Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Tuesday, May 29, 2012

Que verdade inventar?



É preciso maestria ao inventar uma verdade. Mesmo agora, que espero apenas reconhecer incompletudes do mundo, a verdade precisa ser completa e escolher para que lado vai caminhar. O mais preenchedor de todos, de preferência. Fico incomoda por demais quando sou dada a tolices, como desperdiçar o tempo na companhia de pessoas que não são de verdade. Aquelas que contentam com superfícialidades e querem tornar o mundo mais parecido com elas, porque não sabem nadar, não entendem de mergulhos e querem que a conversa se dê sempre no nível mais raso, porque temem se afogar. Não há nada mais mesquinho que querer tocar uma verdade apenas para torná-la uma mentira. Mesquinhez é sinônimo de desconfiança, sabia? Outra coisa que não tenho mais idade, nem paciência para lidar são as inversões. Prefiro as imersões.


Quando a  invenção é egoísta e precária não merece atenção. É tudo tão imediato e vai morrer, sucumbir tão rápido, que não vale a pena dar atenção. Ainda mais porque há outro fato que incomoda, como nota dissonante, soa falso. Tanto que promove um nervosismo de fazer rir. É vergonha alheia. Lamento, porque é triste dar ao trabalho tão grande de inventar uma verdade que não convence. Por outro lado, me pergunto o que é uma verdade completa e que faz bem? Onde está o contrário dos egoísmos tão visíveis, como impulsos naturais, animais. Como é que faz com arte a invenção de uma verdade completa, não apenas uma parte?

Monday, May 28, 2012


Salve Samuel

     Samuel está muito preocupado. Esteve insone durante toda a noite. Está cheio de conjecturas e preocupa-se muito com a paz mundial. Samuel gosta de falar em bravuras. É dado a bravatas. Brigas internas, no trabalho e em casa. Discutiu com toda a família. Nem com o pai ou a mãe mais fala. Mas ele está muito preocupado com a paz mundial.

     Samuel é um rapaz generoso. Pensa em todos. Preocupa-se com todos. E preventivamente se afasta quando julga que pode magoar alguém. Não gosta de ferir ou ser ferido. Por isso prefere uma distância regulamentar. Por segurança. E para não prejudicar ainda mais a frágil estrutura da paz mundial.

     Samuel é um moço bom e dedicado. Disciplinado. É capaz de estudar os mais difíceis pensadores para chegar a conclusões que ajudem a melhorar o mundo. Quer transformar a todo custo. E se empenha para entender o que ninguém ainda enxergou.


    É capaz de mover montanhas para salvar uma vila da enxurrada. Mas não levantará um dedo para resolver os próprios problemas como ter casa, comida e roupa lavada. Samuel sou eu em minha paz mundial.

Tuesday, May 22, 2012

Espectroscopia


Do ultravioleta ao infravermelho. Nem toda transferência de energia é cheia de força e cor. Há o momento de um filamento incolor. Ainda mais quando fragmentamos e foi exaustivo o dia. Nossa luz interna se modifica e na emissão ficamos de uma forma mais neutra, você entende? Talvez nem eu mesma entenda. Li e absorvi por aqui informações sobre espectroscopia. Sempre me intriga tanto o surgimento do arco-íris. Ainda mais imaginar que já desenvolvemos uma máquina capaz de encontrar o logaritmo de uma taxa que pode medir a quantidade de absorbância. A intensidade de um feixe e outro. E tantas outras coisas sobre a luz visível e os raios UV. Mas tudo não passa de uma troca não é mesmo? E da transformação das substâncias - às vezes apenas em suas superfícies - pela troca. 

