Lugar da delicadeza com o outro e com a própria Liberdade.

Onde se está de acordo com o único modo do humano de ser feliz

Wednesday, June 25, 2008


há espaços que só bons amantes conquistam
silêncio.. toques quase mudos.

Veludo.

Pausas para os encontros.
E então, os corpos guardam da ausência, a presença do outro

Flor da pele.

O ritmo intenso "da vida"
O mudo propósito do trabalho

Há os que ainda cumprem missões...

Acreditam no que fazem
Realizam desejos pelo único
motivo de tê-los consigo
por mais tempo

Crêem naquilo que planejam

Eles têm fé no que fazem
E a certeza de chegar

Do destino, do lugar

Depois, repousam mansinho
onde uma brisa leve sopra no ouvido...
- Foi um suspiro!
(...)

Monday, June 23, 2008


No entanto, é preciso que a equação da conquista da felicidade se resolva, mesmo na sua impossibilidade e contradição. Pois se quando o é, passa no momento seguinte a desfazer - se em tédio (ou a projetar - se em outro desejo). E, portanto, não sendo mais satisfeita. E sim conquistada.

A Felicidade em Clarice Lispector (2004)

Sunday, June 15, 2008

Pe. Antônio Vieira

"Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: “O amor fino não busca causa nem fruto”. Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: o amor fino não há de ter por quê nem para quê. Se amo por que me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, como ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino".


da delicada e riquíssima convivência com o Prof. Lourival Holanda.
16 horas - em frente ao Maksoude Plaza. Até onde posso ir? Pra que tanta bagagem? Um café!!! sento observando o prédio. Quanta pompa. Baita "ostentação" diante de olhos tão carentes como os meus. Aqui, como pão a metro. Perfeito para horas de fome. E quilômetros de incerteza. Abuso na medida. É sempre assim. Difícil encontrar medida certa. Equilíbrio. (Já disse que na ponta de uma espada não dá, não tente, vá por mim...)



Vou pedindo desculpas. Morre-se assim a cada dia. Me sinto a pior das criaturas. Ou uma das mais "privilegiadas".

16 horas 20 minutos - chegou o ônibus. Preciso correr. Ninguém ajuda com os pacotes. Eu poste. Vou desequilibrar e cair. Preciso insistir com o bilheteiro: "Um mão?". "Não, obrigado. Não sou parte interessada"... "Tudo bem, tudo bem! Seguro para você essa caixinha de presente". Ele está certo. Três sacolas numa mão, uma mala enorme na outra. Quem mandou ser consumista & feminista?

16 horas 45 minutos - enfim, confortavelmente na poltrona. Tudo aqui é macio e "arcondicionado!". Me vem a cara do taxista, que pensou que eu era turista. Descolado, eu nunca pagaria pelo triplo, sem direito a tudo isso. Janelas maiores e o silêncio... Segurança na estrada.



A viagem vai durar uma hora. Se não houver engarrafamento. Nunca torci tanto por um. Daqueles de parar a via Dutra: 5 km. E lá estão os helicopteros das emissoras de tevê. Só sobrevoando. Mas não foi o que aconteceu. Durou menos de uma hora. Ensaiei uns cochilos. Como se olhos carecessem repouso diante de tanta imagem. Foram oito dias dormindo com buzinadas no juízo. Nada podia ser mais recompensador e tranqüilizante que a borrachinha da janela em atrito. Bom, fim da linha. De novo às malas...

17 horas e 20 minutos - o bilheteiro já me dirige a palavra. Pergunta o nome da companhia aérea. De repente está até curioso. Para que tanta informação? Sua desculpa é que cada porta ou terminal corresponde a uma porção delas. Que bom que me avisou antes.... Tudo bem, São Paulo é mesmo uma cidade grande. E o aeroporto tinha que ser enorme. (Só vamos combinar que "Passaredo" não soa bem em lugar algum).

