tão tolo. Toma a parte do todo que você me tomou. É pouco. Se é. Não restou nada. Só ossos e dedos ruídos, pés esfolados nessa estrada. Mãos calejadas. É porque fui um tolo? Um monstro? Uma abstrata?


A influência da parte é o pedaço da marca e o pecado do tolo (toma uma parte do troco!)


Você me roubou pouco.... Não levou nada de mim, nenhum pedaço de ilusão, porque não tive alguma. Nenhuma sequer a verdade. Porque aqui só se paga com fé. É em dobro.

Thursday, February 26, 2009


Sim, alimento com pedras
Uma estrada de terra
Se antes não passava carro
Desse modo, pude torná-la
Transitável!


Caros Amigos,


Estou tão grata com o mundo. Talvez porque choveu e alguém me abriu o guarda-chuva e amanheceu soprando vento bom. Brisa do mar.Em geral, são passarinhos que me despertam. Ou ainda um beija-flor atrevido que faz toc-toc à minha janela, devagarzinho. Dessa vez foi sintonia fina de música ucraniana que me trouxe até aqui. Romeu do alto de pouco mais de meia dúzia de anos, sentenciou a única ausência da noite.


"Por que não tem telescópio? Luneta? Qualquer coisa para gente olhar mais de perto as estrelas?"Boa pergunta, Romeu.
Finalmente, entendi. Sempre estiveram todas ali. E eu sou apenas um planeta. Mesmo que tão cheio de vida e de gente. E tudo tornou-se possível. E fez-se bom tempo com o verbo.
"É triste a dor de partir e eu te direi boa noite até que seja dia", diria Romeu. Ou ainda: "Boa noite, boa noite, boa noite! A despedida é dor tão doce que ficarei aqui te dizendo boa noite até que seja dia".

Para que fosse completo, escaparia de seus lábios finos: "Estou ouvindo algo! Será o Rouxinol, o arauto da manhã, ou a cotovia? o certo é que vem amanhecendo o dia!"
Ou apenas: "Preciso que durma esta noite comigo."
Fiquei com a certeza de “filme” que eu desenhei em imagens coloridas e em preto e branco. De um guarda-chuva e suspensórios vermelhos. Chegou o arauto da manhã. E vou embora sem que me permita dizer. Ali esteve a manhã da criação. Num Carnaval.

Tuesday, January 20, 2009

porque sou a parte do todo que é tudo
vejo tudo da parte que importa
e que parte que palmo de chão e de mão
que faz parte de sintonia fina da música que crio
o que invento sou eu e é a parte que é íntima
toda parte é inteira se for sincera em sua arte
Etéria: Xilo de Dani Acioli, que foi parte dada de presente a mim


porque eu sou a parte do todo que é a parte que é minha. E sou eu. Sou muito muito muito eu mesma. Assim não há sombra nem dúvida. Não há como se confundir e errar caminhos. Toda parte é um todo em si mesma. E a parte que vejo melhor é cuidar de mim. É afinar com uma música própria, íntima que está em cada passo, palmo de chão e de mão que encontramos no caminho.




sou eu parte que é todo ouvidos e toda terna emoção de estar vivo!

Tudo está no pensamento. O instrumento já foi um pensamento. A arquitetura é a tessitura do ato de construir. Erga-se à vida!


sim... a vida pode ser filme!