Imagine que ainda trocamos sem nem perceber que estão ali outras microondas, raios x e gama, ondas de rádio e tevê. Claro, tem mais ainda o celular. Talvez, o mais importante da Espectroscopia seja perceber que alguns materiais são ultrapassados, outros modificam no contato e que para luz UV é preciso invólucro de quartzo, porque o vidro e o plástico modificam. Nunca gostei mesmo de plástico. Outra premissa, para entender essa carta, é que essa luz atravessa mundo e rompe distâncias infinitas. Talvez nem existam mais as estrelas que enxergamos hoje. O que importa é que elas estarão para sempre, de alguma forma, em nós. E que o essencial não é invisível a todos os olhos. Assim como já há como escolher da cartela de cores do infravermelho à ultravioleta. Não sou boa conselheira, como você. Mas sinto que perder a verdade em si mesmo é uma fragmentação dispensável. Talvez só para medir a intensidade, pode-se usar uma máquina, não um ser humano.

Agora que está nas alturas, a decolar, tudo parece um pouco triste. Estaremos mais distantes um do outro. Depois, quando voltar ao lugar, estará tudo de volta ao material de antes. De alguma forma, mesmo que modificado e buscando outra intensidade de energia. Então, esse momento nas alturas será o melhor de todos. Para perceber o que faz bem. O que dá sorte e o que nos recupera em essência, depois de tantas transformações e análises.


Monday, May 21, 2012

Mau humores. Assim como os rumores.
Começo de ano deixa mesmo este sentimento na gente: Um quê de quem avalia. Fecha para balanço. Olha em detalhes, vê em minúcias. Eu analiso. Foi um ano cheio. E promissor. Fiz tanta coisa. Tudo aquilo que decidi fazer. Porque a gente só realiza quando faz assim.
Muita coisa pode mudar em pouco tempo. O cheiro do café já não é mais o mesmo. Porque escolho o melhor pó do mercado. Como num ritual sagrado. Já plantei os grãos, colhi e torrei eu mesma. Café semeado para, depois de moído, ser torrado. O cheiro agora anima toda a vila, tempera minha vida. Acompanhando tapioca e  pão italiano assado. Bebo o preto das minhas lembranças.

Monday, May 14, 2012

Felicidade sem espera





"Se o filósofo puder optar entre uma verdade e uma felicidade - felizmente, o problema nem sempre se coloca nesses termos, só às vezes - ele só será filósofo, ou será digno de sê - lo, se optar pela verdade. Mais vale uma verdadeira tristeza do que uma falsa alegria."


A felicidade, desesperadamente
André Comte - Sponville

Leio há dez anos sobre a felicidade, o amor, a paixão, a filosofia e temas correlatos que interessam ao pensamento que busca respostas mais essenciais. Que, na minha opinião, é o justo o que alimenta mais no ser humano o seu espírito natural e divino. Esse substrato do pequeno livro da Martins Fontes sempre me intrigou um pouco. Por isso, talvez, precise reler em momentos diferentes da vida para entrar num acordo com um autor e comigo mesma.

Invariavelmente, o que ela provoca em mim, é um sentimento de que, não tenho tão fácil aceitação de uma tristeza, mesmo que ame a verdade, e conheça a transcendência alcançada com a mesma. O fato é que a falsa alegria está mesmo fora de cogitação, a ela tenho chamado de tolerância impraticável, porque só nos aproxima mesmo é do sofrimento, da subordinação a sentimentos tolos, difusos e que, em geral, serão nos cobrados depois tal qual um ato movido pela cegueira, pela burrice, ou por quem desconhece seus limites, e, como um infante, precisa se lançar no obscurecido pela necessidade de experimentar.

Acredito, com o tanto de reflexão que tenho empenhado ao confrontar esse pensamento com os sentimentos formados em mim, que acabo sempre envolvendo a esperança e o desejo de transformação da falsa alegria em alguma verdade, embora saiba da força dos fatos e das naturezas imutáveis. A minha natureza quer transformação. O que gera outro dilema: atinar para a valorização do desejo. Porque não há nada mais ingênuo que sobrepor a fantasia à realidade. Não se trata disso. Menos ainda de empregar inúmeros esforços para modificar ambientes com identidade distinta àquela projetada.