17 horas e 40 minutos - descobri que cheking só se faz horas antes do vôo. E como são poucos. Vou ter que dormir com um olho aberto?

18 horas - Preciso ir ao banheiro e isso é para hoje! Cometo o pecado de entrar no que é reservado para pessoas com necessidades especiais. Por favor, dá um tempo. Essa sou eu. Eu mesma: "euzinha". Hoje eu estou assim, assim. É O ÚNICO LUGAR QUE DÁ PRA ENTRAR COM ESSA MALA!!! ah, que alívio...

18 horas e 20 minutos - alguém com tantos pacotes quanto eu. Confortavelmente sentado. Deve ser rei. Ou deputado. Consegue até ler esse "gênio"! Tá pesado. Talvez me sente ao lado dele... Dando início aos movimentos necessários, que antecedem uma boa leitura de aeroporto. Confiro as malas e pacotes. Estão firmes no carrinho. O mais próximo possível de mim. Tiro o livro de uma das sacolas, prendo a bolsa na cadeira. Mesmo sem um centavo. Ainda assim é uma alegria reencontrá-la. Fiquei até carinhosa, de repente, com ela. Resolvi abrí-la, olhar por dentro. Bater um papo. Ah, minha bolsa querida... Lá dentro vejo a pasta de dentes e a escova num estojinho. Tudo tão delicado. Graças a essa dupla amiga me livrei do gosto de presunto na boca. Pois é, creme dental é mesmo a solução. Vou olhando os outros elementos na sacolinha transparente de objetos de uso tão pessoal. Só carteira vazia me dá náusea.

18 horas e 39 minutos - Descubro esse bloquinho de anotações. Posso escrever por mais 24 horas. Visto uma blusa cor de prata. A caneta é de alumínio.

19 horas - o fluxo de pessoas é menor. Grupos de negros americanos. Mãe irlandesa com filhinho de uns 3 anos. Homens com a mão no bolso, pensando. Começa a missa das sete. Será que o pároco se incomoda que eu entre? "Não é lugar pra malas". Nunca imaginei que o reencontro com o divino seria num aeroporto.

19 horas e 05 minutos - por que essa voz no alto falante não para?

19 horas e 49 minutos - que bebê bonito. A família passa por mim com dois carrinhos. Na volta só vejo o bebê nos braços. Livraram-se das malas? Quem? Como? Quando? Onde? Nem preciso perguntar por que. Vou pelo caminho trilhado pela simpática grande família. Entrou com bagagens, saiu feliz sem elas. Eu nunca imaginaria. Eum estante com cara de companhia de ônibus. Não parecia serviço de guarda-volumes. Mas é. Que bom que inventaram o "malex".

20 horas - aqueles ali são de "países nórdicos".

20 horas e 08 minutos - portal aberto. Caixa eletrônico. Nada!. Nient! Nothing! Fora do ar. Não remédio que dê jeito numa dor de cabeça dessas. Quando vão inventar uma lei que garanta trabalho remunerado e livre do sistema bancário? É duro.

20 horas e 18 minutos - como tem gente de fora circulando por aqui.

20 horas e 33 minutos - um casal comprando souvenir.

20 horas e 45 minutos - fome começando a apertar. Dá-lhe pão a metro.

20 horas e 59 minutos - no final do corredor tem um restaurante chiquérrimo.

21 horas - melhor conhecer as instalações.

21 horas e 30 minutos - e duas revistas depois. Já sou figurinha conhecida por aqui.

21 horas e 45 minutos - na sala vizinha ao restaurante dá para dormir.

22 horas e 01 minuto - essa risadinha foi comigo...

22 horas e 16 minutos - seria muito pedir para fazerem silêncio.



22 horas e 56 minutos - meu Deus, eu só quero conseguir dormir.

-

05 horas e 17 minutos - acordei, acordei! significa que consegui: dacordafelicidade. Eu preferi estar de acordo! Que emoção. E lá se vão as horas, os dias, os anos. Agora só faltam mais doze...



