Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Monday, June 08, 2009


Janelas da Alma


Descubro, com coração em festa, o espanto feliz de olhinhos bem abertos - e redondos como essa lua - ao me verem passar, na rua de casa. Taí um grande, o melhor termômetro para a tranquilidade da alma. O olhar de uma criança. Imagina fazendo em susto, expressão de celebração e alguma alegria...

Pronto! Ganhei uma vida inteira de lembranças de sorrisos e bracinhos abertos em minha direção, enquanto os peszinhos sacudiam sem parar. Como a gente guarda o que de realmente importante nos acontece. E como boas lembranças têm me libertado das não tão boas! Estou. Estou mesmo exclamativa de fazer rir. E não me interessam esses olhares mais cansados que o meu, sem nenhuma esperança. Não. Há tanta esperança em mim que reconheço e agora descubro que também sou reconhecida.

Corri tanto nessa vida que minha alma foi ficando para trás. E lembro-me do exato instante em que perdia os sentidos. Não adiantaria toda linha e esforços em costurá-la ao meu corpo pela ponta dos pés, como Peter Pan, com sua sombra. Escapava-me todo o mérito e fluxo de felicidade por feridas abertas por uma tristeza que estava muito bem escondida. Que bom. Já foi. Toda mágoa e ressentimento. Ainda tenho pressa, mas agora a alma caminha junto. Colou em mim e eu peço com voz firme: “nunca mais vá embora, por favor.”

Ver janelas abertas em minha direção, de uma alma tão terna como daquela menina que mora em minha rua é como esse espetáculo de lua cheia nascendo no vale onde morei e onde visito meus pais nos dias de hoje em domingos de festa. Aquelas janelas abertas me deixaram ver minha busca. E eu que saí para ver um divertido e importante jogo de vôlei...

Sim, a modalidade é a que mais admiro. Um jogo onde qualquer toque na rede é considerado invasão. E, principalmente, porque estam em campo os mesmos braços que um dia vi em minha direção. Querendo um abraço, um afago, um aconchego. Bracinhos daquela gente pequena que acolhi. Hoje tão compridos quanto os meus.

Como é importante não se apropriar da rotina e da vida dos outros. Já falei sobre minha solidão e meu reclame é para quem faz planos para os outros... Percebo que minha delicada força está em conter instintos e tenho me dedicado a esse autocontrole. Esse freio vai internalizando um querer que destinaríamos ao outro. E é a mais admirável força. Como de uma curiosa energia de perceber por trás de janelas tão miúdas como olhos de criança. Tão cativante quanto desenvolver a habilidade de encontrar medida exata e equilíbrio para não tocar a rede no momento de um ataque.

Estou satisfeita comigo. Diria ainda que fiz me feita! E não é minha a criativa invenção. Mas de um velho amigo. Alguém que morava naquele mesmo lugar onde a lua nasce bonita e onde visito meus pais em domingos de festa. Alguém que se queixou várias vezes da minha mania de querer todos os cachos de coco do coqueiro mais alto. E que num desses divertidos encontros em partidas do mesmo jogo aqui citado deixou escapar em transtorno de tanta alegria. “Tá faz te feito???”, repetia aos berros para meu tio de quase dois metros quando afinal conseguiu levantar bem a bola para que ele consolidasse a vitória do time. Contribuíra, de fato, com o último e decisivo ponto. A idéia que lhe ia à cabeça era perguntar se o craque varapau estava satisfeito. Pois é "que nem que" eu estou: faz te feita!

1 comment:

Ely said...

Oi, Geo!

Adorei o texto.

Beijos,

Ely