O que André Comte - Sponville chama de "felicidade malograda", ou "armadilhas da esperança", quando se está submetido ao desejo de felicidade como um enforcado. Usando para explicar com as palavras de Pascal que "todo homem busca a felicidade. Até mesmo o que vai se enforcar". Não se trata de subverter valores, como que dando ouvido às rebeldias, para encontrar explicação e motivação para aproximar tanto na falsa alegria quanto na vedadeira tristeza algum elemento que caracterize "uma sabedoria da felicidade, da ação e do amor". E estará mesmo apenas quando a felicidade for compreendida como meta da filosofia e não norma.

Precisamos ainda superar a sensação da dialética entre desejo e sofrimento, segundo Schopenhauer. Porque "quando desejo o que não tenho, é a falta, a frustração, o sofrimento. E quando o desejo é satisfeito, não é sofrimento, já que não há falta, embora não seja felicidade, uma vez que já não há desejo". É o tédio. Então, como que nos encaminhando para uma armadinha confeccionada com propriedade, nos dirigimos para a incompletude do vazio. O único modo de compreender e valorizar a alegria que está incompleta pela ausência de verdade é oferecer a ela os elementos para que transponha o lugar onde está.

Da mesma forma que compreender a tristeza vai exigir empenho de formação para aceitação prévia ou alguma compreensão do fato que vai aprisioná - lo porque gera a dor. Talvez seja necessário descobrir que não se alcançará a divindade ou a beatificação senão como os antigos deuses gregos, a exemplo de Hércules, Odisseu, Perseu. O bando de eus. O entorpecimento não está em questão aqui. Embora compreendido como bálsamo da vida moderna, não há, nessa consideração, abstração do que pode significar a inadequação dessas palavras enquanto relato significante da realidade. Já não quero mais falar tão a sério sobre o assunto. Apenas ler um pouco mais e seguir adiante.   

Saturday, May 12, 2012

O beija - flor voltou. Veio acompanhado agora. Não belisca mais o vidro da janela. Pousa na tela de proteção da varanda vizinha. Minha varanda não tem disso. Então, o beija - flor, enquanto brinca com seu amor, de soslaio me olha. No sítio vizinho, outro tipo de passarinho, bica um cacho de bananas amarelinhas.

Friday, May 11, 2012

Felicidade e Virtude

"Não há felicidade sem virtude"
Denis Diderot

"Gallione, irmão meu, todos os homens desejam a felicidade mas nenhum consegue perceber o que faz a vida tornar-se feliz. É meta tão difícil de conseguir que, em se tornando o caminho errado, quanto maior a pressa, maior a distância do objetivo. Quando o caminho conduz à direção diversa, a velocidade amplia a distância."

Cada gesto apressado nós afasta do rumo certo, no mínimo, cem metros. Como é delicado e como exige tanta atenção viver bem. E de bem, consigo mesmo. Como, na vida, tudo é tão precioso e merece que nossa ação seja cuidadosa e medida, pensada, em cada fração de segundo.

      Preciso nunca esquecer de inverter a lógica do espelho, que reflete sem pensar. A vida de quem é real é tão mais simples, que rezo todos os dias porque tive a chance de conhecer essa simplicidade. De conviver com ela e estar junto, lado a lado, circunstância a circunstância, todos os dias.

      Posso não parecer alguém feliz. Claro, sofri e sofro, de certo sofrerei desiluções nessa vida. Tenho, ainda, com todo esforço e dedicação, muita tristeza em mim. Mas, sim, estou sempre acordando um estado dessa simples e terna felicidade de uma vida normal e sem luxos. Algo que seja dacordafelicidade. Como alguém que observa e enxerga o real. Sendo uma pessoal real. No mundo.
Sorte ou Azar?

      A gente é capaz de tanta coisa difícil. Às vezes consegue star em dois lugares ao mesmo tempo, de algum modo. Mas, descobri hoje, um tanto triste, que não se pode ensinar certezas. Muito menos a quem quer aprender com a dúvida. Ainda mais quando a maior de todas as certezas é lidar justo com ela (ela mesma: a tal da dúvida), o tempo todo, uma vida inteira.