6 horas - já tem gente na rede. Que bom inventaram Internet.

6 horas e 30 minutos - pausa para um café. Se o sistema eletrônico permitir.

6 horas e 45 minutos - No ar!!! ahhhh, não inventaram cheiro tão bom. Café, café, café!!! Toledo: tirei lição dessa marca. Tomo Santa Clara.

7 horas - pena que os paulistas não conhecem tapioca. Tudo bem, pão de queijo e croissant. Nunca mais pão a metro.

7 horas e 55 minutos - tem um garoto que também durmiu nessa salinha.

8 horas e 10 minutos - fiz meu primeiro amigo na viagem. Paulista sabe ser correto. E frio. Não sei por que, mas gosto muito disso. Em Brasília, foi só o que ouvi. De São Paulo? No espelho, uma elegância paulista.

8 horas e 23 minutos - ganhei minha primeira caixa postal gratuita: georgia_alves@yahoo.com.br. À Rafael Giuliano Leite. Professor de linguagem de surdos mudos.
9 horas e 9 minutos - mais um portal. Atravessei!


(24 horas no Aeroporto Internacional de Garulhos, Cumbica)

- inaugurado em 20 de janeiro de 1985

- primeiro vôo: Boeing 747 da Varing, Vindo de Nova York. Depois um Air bus A-300 da Vasp, so com autoridades do Aeroporto de Congonhas

- responsável pro 30% do tráfico aérea do país

- mais de 171.000 movimentos de aeronaves

- 14 milhões de metros quadrados, 5 milhões de área urbanizada

- duas pistas paralelas para pousos e decolagem

- uma com 3 km de extensão outra 3,7 km

- outra auxiliar com 2 km

- dois terminais: número 1: 75 mil m2. Terminal número 2: 80 mil metros quadrados.

- atividades operacionais: 25 horas por dia

- 44 companhias

- Em 22 anos de existência calculou-se que:

"222,3 milhões de pessoas embarcaram e desembarcaram pelos terminais de passageiros, através de 2,9 milhões de operações de pousos e decolagens que transportaram cerca de 6,9 milhões de toneladas de cargas."

Thursday, June 12, 2008

time



17 hours
25 minutes

time to think?


so you forgot...

to rew or fast forward
life is black & white


















(so much self sure
and you'll never know
what is happen to
an another universe)












thanks Edgar Souza

Wednesday, June 11, 2008


- um chopp?

- não bebo senão entre amigos...

- sou um amigo desconhecido, não serve?

- não para uma bebida descomprometida. Poderia aproveitar a viagem e dar uma boa impressão...

- seria muito egoísmo meu!

- impressão sobre quem não conheceu...

com meus agradecimentos à grafar@gmail.com (grafistas associados do Rio Grande do Sul)
(com fotos de Susana Rocha)

Gilles Deleuze - gracinha de pensador francês - e seu conceito de felicidade (Erva e água clara) me fazem lembrar do tempo em que o silêncio me incomodava. Adolescente, morando em Aldeia, num sítiozinho, cansei de percebê-lo partido apenas pelo criquilhar das cigarras...

Hoje percebo como "não o silêncio não me incomoda mais". Embora nem ele salve - as palavras, já mencionei, há muito não me salvam mais. O silêncio ainda é um dos lugares mais aconchegantes e confortáveis que já conheci. E para mim, muitas vezes, tudo se resume ao lugar. Minha ode ao silêncio do que fiz ou nunca ousei. Meu pedido silencioso e explícito de que repitam em coro versos de Paulinho da Viola, por toda a minha vida:

Quem sabe de tudo, não fale
Quem não sabe nada, se cale
(Se for preciso eu repito, repito, repito, repito...)

Não falem por aí, do que não sabem
Não digam do que não é sua vida
Não cometam a tamanha indelicadeza e deselegância
Por que querer encerrar uma pessoa tão possível em defeitos
Quanto em suas qualidades, em palavras hipócritas, burras, cegas, surdas, próprias???

- sim, porque só se pode falar do seu próprio caráter - não há profundidade na sua fala cara-pálida. Não pode haver em tamanha superficialidade qualquer chance de parecer científico ou de simples precisão.

Ninguém, eu disse ninguém, pode ousar uma definição sobra a vida de outra pessoa ou opinião que seja sobre quem não conviveu, trocou palavras sequer! como pode emitir parecer se nem conhece?

Que dirá falar da vida que essa pessoa leva, das possibilidades que criou ou não criou, das tolices que cometeu e somente ela mesma pode compreender como tolice, burrice, idiotice, canalhice, insandice, visse, visse, visse, visse, visse...

Que vício terrível esse de quem não tem o que fazer e resolver falar do fazer alheio. Que extrema e terrível necessidade de xingar o jeito de ser do outro. Que ouvidos moucos, moucos. Quem são afinal, os seres humanos loucos, loucos...

É sim, a opinião dos outros importa em parte, só a parte que interessa. Porque ninguém tem - em geral - nada de bom ou novo a dizer. São as mesmas falas repetidas de descrédito na polícia, medo da violência, ou das injustiças com seu time. Pior, quando não escolhem um caso escabroso - o que acontece vez por outra - para aterrorizar sentimentos tão frágeis e delicados como laços de companheirismo, amizade, amor, família... Por que será que não se cansam dessa mesma tecla onde está escrito "boicote"? Ou "sabote"? Ou "fricote"?


Difícil. Vou dizer, difícil. Algo mesmo novo e diferente. Suave, positivo, real, interessante, amistoso, condizente... para usar no final uma palavra incompleta. Sim, sim. Tenho todo interesse no novo, no que é lúdico, no belo, no detalhe, no curioso, no que é "excelente" por natureza como a própria natureza ou o silêncio.



Nem sei mais porque escrevo se não sinto o mesmo peso da alma na palavra. Eu falei peso? era para ser de uma imensa leveza esse novo milênio, Calvino...










É somente um instante o que me acolhe em teu guarda-chuva, Bataille. Nem vejo nada mais necessário, mais vital do que isso que é tão simples.



Alguém apague a luz, eu devo estar acordando... Ou então, onde foi parar a Harmonia? por que tudo é tão "produzido", "reproduzido", "induzido"...? Quem sabe me salve "uma narrativa"! Quem sabe me interesse uma corpoeticidade mais descomplicada e ainda assim comprometida. Não desconfio de mais nada. Não tenho tempo a perder com isso. Apenas sei o que não é. Ah, disso eu sei. Pena é perceber como se perdem por um simples viés. Um fio seria capaz de derrotar o Minotauro. Perdeu-se, o fio de lã, o viés. Não verá mais...

Interessa-me mesmo é voltar a Deleuze e seu significado da liberdade (ou escrevi "felicidade"?) diz um amigo meu que se aproxima muito do significado original do termo: a palavra prya, do sânscrito!. Significa aquilo que se ama e que dá prazer e alegria. Que inspirou a origem da palavra "liberdade" em inglês: "free". Prya é muito mais do que se libertar de alguma coisa, como espera ou cabe no termo latino. É, simplesmente, ser feliz!

Friday, June 06, 2008

Tenho ouvido muito, ultimamente, as pessoas dizerem: "eu preciso de dinheiro!". Bom, quem não precisa num mundo capitalista? Todos nós precisamos de dinheiro. O segredo, talvez - desse assunto entendo eu pouco -, esteja no caminho encontrado para "atrair" dinheiro. E dedicar parte expressiva do seu tempo para isso. Depois, de preferência, fazê-lo circular...