     Então, está combinado. A única coisa - de verdade - a fazer é estar certo de onde quer chegar. O caminho que quer seguir. Por alguma fé no que chamam de amor. Fazer uma escolha e apostar nela. Sem parar. Depositar no número preto ou vermelho, par ou ímpar, todas as fichas. Esperar a bolinha rodar, no girar da roleta, e cair. Independe qual seja o número? Tem que emanar boas energias. E creditar à sua aposta, toda fé que puder. Ter crença naquilo que está surgindo.

     Quem sabe a força do seu pensamento não é capaz de influenciar a bolinha. Vai que é isso que chamam de sorte. Vai que a vida se faz inteira assim: no pensamento. Que isso que a gente chama de coração está bem aqui, acima dos olhos, por baixo do couro cabeludo.

      E não é mesmo o cérebro quem guarda tudo? As experiências podem ser negativas ou positivas, depende do modo com que minha razão vai enxergá - las. A gente confunde sorte ou azar com a falta de vontade de ganhar.
Preciso um grito

       Algum grito que me erga. Logo, aconteça. O grito pelo fim de uma espera. Grito que desperte outros sentidos. Grito que acenda chamas e espante, como a mosquitos, qualquer ato mesquinho que me entristeça. A melhor condição de espera é a que não te adormeça. Não trave portas, pelo contrário, abra caminhos.

       Desempeça passagem do fluxo dos pensamentos, dos impulsos, em velocidade alfa, gama ou beta. Permita criar nova tragetória, lugar que esteve, todo esse tempo, à minha espera. Que não fora experimentado pelo bloqueio de um cérebro ou gasto em promessas.

      O que estimula o pensamento não é apenas o sentimento? A afirmação de si próprio? Não é apenas a força e o poder da experimentação do mundo? É aquilo que existe de inusitado em mime e é novo, qualquer que seja a sua direção.

      Está no mesmo caminho. Não evito mais a perda por outros medos como da solidão e do vazio. Preencho com minhas palavras, a página em branco e, logo, estarei bem diante dos olhos, como uma escrita natural em si mesma. Apenas por seguir o próprio fio.
Sobre a Felicidade

A Felicidade, segundo Robert Misrahi, é o questionamento mais original e mais concreto, mais vasto sobre os sentidos de orientação e significação. Também o questionamento de conteúdos que queremos dar às nossas vidas, às nossas existências. E isso é, precisamente, o que se chama de ética.

Aristóteles (384 - 322 a.C.) - filósofo grego, discípulo de Platão - dos grandes filósofos do mundo, criou a terminologia usada pela ciência e pela filosofia até os dias atuais: Ética. E fez a associação: "A Felicidade consiste em fazer o bem".

Por que fazer essa reflexão? Para que serve se perguntar sobre a ação e a existência de Ética?Ainda de acordo com Misrahi, primeiro porque é 'a própria liberdade de ação que justifica a interrogação sobre os fins da ação".

E, por conseguinte, a expresssão "futuro melhor". E explica seus efeitos práticos: "O que é concretamente almejado, através da idéia de uma vida melhor, é a experiência contínua de uma vida substancial".

O autor do livro "A Felicidade", acredita ainda que "essa experiência qualitativa implica ao mesmo tempo à densidade de um prazer espiritual e existencial e à transparência de uma consciência capaz de reflexão que se caracterize pela adesão à sua própria vida e às suas próprias escolhas".

E que, a experiência qualitativa, "que é a da plenitude e do sentido, perderia toda sua substancialidade, toda sua espessura existencial e dinâmica se ela fosse apenas passageira". A Felicidade, escreve ele, para merecer realmente esse nome, implica a duração e a permanência da experiência que a constituiu.

Essa experiência de ser não é a experiência mística de um ser transcendente que pudéssemos aprender na noite da inteligência e no êxtase da alma; ela não é a experiência do ser, mas sim a experiência de ser.

Good bye, Good  Mr. Autumn.