Eu - de minha parte - vou contar o que se passa comigo. Na hora de dizer um desses "desabafos", do rosto molhado, da água salgada brotando não sei de onde, concentrei toda energia de vida numa frase diferente. A vontade era outra. Olhei bem pro alto, onde supomos estar o sr. Divino, com alguma força que o espaço amplo, verde e livre desse campus permitiu, gritei como que para fora e para dentro, de um jeito que só desse para ouvir lá de cima: "Eu preciso de um abraço".

























Funciona quando se tem amigos. Ganhei logo dois abraços de duas grandes amigas. Mais um abraço, mesmo que à distância, de uma outra, amiga das antigas. Um abraço longo de uma tia. Outro, de outra. E fui indo de abraço em abraço, até de um "ex-companheiro" a palavra bem dita virou abraço simbólico, aquela "força" que a gente precisa. Ainda tive a chance de descobrir que os bracinhos em crescimento que tenho ao meu lado, na caminhada por essa estrada, além do afeto e do carinho, são capazes de instantes de extrema criatividade que são desses abraços que resgatam a gente, colocando no lugar certo.



E mais, ainda fui surpreendida porque o efeito desse grito seco reservou para mim dois braços fortes, prontos para um abraço de amor...



Claro que não consigo - ainda - pagar as contas. Ou tive a chance de pagar minhas dívidas. Quando o assunto é dinheiro há momentos em que parece impossível simplificar ou entrar num acordo, que dirá num entendimento de abraço... Os bancos precisam de dinheiro, os locatários precisam de dinheiro, os supermercados precisam de dinheiro, as construtoras precisam de dinheiro, os condomínios precisam de dinheiro. Só os trabalhadores não precisam o valor de seu trabalho. Por este motivo, têm cada vez menos chance do acesso ao "dinheiro de verdade". Dinheiro para um bom plano de saúde, uma moto, um carro. Um casa... livros, discos, uma ou outra viagem. Qualidade de vida, melhorias, bens materiais... que dirá um trabalhador autônomo, que é isento até mesmo do imposto de renda. Sim, porque não há sequer ganho de uma renda suficiente para isso! Paciência.

É uma equação impossível. Para mim, pelo menos, tem parecido. Se eu tivesse aprendido matemática ao invés da parte mais filosófica da vida... Dizem, que sempre é tempo de aprender algo novo. Concordo. E estou disposta a começar por uma estrada nova. Mas tem um "quesito" que - pressinto - jamais vou abrir mão: Esse primeiro passo pode vir logo depois de um abraço?

Wednesday, June 04, 2008

A estrada se desloca
A linguagem é a estrada
Escolha de Mia Couto
Mimetiza ... na guerra
Prezo e rezo, dedo solto
olho na tabuada
Mia Couto, em Terra Sonâmbula:

- Lhe vou confessar miúdo. Eu sei que é verdade: não somos nós que estamos a andar. É a estrada.
- Isso eu disse desde há muito tempo.
- Você disse, não. Eu é que digo.

E Tuahir revela: de todas as vezes que ele lhe guiara pelos caminhos era só fingimento. Porque nenhuma das vezes que saíram pelos matos eles se tinham afastado por reais distâncias
- Sempre estávamos aqui pertinho, a reduzidos metros.

(Cap: O SUSPIRO DOS COMBOIOS)

à família.

Tuesday, June 03, 2008

Deserto

se sou terra
onde estão
minhas raízes?

não, não sou árida
apenas me movo
muito
Em Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, Lóri descobre com Ulisses que mesmo quando o Amor lembre nossa morte ou quando não estamos bem, o Amor é também Apesar de:

- Não poderei ir, Ulisses, não estou bem.

Houve uma pausa. Ele afinal perguntou:

- É fisicamente que você não está bem?

Ela respondeu que não tinha nada de físico. Então ele disse:

- Lóri, disse Ulisses, e de repente pareceu grave embora falasse tranqüilo, Lóri: uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. “Mas quero inteira, com a alma também”.